A A RTE S E M H I STÓ R I A
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histórica e intemporal, como na obra de Ticiano que Manet quis emular.
A originalidade do livro de Clark está sobretudo no modo como ana-
lisa a constituição das diferenças sociais enquanto chave de leitura da
modernidade, não só como estando representadas na pintura produzi-
da em França durante a segunda metade do século XIX, mas pensando
na própria visualidade enquanto constituidora da modernidade. Em-
bora T.J. Clark não privilegie uma perspectiva de género que em muito
enriqueceria
o seu trabalho, e apenas pense
na sexualidade sob o pon-
to de vista masculino, tal como Griselda Pollock notou, a condição de
prostituta contemporânea de
Olympia exemplifica bem a centralidade
da diferença sexual enquanto chave de leitura para a “pintura da vida
moderna”, algo, aliás, que Pollock explorou no seu livro
Vision and
Difference. Femininity, feminism and the histories of art
252
.
Agora, vendo bem, não estou com pressa nenhuma de me ir embora,
postal humorístico britânico, ilustração de Fred Spurgin (1882-1968),
Art and
Humour Publishing Co., Londres, c. 1920, col. da autora.
252.
Griselda Pollock,
Vision and Difference. Femininity, feminism and the
histories of art
(Londres e Nova Iorque: Routledge, 1988), p. 10. Ver
sobretudo o
capítulo “Modernity and the spaces of the femininity”.