A A RTE S E M H I STÓ R I A
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outros exemplos demonstram-nos que a história da arte portuguesa,
sobretudo para o século XIX, e com uma ou outra excepção pontual,
está marcada por estas ausências
287
.
Capa do catálogo da Sociedade Nacional de Belas-Artes,
2.ª Exposição 1902
(Lisboa: Typ. da Empreza da Historia de Portugal, 1902), col. da autora.
Uma análise dos catálogos das representações portuguesas nas
secções de belas-artes de outras exposições universais de Oitocentos,
princípios de Novecentos – primeiras mostras de arte nacional reali-
zadas no estrangeiro –, assim como de outros catálogos de exposições
287.
O índice onomástico do livro de Fernando de Pamplona pode ser útil
por conter muitos nomes de mulheres artistas portuguesas de 1830 a 1930:
Fernando de Pamplona,
Um Século de Pintura e Escultura em Portugal (1830-1930)
(Porto: Livraria Tavares Martins, 1943); José-Augusto França,
A Arte em Portugal
no Século XIX
, vols. I e II
(Lisboa: Livraria Bertrand, 1966); Nuno
Saldanha,
José
Malhoa. Tradição e modernidade
(Lisboa: Scribe, 2010).
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organizadas em Portugal, também nos revela um número surpre-
endente de mulheres artistas. Entre tantos exemplos possíveis, ci-
temos o catálogo da segunda exposição organizada pela
Sociedade
Nacional
de
Belas-Artes em 1902. Na capa do catálogo, uma mulher
sentada olha-nos de frente; na mão, os instrumentos do seu ofício,
um pincel e uma paleta; atrás, os vestígios de um estúdio com uma
grande janela e um fragmento escultórico. Se na ilustração da capa o
artista anónimo é representado por
uma artista, no interior do catá-
logo surgem-nos os nomes de 17 mulheres artistas, quase todas pin-
toras (entre 68 participantes)
288
. As mulheres que participam, com a
indicação das respectivas categorias, são: na pintura a óleo, Virgínia
dos Santos Avelar, Laura Sauvinet Bandeira, Adelaide Lima Cruz,
Miss M. Beatrice Kerry, Fanny Munró, viscondessa de Sistello, Berta
Gomes Borges Alcântara; no pastel, D. Virgínia dos Santos Avelar,
Mlle Maria Paul, D. Laura Santos; na arte aplicada, Mlle Louisette,
Carolina Calheiros, Mlle Hel Eisenbart, Mlle Maria Santos Macedo,
D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro, D. Emília Teixeira dos Santos e
Mlle Marie Louise de Sommer. A secção de arte aplicada é a única
onde as mulheres superam os homens, o que confirma a persistência
da sexualização dos formatos artísticos e o domínio feminino naque-
las áreas que são consideradas menos importantes nas hierarquias
artísticas.
Como podemos verificar, muitas destas mulheres artistas ti-
nham estado presentes na Exposição Universal de Paris, dois anos
antes. Um exercício equivalente foi feito por Alicia Foster para as
alunas da Slade School of Art, em Londres, em finais do século
XIX
289
. As mulheres eram uma presença significativa entre os alunos
desta escola de artes. Hoje, no entanto, são raros os nomes identifi-
cáveis. O que é que lhes aconteceu? Naturalmente, o casamento, a
vida familiar e as dificuldades da vida profissional pós-aprendizagem
afastaram muitas delas, mas muitas outras empreenderam carreiras
profissionais que a história da arte não reconheceu. Assim, Gwen
John (1876-1939), por exemplo, surge como sendo um caso isolado
no contexto britânico para este período, quando realmente não o é.
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