A A RTE S E M H I STÓ R I A
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do seu papel quer de artista, quer de homem sexualmente activo – as
metáforas fálicas do pincel, do cinzel ou da máquina fotográfica já fo-
ram exploradas. Mas se a arte e a história da arte foram dominadas,
durante muito tempo, pela força deste binómio, existem alguns casos
onde a mulher pintada/observada/modelo/tela surge não como a
“musa” do artista, mas como uma artista, ela própria representada no
acto de criar. É este o caso dos retratos que Domingos de Sequeira fez
da condessa de Linhares, representada no acto de pintar o seu mari-
do, ou que Arpad Szenes fez de Maria Helena Vieira da Silva. É na
representação da sua mulher – musa, sem deixar de ser artista – que
Arpad Szenes mais projecta as suas descobertas artísticas e é nela que
se encontra a continuidade de toda a sua obra
256
. Longe da passivida-
de daquela que vê o seu corpo perscrutado por um observador activo,
nos desenhos e óleos de Arpad, Maria Helena está alheia ao olhar que
sobre ela recai, concentrada, debruçada sobre o objecto do seu traba-
lho. Ela é quase sempre representada como a pintora com quem ele
igualitariamente partilha o espaço do
atelier, numa clara subversão de
um dos temas mais recorrentes do século XX
257
.
Uma das perspectivas da história da arte feminista tem sido, as-
sim, a de desconstruir o modo como quer os artistas (explícitos), quer
os espectadores (implícitos) tendem a ser masculinos, num jogo de
olhares invisíveis onde a mulher representada (passiva) é objecto do
olhar (activo) masculino
258
. A arte de natureza feminista também tra-
balhou sobre esta ideia. Em 1973, por exemplo, Laurie Anderson, a
artista performativa e compositora norte-americana, fez deste olhar
masculino a sua matéria-prima. Farta dos comentários obscenos que
os homens lhe faziam nas ruas de Manhattan, resolveu não só respon-
der-lhes, desafiante, mas fotografar os seus olhares e gestos lascivos
com a imediatez da sua máquina fotográfica
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