A A RTE S E M H I STÓ R I A
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as mulheres já realizavam no interior do espaço doméstico e, por ou-
tro lado, não ameaçava as noções dominantes de feminilidade. Ao
mesmo tempo, esta dicotomia contribuía para reforçar as diferenças
entre as artes menores (
decorative arts,
applied arts, em inglês,
arts
décoratifs, em francês), muitas vezes aplicadas na produção indus-
trial, e as belas-artes. Isto não quer dizer que não existissem homens
a protagonizar estes movimentos de melhoria do gosto na produção
industrial, quase sempre com uma autoria bem identificada – o bri-
tânico William Morris, que conjugava a teoria com a prática, é um
dos mais conhecidos exemplos
206
.
A única escola de arte francesa para mulheres, paga pelo Estado,
era a École Nationale de Dessin pour les Jeunes Filles, fundada em
1802. Oficialmente, era um local de aprendizagem das artes decora-
tivas e industriais, mas, na prática, muitas das alunas dos anos 1880
expunham nos
Salons
207
. Estavam ali para se tornarem operárias, ar-
tesãs ou
designers, mas muitas queriam ir para além dessas expectati-
vas para serem artistas. Perante este fenómeno, a escola alterou a sua
estrutura e procurou limitar as suas estudantes àquelas que queriam
realmente seguir uma carreira nas artes decorativas, encorajando as
outras a prosseguirem os seus estudos nas academias privadas de
pintura ou escultura
208
. Contudo, o facto de estas serem caras afas-
tava, naturalmente, muitas das candidatas que apenas tinham con-
dições económicas para frequentarem as escolas subsidiadas pelo
Estado. Mme Léon Bertaux, consciente desta situação, também foi
uma das vozes que se manifestou contra a política de educação artís-
tica levada a cabo pela República:
As raparigas jovens são encorajadas a aprender a desenhar quando estão na
escola primária, mas, a partir do momento em que elas queiram dar mais
um passo na sua educação artística, deparam-se com mil dificuldades, e
a porta onde elas poderiam ir bater permanece obstinadamente fechada
para elas. É quase como se a administração das Belas-Artes lhes estivesse
a dizer: “Nós queremos muito que haja mulheres artistas, mas queremos
206.
Filipa Vicente, “100 anos de William Morris” [sobre a exposição
William
Morris
, Victoria
and Albert Museum, Londres],
Expresso, 15 de Junho de 1996.
Agradeço à Ana Vasconcelos e Melo ter-me chamado à atenção para este aspecto.
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