SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 38, N. ESPECIAL, P. 358-372, OUT 2014
PINTO, H. A.; SOUSA, A. N. A.; FERLA, A. A.
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Selecionamos alguns padrões que são
marcadores de efeitos possíveis da implan-
tação do acolhimento, e os resultados fo-
ram os que seguem. Perguntados se houve
redução nos tempos de espera dos usuários
nas UBS participantes do PMAQ-AB, 36,6%
disseram que houve muita redução, outros
50,9% destacaram que ela foi moderada e
apenas 11,8% apontaram que foi pequena
ou não houve. Indagados se houve amplia-
ção das pessoas atendidas pelas EqAB do
PMAQ-AB, 37,3% disseram que houve mui-
ta ampliação, 50,1% afirmaram que ela foi
moderada e apenas 12,1% avaliaram que foi
pequena ou não houve. Por fim, inquiridos
sobre melhoras no acesso e na humanização
do atendimento aos usuários, 43,7% desta-
caram que houve muita melhora, 47,9% que
ela foi moderada e apenas 8% que não hou-
ve ou foi pequena
(PINTO, 2013).
Os números, na casa dos 80% de mudança
‘forte’ ou ‘moderada’, coincidem com os de
EqAB que relataram implantação do acolhi-
mento. A alta frequência desse padrão e do
anterior, relacionado ao planejamento das
EqAB, fala a favor de ter sido uma ação es-
timulada pelo PMAQ-AB. Fortalece essa hi-
pótese a evidência de que as equipes foram
estimuladas e apoiadas pela gestão local.
Além disso, a pergunta aos gestores consi-
derou o horizonte temporal de implantação
do PMAQ-AB. Contudo, é importante que
se diga que uma afirmação inequívoca a res-
peito do nível de influência do PMAQ-AB
sobre tais resultados só poderia ser feita
caso houvesse uma linha de base
(PINTO, 2013)
.
Por fim, vale destacar que a gestão munici-
pal também se movimentou para dar suporte
a essa mobilização. O PMAQ-AB estimulou
o apoio institucional
(CAMPOS, 2003)
como uma
“função gerencial que busca a reformulação
do modo tradicional de se fazer gestão em
saúde”
(BRASIL, 2011C)
. Propôs que as gestões
municipais implantassem esse dispositivo de
gestão pela sua forte capacidade de dar o su-
porte necessário ao movimento de mudança
deflagrado pelos coletivos de trabalhadores
nas UBS, buscando fortalecê-los e reconhe-
cendo e potencializando seus esforços.
Essa ação de apoio deveria aproximar o
pessoal da gestão do dia a dia das EqAB, além
de envolver aqueles na solução dos problemas
concretos identificados por estes, quando da
tentativa de dar sequência aos compromissos
assumidos no PMAQ-AB. O programa esti-
mulou estrategicamente que os apoiadores
buscassem fomentar e dar suporte à constru-
ção de espaços coletivos nos quais as EqAB
pudessem desenvolver ações tanto de qualifi-
cação do processo de trabalho quanto de am-
pliação da autonomia e de emancipação dos
atores envolvidos
(BRASIL, 2011C)
.
Segundo um documento oficial do progra-
ma
(BRASIL, 2011C)
, o apoio seria uma ação que,
necessariamente, integraria funções de gestão,
tais como planejamento, avaliação e educação
permanente, e exigiria da equipe de gestão o
desenvolvimento de um saber-fazer integrado
e matricial que dialogasse com as EqAB a par-
tir de sua situação e demanda concreta.
Nos resultados da Avaliação Externa,
identificamos que 92% das equipes refe-
riram ter recebido apoio para a ‘organiza-
ção do processo de trabalho em função da
implantação ou qualificação dos padrões
de acesso e qualidade do PMAQ-AB’, sen-
do que 77,9% refeririam receber ‘apoio ins-
titucional permanente de uma equipe ou
pessoa da Secretaria Municipal de Saúde’.
Das EqAB, 76% avaliaram como muito boa
(27,9%) ou boa (48,1%) a ‘contribuição do
apoiador na qualificação do processo de tra-
balho e no enfrentamento dos problemas’.
Temos, ainda, evidências da participação
desses apoiadores nas reuniões de organi-
zação das EqAB, na medida em que 72,2%
delas avaliaram como muito boa (24,1%) ou
boa (48,1%) essa participação
(PINTO, 2013)
.
Apresentamos aqui algumas, entre tantas,
evidências de que o PMAQ-AB mobilizou
equipes de atenção e gestão, provocou-as a
implantar processos que ele lhes oferecia
como possibilidades e conseguiu avaliar e
acompanhar a implantação dos mesmos. Na
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