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análoga à escravidão foram libertadas. Além disso, a reportagem contava com um anexo
relacionando os proprietários dos estabelecimentos abordados em uma lista,
nomeada de
“lista suja”, que se referia às pessoas que respondiam a processos na Justiça em relação a
esse tipo de crime.
A reportagem abordava diversos estabelecimentos no Brasil que foram
inspecionados, contudo, decidiu-se focalizar apenas as denúncias de trabalho escravo
ocorridas em fazendas brasileiras. Ao todo, foram 1.160 fazendas nos 20 estados que
apresentam fazendas registradas.
Tratando-se das informações sobre a “lista suja”, a princípio buscou-se, a partir do
nome dos proprietários
das fazendas, o número e a sentença dos processos abertos para
investigação das condições de trabalho. No entanto, devido à dificuldade de acesso a essas
informações, em comunhão com os casos já prescritos e também aos casos ainda abertos,
foi alterado o critério de análise para caracterizar as condições de trabalho nas fazendas.
Desse modo, observou-se que haviam reportagens relacionadas a todas as fazendas
analisadas devido à recorrência dos casos e à posição social ocupada pelos proprietários
das mesmas. Com isso, elegeu-se os casos com o maior número de escravizados em cada
um dos 21 estados analisados, para identificar os aspectos comuns e, assim, agrupá-los em
quatro categorias distintas.
Alguns trechos das reportagens utilizadas como objeto de estudo:
“Pelo menos um em cada dez deputados federais teve sua
campanha financiada por empresas flagradas utilizando mão
de obra
análoga à escrava. Na eleição de 2014, 51 dos 513 parlamentares eleitos
receberam R$ 3,5 milhões de empresas que estão ou estiveram presentes
nos cadastros de empregadores autuados pelo crime.” (LOCATELLI,
Piero).
“O ônibus clandestino lembra Marcos,
saiu lotado do centro, à
noite. Como os demais, ele levou uma boroquinha (espécie de mochila),
com rede, roupas e R$ 25 adiantados por “Meladinho” para alimentação –
deixou os outros R$ 25 com a mãe. Em Santa Inês, no Maranhão,
embarcaram num trem. Marcos desconfiou quando “Meladinho” disse que
não seguiria viagem, o que é praxe. Se soubesse ler, pensou, tentaria voltar
para casa sozinho. Na penumbra, entrou no trem. Então, nova surpresa: foi
colocado no vagão de cargas, entre as malas, com a orientação de não
circular nos vagões. E assim foi. Por volta das duas da manhã, desceu na
última parada, no meio de um matagal. Poucos metros adiante, subiu, com
os demais, num caminhão pau de araras onde seguiram até alcançar os
portões
da fazenda Brasil Verde, em Sapucaia, no Pará” (LARIZZE,
Thais).
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A tabela 1, a seguir, apresenta,
de forma resumida, os dados encontrados,
destacando o estado da federação, o município, o nome da fazenda, o número de
escravizados e o nome do proprietário da fazenda.
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