Hino do Deputado
Chora, meu filho, chora.
Ai, quem não chora não mama,
Quem não mama fica fraco,
Fica sem força pra vida,
A vida é luta renhida,
Não é sopa, é um buraco.
Se eu não tivesse chorado
Nunca teria mamado,
Não estava agora cantando,
Não teria um automóvel,
Estaria caceteado,
Assinando promissória,
Quem sabe vendendo imóvel
A prestação ou sem ela,
Ou esperando algum tigre
Que talvez desse amanhã,
Ou dando um tiro no ouvido,
Ou sem olho, sem ouvido,
Sem perna, braço, nariz.
Chora, meu filho, chora,
Anteontem, ontem, hoje,
Depois de amanhã, amanhã.
Não dorme, filho, não dorme,
Se você toca a dormir
Outro passa na tua frente,
Carrega com a mamadeira.
Abre o olho bem aberto,
Abre a boca bem aberta,
Chore até não poder mais.
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(MENDES, Murilo. História do Brasil, XLIII. In: Poesia
completa e prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar,
1994, p. 177-178.)
Nos três textos apresentados identifica-se a presença
relevante da função conativa da linguagem, como se pode
verificar formalmente pelo emprego de numerosos verbos
no modo imperativo. Em Canção do Tamoio e Hino do
Deputado, uma personagem aconselha outra a assumir
certos comportamentos; em Oração aos Moços, o próprio
orador faz aconselhamento a seus discípulos. Releia os três
textos com atenção e, a seguir,
a) aponte a diferença existente entre os trechos da Canção
do Tamoio e da Oração aos Moços, no que diz respeito à
flexão dos verbos no modo imperativo;
b) reescreva o verso 29 do poema Hino do Deputado,
fazendo com que o verbo "chorar" se flexione na mesma
pessoa em que está flexionado o verbo "abrir", nos versos
27 e 28.
156) (Vunesp-1998)
INSTRUÇÃO:
As questões se baseiam nos parágrafos iniciais do romance
Iracema, de José de Alencar (1829-1877), na letra da
guarânia Índia, escrita em Língua Portuguesa pelo cantor,
poeta e dramaturgo popular José Fortuna (1923-1983) e na
letra de A Índia e o Traficante, realizada pelo escritor
contemporâneo Luiz Carlos Góes.
IRACEMA
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no
horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos
mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu
talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a
baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o
sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira
tribo, da grande nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal
roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra
com as primeiras águas.
(...)
Iracema saiu do banho: o aljôfar d'água ainda a roreja,
como à doce mangaba que corou em manhã de chuva.
Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas
de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no
galho próximo, o canto agreste.
ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Saraiva, 1956, p.
13.
ÍNDIA
J.A.Flores/M.O.Guerrero/José Fortuna
Índia, seus cabelos nos ombros caídos,
Negros como a noite que não tem luar;
Seus lábios de rosa para mim sorrindo
E a doce meiguice desse seu olhar.
Índia da pele morena,
Sua boca pequena
Eu quero beijar.
Índia, sangue tupi,
Tem o cheiro da flor;
Vem, que eu quero lhe dar,
Todo o meu grande amor.
Quando eu for embora para bem distante,
E chegar a hora de dizer-lhe adeus,
Fica nos meus braços só mais um instante,
Deixa os meus lábios se unirem aos seus.
Índia, levarei saudade
Da felicidade
Que você me deu.
Índia, a sua imagem,
Sempre comigo vai;
entro do meu coração,
Flor do meu Paraguai!
in: Sucessos Inesquecíveis de Cascatinha e Inhana. LP
0.34.405.432, Phonodisc, 1987.
A ÍNDIA E O TRAFICANTE
Eduardo Dusek / Luiz Carlos Góes
Noite malandra, um luar de espelho,
No meio da terra a índia colhe o brilho,
Som de suor, cheirada musical,
Palmeira que se verga em meio ao vendaval.
Sentia macia floresta,
Bolívia, montanha, seresta...
Índia guajira já colheu sua noite
Volta para a tribo meio injuriada,
Uma figueira numa encruzilhada
Felina, um olho de paixão danada,
Era Leão, famoso traficante,
Um outdoor, bandido elegante,
Que a levou para um apart-hotel
Que tem em Cuiabá.
Índia, na estrada, largou a tribo
Comprou um vestido, aprendeu a atirar,
Índia virada, alucinada pelo cara-pálida do Pantanal,
Índia guajira e o traficante
Loucos de amor, trocavam o seu mel,
Era um amor tipo 45,
E tiroteios rasgando o vestido,
Em quartos de motel.
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Explode o amor, adiós para o pudor,
Guajira e o traficante passam a escancarar,
Rolam papéis, nos bares, nos bordéis,
Os dois de Bonnie and Clyde, assunto dos cordéis,
Maíra, pivete, amazônia,
Esqueceu Tupã, a sem-vergonha...
Dentro de um Cessna, bebendo champagne
Leão e seu bando a fazem sua chefona,
Índia fichada, retrata falada,
A loto esperada pelos federais,
Mas ela gosta de fotografia
E vira capa dos jornais do dia,
Enquanto espera uma tonelada da pura alegria.
Índia, sujeira, foi dedurada
Por um sertanista que era amigo seu,
Índia traída - "mim tô passada" -
Ela lamentava num mal português,
A Índia, deu um ganho, num Landau negro,
Chapa oficial, que era da Funai,
Passou batido pela fronteira,
Uma rajada de metralhadora...
Morta no Paraguai!
Dusek na Sua. LP 829218-1, PolyGram, 1986.
De acordo com a gramática normativa, a guarânia Índia
apresentaria "erros" de concordância verbal. Revelando
forte presença do registro informal da linguagem e sua
espontaneidade, formas de tratamento em segunda e
terceira pessoas se mesclam no mesmo contexto, com
vistas a um efeito estilístico de aproximação entre as
personagens. Tomando como modelo a concordância
estabelecida na primeira estrofe, releia cuidadosamente o
texto e, a seguir:
a) identifique os versos que configurariam "erros" de
concordância verbal, na terceira estrofe;
b) reescreva os mesmos versos identificados no item a, de
acordo com o que estabelece a gramática normativa.
157) (Vunesp-2003)
As questão abaixo toma por base o
poema Lisbon Revisited, do heterônimo Álvaro de Campos
do poeta modernista português Fernando Pessoa (1888-
1935), e a letra da canção Metamorfose Ambulante, do
cantor e compositor brasileiro Raul Seixas (1945-1989).
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