Falas Silenciadas: Relatos de Mulheres Educadoras sobre a Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler.
Roselia Cristina de Oliveira
Historiadora/Mestrado em Educação - PPGED/UFRN
Email: rosecrisoliveira@yahoo.com.br
Rosália de Fátima e Silva
Prof.ª Dr.ª Rosália de Fátima e Silva - PPGED/UFRN
Email: roslia64@gmail.com
RESUMO
Ao longo desta pesquisa, trataremos da reinterpretação da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler pelo olhar de mulheres que foram protagonistas dessa história. Essa Campanha se configurou em um dos movimentos de Educação Popular que ocorreu na Região Nordeste do Brasil, na década de 1960, sendo interrompida pelo Golpe Civil-Militar de 1964, que instituiu o período ditatorial no país. Para o alcance desse objetivo, utilizamos fragmentos de discursos pronunciados por cinco mulheres que atuaram no projeto de alfabetização desenvolvido pela Prefeitura do Natal, que se inspirou nas lutas pela libertação nacional e pela educação libertadora e emancipatória de Paulo Freire (1921-1997). A unidade de referência principal desta pesquisa se constitui, conforme já mencionado, nas falas de cinco mulheres que vivenciaram intensamente a década de 1960 e as atividades da Campanha, bem como as da militância política. Partindo de seus relatos, buscamos compreender a participação das mulheres no cenário político-social e as redes de relações que circundavam a equipe da Prefeitura, de modo a analisar as configurações e os desvelamentos semânticos do projeto tal como foi percebido por essas protagonistas. Procuramos perceber de que forma essas mulheres visualizavam sua inserção social, sua prática educativa e os motivos que as levaram a integrar um projeto considerado educativo, popular e democrático. Desenvolvemos este trabalho a partir da metodologia da análise compreensiva do discurso baseada nos estudos de Jean-Claude Kaufmann, entrelaçando a fala das mulheres entrevistadas com as teorias que oportunizam entender os fundamentos de suas práticas. As considerações finais revelam a importância da participação feminina nos movimentos sociais e na militância, evidenciando, também, o quanto o preconceito social, a censura política e moral, o medo e a violência rondaram esse período e intervieram sobre os relacionamentos, os hábitos e os costumes, se fazendo presente no cotidiano local e deixando suas marcas em cada uma delas. O trabalho sinaliza, de igual maneira, como a gestão do Prefeito Djalma Maranhão (1961-1964) e a prática educativa e cultural da Campanha de Pé no Chão foram consideradas subversivas e de grande ameaça à ordem política e social do Estado Ditatorial brasileiro da época. Suas falas, seus olhares e seus silêncios nos apontam caminhos para que possamos ampliar o debate acerca da participação das mulheres na história, possibilitando sua visibilidade nos movimentos de Educação Popular da década de 1960.
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