A A RTE S E M H I STÓ R I A
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gráfica. Assim, têm sido descobertos, recentemente, muitos casos de
mulheres de pintores, arquitectos, escultores ou escritores que tiveram
um papel fundamental nos processos e resultados da sua criação.
Não estamos, obviamente, a referir-nos às frequentes referências
da história da arte ou da literatura às musas inspiradoras de artistas e
escritores – um outro tema recorrente de uma abordagem mais tradi-
cional que, ao remeter as mulheres para o papel de musas, lhes nega,
simultaneamente, o papel de criadoras. Esta imagem da mulher-mu-
sa, que inspira o homem-criador, persiste no imaginário colectivo e
está latente num número infindável de representações e referências,
ultrapassando largamente a história da arte. Referiremos apenas dois
exemplos portugueses que são representações visuais relacionadas
com dois nomes centrais da literatura nacional: há uns anos, os pas-
saportes de qualquer cidadão português utilizavam a “musa” para sim-
bolizar a identidade nacional – uma caravela comandada por homens,
rodeada por mulheres nuas a emergir do mar, as mulheres-musas sur-
giam como inspiradoras dos nossos intrépidos heróis a enfrentarem os
mares e a descobrirem novas terras, ao mesmo tempo que inspiraram
os nossos escritores a narrarem os feitos da nação. A estátua exposta na
Praça Barão de Quintela, em Lisboa, que representa Eça de Queiroz
(vestido, identificado, criador) atrás de uma mulher (nua, anónima,
musa), é apenas mais um exemplo da persistência desta iconografia no
mundo
ocidental
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