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as mais tradicionais formas de representação das mulheres – a mulher
sexualizada pintada, filmada ou fotografada por um homem. Neste
essencialismo, tende-se a privilegiar uma única imagem e acaba por
se excluir a diversidade e a pluralidade de representações. A análise
crítica das representações de mulheres em formas visuais, artísticas
ou não, tem sido uma das vertentes de uma abordagem feminista da
história da arte das últimas décadas. Num exercício de desconstrução
do binómio homem-observador/mulher-observada – tão hegemó-
nico na arte elitista e minoritária como na cultura visual popular e
maioritária –, esta crítica veio demonstrar como, no que se refere às
representações de mulheres, existem muitos paralelismos entre a arte
e outras formas de cultura visual como a publicidade, a televisão ou
a ilustração
10
. Outra questão aqui analisada é a forma como, a partir
dos anos 60, muitas mulheres artistas vieram redefinir e reapropriar-se
dos “vocabulários formais através dos quais a sexualidade e a expe-
riência feminina tinham sido historicamente delineadas e circunscri-
tas”, usando-se a si próprias e usando o seu corpo e a sua sexualidade
enquanto objecto de pesquisa artística
11
.
Se no passado as exclusões eram mais fáceis de identificar, no
presente elas são mais subtis. E, mesmo quando uma análise as torna
evidentes, é mais difícil explicá-las ou encontrar razões objectivas para
a sua existência. Deste modo, no último capítulo –
Pensar o presen-
te: entre as diferenças nacionais e a globalização dos feminismos –, irei
concentrar-me precisamente em algumas das questões colocadas pela
contemporaneidade de um mundo onde os obstáculos ao desenvolvi-
mento da prática artística feminina são de natureza mais imperceptível
e inconsciente. Para contrariar uma certa tendência para considerar o
campo artístico ou literário como um mundo-à-parte, senão mesmo
transgressivo e questionador das normas socialmente vigentes, pro-
curei fazer comparações com outros contextos. E as conclusões são
previsíveis. No que se refere ao lugar das mulheres e aos equilíbrios
de género, o campo artístico pode ser tão “tradicional”, ou seja, tão pa-
triarcal, como muitas outras áreas
da sociedade, da política à religião.
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