A A RTE S E M H I STÓ R I A
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com as instituições da arte e a questão do acesso à educação artística
são, sem dúvida, um destes temas. A combinação entre proliferação
de mulheres artistas e a sua exclusão parcial ou total das instituições
de ensino artístico e espaços de exposição levou, por um lado, a uma
inevitável criação de espaços alternativos, sobretudo em cidades
como Paris e Londres, e, por outro, à multiplicação de tentativas
para modificar as regras daqueles lugares que as discriminavam.
De facto, ao longo do século XIX, sobretudo na sua segunda
metade, tanto podemos encontrar inúmeros gestos, individuais e co-
lectivos, empenhados em alterar as regras institucionais de exclusão
das mulheres, como iniciativas que visavam criar um “mundo artís-
tico” paralelo: abertura de escolas, estúdios e aulas só para mulhe-
res; criação de espaços de exposição só para mulheres; e criação de
associações de mulheres artistas. Se alguns destes gestos podem ser
analisados no contexto mais alargado dos movimentos feministas,
é necessário ter em conta que nem todas as mulheres artistas que
empreenderam acções no sentido da sua afirmação profissional se
consideravam feministas. Muitas delas limitavam as suas actividades
aos seus próprios interesses, sem as extrapolar para outros campos
sociais, culturais ou políticos. Outras, no entanto, viam as discrimi-
nações contra as mulheres artistas como parte de um contexto mais
alargado que diminuía e desvalorizava o feminino e que também ha-
via que combater. Era o caso da pintora e feminista inglesa Barbara
Leigh Smith Bodichon (1827-1891) que, como tantas outras, exer-
cia o seu activismo em várias frentes
159
.
Em finais do século XIX, era já difícil definir o feminismo en-
quanto movimento ou acção unitários pois, em lugares como o Rei-
no Unido, este tomava uma multiplicidade de formas e de sentidos.
Havia inúmeras mulheres descontentes com os limites à sua criativi-
dade e à sua inteligência. A própria Barbara Bodichon, por exemplo,
Espanha: ver Estrella de Diego, La Mujer y la Pintura del XIX Español. Cuatrocientas
olvidadas y algunas más
(Madrid: Ediciones Cátedra, 2009).
159.
Ver biografia de Barbara Bodichon, uma mulher multifacetada, artista e
feminista que esteve envolvida em inúmeros movimentos de direitos das mulheres
e foi uma figura central nas iniciativas para profissionalizar e dignificar as mulheres
artistas: Pam Hirsch, Barbara Leigh Smith Bodichon (1827-1891). Feminist, artist and
rebel
(Londres: Pimlico, 1999); ver a minha recensão a este livro: “Barbara Leigh
Smith Bodichon (1827-1891): Uma pioneira do feminismo e a sua geração”, Faces
de Eva
, n.º 8 (Edições Colibri-Universidade Nova de Lisboa, 2002), pp. 55-66.
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