A A RTE S E M H I STÓ R I A
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Em Paris, no princípio da década de 1880, Marie Bashkirtseff,
estudante de Belas-Artes na Academia Julian de Paris, escreveu no seu
diário as palavras que poderiam ser comparadas com as de Anna Mary
Howitt, a trabalhar em Londres quarenta anos antes: “Vimos a École
des Beaux-Arts. Foi o suficiente para eu ficar com vontade de chorar.
Porque é que eu não hei-de poder ir estudar para lá? Onde é que é
possível obter um ensino tão completo como ali?”
168
Como aluna da
Academia Julian, Bashkirtselff, uma aristocrata de origem ucraniana
mas a viver em França desde a infância, representava bem as jovens
mulheres com ambições artísticas que enchiam as academias privadas
parisienses da segunda metade do século XIX. Estas escolas privadas
constituíam a alternativa à não-aceitação da escola oficial, mas uma
alternativa que apenas era acessível àquelas que a pudessem pagar, so-
bretudo porque, precisamente por as mulheres não
poderem optar, as
propinas que lhes eram cobradas eram o dobro das dos homens, como
acontecia na Academia Julian
169
.
O mais antigo dos estúdios parisienses abertos às mulheres era o
de Charles Chaplin, mas aquele que se tornou mais conhecido e por
onde passaram mais artistas de sucesso
francesas e estrangeiras foi, de
facto, a academia fundada por Rodolphe Julian em 1868, graças, tam-
bém, ao facto de uma das suas alunas, Marie Bashkirtseff, ter publica-
do os seus diários logo em 1887
170
. Além de possibilitarem o acesso ao
estudo do modelo nu (feminino), forneciam um ensino bastante simi-
lar ao providenciado pela École, pois muitos dos professores eram os
mesmos. Mas se, nesta academia, as regras para alunas e alunos eram
as mesmas e, segundo Bashkirtseff, o seu dono, Julian, considerava que
168.
The Journal of Marie Bashkirtseff, trad. de
Mathilde Blind, introd. de
Rozsika Parker e Griselda Pollock (Londres: Virago Press, 1985), p. 340. A primeira
edição dos seus diários é de 1887, em Paris, e no francês
original em que foi
escrito [1.ª ed.:
Journal de Marie Bashkirtseff, vols. I e II (Paris: G. Charpentier,
1887)]; a primeira edição inglesa é logo em 1890. Optei por usar esta edição
inglesa pois tem uma introdução de duas das historiadoras
da arte que mais se
têm dedicado ao estudo da prática artística realizada por mulheres.
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