233
ecológica. Uma consciência feminista leva aqueles que escolhem a
pensar o mérito e a qualidade
sem os preconceitos que ainda levam a
escolher uma maioria masculina, mesmo em áreas onde o argumento
da quantidade já não pode ser invocado. Enquanto aqueles que defi-
nem o que é a qualidade artística através das suas escolhas não forem
conscientes de que “qualidade” é um critério determinado por signi-
ficantes mutáveis historicamente, onde também se podem encontrar
preconceitos de género, de que eles próprios são também agentes, a
“qualidade” continuará a ser usada acriticamente para justificar a au-
sência de mulheres. Um dos caminhos para uma mudança nesta des-
proporção é, sem dúvida, sensibilizar a consciência de quem escolhe.
Mas, como tem sido muito estudado pelas ciências sociais e humanas,
tudo aquilo que implique uma mudança dos nossos hábitos, da nossa
forma de pensar e de agir quotidianamente, ou uma dificuldade acres-
cida àquilo que fazemos automaticamente, gera resistências. A mu-
dança implica parar e questionar, implica uma atitude proactiva que
se pode tornar mais um obstáculo, a juntar aos muitos que a simples
vivência da “normalidade” já proporciona.
Claro que poderemos afirmar que as construções da história ou
da história da arte implicam sempre a escolha de alguns e o esque-
cimento de outros, escolhas estas que estão sujeitas a critérios sub-
jectivos e vão sendo revistas pelo contínuo fazer da própria história.
E, aqui, poder-se-ia argumentar, também foram muitos os homens
artistas que, esquecidos durante muito tempo, foram mais tarde recu-
perados (Caravaggio, por exemplo). Mas a questão fundamental não é
a das exclusões que tanto podem afectar homens como mulheres, mas
sim o facto de o género ser determinante neste processo. Enquanto
muitos homens e mulheres artistas podem não fazer parte do câno-
ne da história da arte por razões de outra ordem,
só a apreciação do
trabalho das mulheres artistas é que está condicionada pelo facto de
serem mulheres. Ou seja, um homem pode ser esquecido por muitos
motivos, mas nunca por ser “homem”, enquanto, ao ser generalizada,
a ausência de mulheres artistas na historiografia da arte do século XIX
e também do século XX demonstra que a componente “mulher” se
constitui num factor de exclusão significativo.
Um sinal da persistência de formas de discriminação no mundo
da arte contemporânea é o da visibilidade ou invisibilidade do géne-
ro. Ou seja, quando o género dos artistas é masculino, não se nota, é
Compartilhe com seus amigos: