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A C A M I N H O DA PRO F I S S I O N A LI Z AÇ ÃO
lamentava-se de não poder seguir os passos do irmão e ir para Cam-
bridge, mas transformou a sua revolta em acção e empreendeu uma
série de gestos para tentar remover a exclusão feminina das mais
prestigiadas universidades inglesas
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. Não chegou a testemunhar
esta mudança, mas foi uma das grandes apoiantes da feminista Emily
Davies, nos seus esforços para abrir o Girton College, com o objec-
tivo de fornecer uma educação universitária às mulheres. Criado em
Cambridge em 1869, só muito mais tarde, em 1948, com o reconhe-
cimento pleno do seu diploma, é que o Girton passou a estar total-
mente ligado à Universidade de Cambridge como mais um dos seus
colleges (como ponto de comparação, refira-se que a Universidade
de Londres aceitou mulheres alunas em 1878, e a Universidade de
Coimbra, em 1891).
Se existia tema que unia a maior parte dos homens políticos
liberais e conservadores durante o século XIX, em nações como a
Grã-Bretanha, era o da oposição generalizada à igualdade das mu-
lheres. Mesmo um pensador liberal e progressista como Jules Simon,
na sua
Working Woman de 1861, considerou que a prática artística
adequada às mulheres se encontrava nos meios de reprodução mecâ-
nica utilizados pela indústria e pelo
design. Os exemplos textuais são
inúmeros, enquanto as imagens, sendo mais raras, têm em Daumier
um dos seus autores. Pensamos nas três séries de litografias antife-
ministas que Daumier produziu ao longo da década de 1840:
Blues-
tockings [designação satírica para designar uma mulher com interes-
ses intelectuais e literários],
Divorciadas e Mulheres Socialistas. Num
dos desenhos da primeira série referida, podemos ver uma mulher
a escrever sentada na sua secretária, alheia ao caos doméstico que a
rodeia: num quarto desarrumado, com vários objectos espalhados
pelo chão, uma criança cai de cabeça dentro de uma tina de água
perante a indiferença da mãe, concentrada no seu trabalho
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