A A RTE S E M H I STÓ R I A
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Bienal de Veneza: Portuguese men do it better?
Tendo em conta que as representações de arte portuguesa no es-
trangeiro são especialmente ilustrativas dos cânones nacionais para
diferentes períodos, vale a pena analisar a história da presença portu-
guesa na Bienal de Veneza. Ao fazê-lo, constatamos que a progressão
temporal e o aumento significativo do número de mulheres artistas
ao longo da segunda metade do século XX não se traduzem necessa-
riamente no aumento da sua presença em exposições internacionais.
Como tem acontecido em relação a outros aspectos da política cul-
tural internacional portuguesa, a relação entre Portugal e Veneza foi,
antes de mais, uma relação instável e infiel, de encontros marcados
mas não cumpridos, de anos de cortes de relações e esquecimento,
e encontros esporádicos para marcar uma presença pouco presente.
Apesar de a Bienal de Veneza ter sido inaugurada em 1895, só em
1950, ou seja, 55 anos depois, é que Portugal participou pela primei-
ra vez, tornando-se assim numa vitrina internacional da arte portu-
guesa somente na segunda metade do século XX
295
. O comissário,
António Eça de Queiroz, com o apoio de Carlos Botelho, escolheu
dezassete artistas portugueses (Barata Feyo, Botelho, Costa Pinto,
Leopoldo de Almeida, Diogo de Macedo, António Duarte, Mário
Eloy, Francisco Franco, Dórdio Gomes, Eduardo Malta, Abel Manta,
Henrique Medina, Júlio Resende, Francisco Smith, Eduardo Viana,
Maria Helena Vieira da Silva e Estrela Faria). Tanto a pluralidade
estética, como a política, do conjunto apresentado em Veneza em
1950 parecem querer compensar tantos anos de ausência em Vene-
za com uma espécie de súmula consensual, súmula esta composta
por quinze homens e duas mulheres, numa proporção muito distin-
ta da da representação portuguesa na exposição de Paris em 1900,
cinquenta anos antes. Mas, logo em 1952, Portugal deixou de estar
presente, contrastando com a vizinha Espanha, que desde 1895 se
afirma como uma presença forte e constante em Veneza, e com o
Brasil, que, apesar de também só se estrear em 1950, nunca mais dei-
xará de estar representado e que, ao contrário de Portugal, teve uma
295.
Todas as informações relativas à participação
portuguesa na Bienal de
Veneza foram retiradas de um livro-índice muito
detalhado publicado aquando
do centenário do evento, em 1995:
La Biennale di Venezia. Le Esposizioni Internazionali
d’Arte 1895-1995. Artisti. Mostre. Partecipazioni nazionali. Premi
(Veneza: La Biennale
di Venezia/Electa, 1996); ver o meu artigo “49.ª Bienal de Veneza. Os artistas, os
espectadores, o espectáculo”,
Arte Ibérica, n.º 47 (Junho de 2001), pp. 36-41.