A A RTE S E M H I STÓ R I A
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obstáculos e discriminações relativos às mulheres artistas começaram
a ocupar a esfera de um debate público, exposto em livros e periódicos,
em textos individuais ou petições colectivas. Assim, foi nesta altura
que a questão do nu se tornou central a este mesmo debate, sendo
usada quer por aqueles que invocavam razões morais para a não-pre-
sença de mulheres nas escolas ou
ateliers, quer por aqueles que consi-
deravam que o desenvolvimento artístico das mulheres, assim como a
sua profissionalização, estavam dependentes do acesso ao estudo do
nu. Foram várias as escolas de belas-artes que citaram a questão do
nu como razão para não aceitarem mulheres entre os seus alunos
41
,
enquanto outras escolas privadas, como a
Académie Julian parisiense,
fizeram do modelo desnudo para mulheres artistas precisamente a sua
mais-valia em relação à principal escola de belas-artes da cidade.
Estudantes femininas numa aula de desenho com modelo ao vivo.
Fotografia de c. 1900,
Herkomer
Art School, Bushey, Hertfordshire, Reino Unido.
41.
Enquanto os homens artistas tinham acesso
ao nu masculino e feminino
nas
escolas de belas-artes, às suas congéneres
femininas, em muitos países
ou cidades, não era possível sequer aceder à visão
de um corpo do mesmo
sexo. Alguns
aspectos deste debate, como aqueles que discutem a relação das
mulheres
com o corpo humano, podem ser
comparados com o ensino da
medicina no século XIX.
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Além de apontar os entraves à criatividade feminina, Nochlin
também chama a atenção para a inexistência de condições favoráveis
à descoberta da vocação artística das mulheres. A análise do papel da
educação artística no desenvolvimento do talento e na identificação
dos factores que levam a que um objecto seja considerado “arte” e
uma pessoa seja considerada “artista” vêm desmentir a ideia de que o
talento vem sempre ao de cima, independentemente das condições
que o possam favorecer. Se é certo que uma enorme percentagem de
homens artistas provém de uma família de artistas ou de um meio
artístico, em relação às mulheres artistas isto é quase uma regra. De
facto, não é por acaso que, desde o século XIII e até recentemente,
a tipologia de mulher-artista-filha-de-pai-artista, ou então filha de
um pai especialmente empenhado na sua educação, tenha assumido
um padrão tão persistente
42
. Como também não é por acaso, sem-
pre segundo Nochlin, que, ao longo dos séculos, existam tão poucos
artistas, mulheres ou homens, entre a aristocracia, embora tenham
sido tantos os aristocratas a desempenhar papéis fundamentais no
encorajamento e na concretização da prática artística. Outro dos
obstáculos discutidos por Nochlin é o da identificação da mulher
pintora com a pintora-amadora, que tem no desenho ou na pintura
uma das marcas da sua distinção social.
Todas estas questões resultam de uma mudança do ponto de
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