A A RTE S E M H I STÓ R I A
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O que torna o trabalho de Mapplethorpe original é que ele não
é um “voyeur” ou um repórter, mas um participante activo daquilo
que representa, tal como Nan Goldin. Mas, ao contrário de uma fo-
tógrafa como Goldin, que também fotografa o mundo onde vive e a
intimidade afectiva e sexual dos seus amigos nova-iorquinos, Mapple-
thorpe esteticiza e encena os seus objectos. A câmara, longe de surgir
como intermediária numa transacção em que um dos participantes
desconhece que o é, exige do fotografado uma enorme consciência
de si próprio e do acto de estar a ser fotografado. Apesar de a cara e
a expressão estarem muitas vezes ausentes da imagem, e o destaque
ser dado a fragmentos do corpo, o anonimato da imagem é anulado
pela legenda que a acompanha. Mesmo quando representa um corpo
escultural masculino sobre um pedestal, como se de uma estátua gre-
ga se tratasse, os modelos preservam a sua identidade através do seu
nome. Nesta sua fragmentação do corpo masculino, assim como na
forma como sexualiza e celebra esse mesmo corpo masculino, Mapp-
plethorpe subverteu o lugar que a prática artística e a história da arte
atribuíram ao nu feminino.
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