A A RTE S E M H I STÓ R I A
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àquelas que Antero de Figueiredo veio a proferir várias décadas de-
pois
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. Reconhecendo a enorme quantidade de mulheres que, na al-
tura, tinham acesso a algum tipo de formação artística, Scott alertou
para os malefícios da proliferação de tantas mulheres no mundo das
artes. Mas se lhes coarctava um caminho – o da profissionalização –,
abria-lhes, no entanto, tal como fará mais tarde Antero de Figueiredo,
os caminhos do embelezamento do espaço doméstico. Decorando as
cortinas ou pintando os cartões de boas-festas, “o lar” pode ter “usos
infindáveis para as artes.” Assim, o talento e a destreza, acessíveis ao
feminino, deveriam ser canalizados para as artes decorativas, e o génio,
passível apenas de ser sentido pelo masculino, devia ser o “professor
e apóstolo das artes.” Com esta divisão clara de práticas artísticas de
acordo com o sexo, as “nossas exposições de pintura seriam então tem-
plos da arte,
e os nossos lares, a idealização da utilidade.”
Em 1906, Luiza de Sousa publicou, em Lisboa, um livrinho de-
nominado
Photominiatura. Algumas palavras sobre outros trabalhos
feminis, onde se dirigia àquelas que, não podendo ser artistas, não
queriam prescindir de ter um “passatempo artístico” que educasse “o
gosto de quem a ele se dedica”
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. Neste curioso folheto, a autora, que
frequentemente refere a sua experiência de ensino em trabalhos “tão
puramente feminis”, enunciava as técnicas de produção caseira de “fo-
tominiaturas” e “fotopinturas”, resultando em representações pictóri-
cas onde a ilusão da realidade se obtinha graças à fotografia. Num capí-
tulo final, Luiza de Sousa assumia-se como a iniciadora, em Portugal,
da aplicação da pintura aos lavores femininos e como a divulgadora
de técnicas que, sendo muito cultivadas no estrangeiro, só mais tarde
chegaram a Portugal. Destinado a senhoras que desejassem preencher
“horas vagas, que tão utilmente podem ser aproveitadas em trabalhos
úteis e bonitos”, este folheto faz parte de uma enorme quantidade de
textos que são publicados nesta altura sobre as actividades que as mu-
lheres poderiam desenvolver em casa como forma de entretimento
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