Desenvolvimento do setor elétrico sueco
As companhias de produção e distribuição de eletricidade estabeleceram-
se em várias cidades e indústrias da Suécia durante o período de
1880-1900
.
Algumas foram baseadas em geração elétrica térmica, enquanto outras, em pe-
quenas usinas hidrelétricas construídas nos pequenos rios na região mais popu-
losa, o sul da Suécia. Como era difícil manter a competição, o acordo elétrico foi
desenvolvido e companhias locais de eletricidade freqüentemente se tornaram
monopólios pertencentes ao município.
A exploração de grandes rios, a maioria na região menos populosa do
norte da Suécia, começou no início da década de
1900
. Companhias energéticas
com capacidade econômica para participar dessa exploração foram formadas por
indústrias, pelas municipalidades e pelo Estado. A exploração foi possibilitada
por meio de uma legislação especial sobre energia hidráulica.
Linhas de transmissão foram construídas pelo Estado ligando as grandes
usinas hidrelétricas do Norte à população existente no Sul. As companhias lo-
cais, freqüentemente municipais, uma a uma, foram desistindo da produção de
eletricidade e tornaram-se distribuidoras de eletricidade comprada das compa-
nhias geradoras de energia. As companhias locais de eletricidade tornaram-se
varejistas pseudo-independentes com pequeno ou nenhum poder próprio.
A expansão hidrelétrica terminou no final da década de
1980
. Os rios que
poderiam ser explorados a baixo custo já tinham sido utilizados. Aqueles que
restavam necessitavam de investimentos muito grandes em relação à energia
elétrica que poderia ser produzida. Além disso, uma opinião pública crescente se
opunha à exploração dos últimos poucos rios que desembocam no mar Báltico,
aumentando o custo político de qualquer novo projeto. Conseqüentemente, a
crescente demanda de energia elétrica não poderia mais ser satisfeita com novas
usinas hidrelétricas e a atenção voltou-se novamente para a geração térmica.
O desenvolvimento de energia térmica possibilitou às companhias mu-
nicipais de eletricidade do sul da Suécia a recuperação de sua independência.
A geração de eletricidade usando turbinas a vapor abriu a oportunidade para
o uso sistemas de aquecimento distrital e a utilização de água de refrigeração.
Rendas do aquecimento distrital dariam a esses sistemas municipais uma vanta-
gem competitiva sobre as companhias energéticas que não possuíam a mesma
oportunidade de desenvolver redes de aquecimento distritais e teriam que fixar
seus preços suficientemente altos para cobrir todas as despesas dos custos de suas
usinas de energia. As companhias locais viam uma oportunidade para tornarem-
se companhias de energia, e assim retomar as participações perdidas no mercado
durante a era das hidrelétricas.
Esses novos competidores ameaçariam a posição das companhias de ener-
gia, que poderiam controlar o preço da eletricidade, bem como ter controle so-
bre a rede nacional de energia. Na batalha que se seguiu, as companhias estatais
Statens Vattenfallsverk, agora Vattenfall, tinham importante poder de mercado.
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STUDOS
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VANÇADOS
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Vattenfall poderia impedir as companhias municipais de vender o excesso de ele-
tricidade às cidades vizinhas, e cobrava taxas exorbitantemente altas pela energia
a ser suprida no caso de carência de energia numa cidade que se atrevera a cons-
truir co-geração de energia (Steen
&
Kaijser;
1990
. Sintorn,
1990
).
Nesse estágio, a opção pela energia nuclear teve um papel importante na
batalha pelo mercado de eletricidade. Se as companhias de energia pudessem
apresentar a energia nuclear como capaz de produzir energia elétrica mais barata
do que co-geração com combustíveis fósseis, seriam desencorajados investimen-
tos por companhias municipais de energia.
Mas a energia nuclear nunca foi uma opção de baixo custo. Quando os
primeiros reatores foram construídos nos Estados Unidos, e o primeiro peque-
no reator sueco Agesta foi construído, os custos de investimento se mostraram
muito altos para desencorajar ofertas dos competidores de co-geração conven-
cional. A usina do Agesta deveria ter sido concluída em
1961
a um custo de
40
M SEK
. Ela foi concluída em 1964 a um custo de
205 M SEK
. Ela operou com
prejuízos até fechar em
1974
, apesar de o governo ter cancelado a maioria do
custo de investimento (Leijonhufvud,
1994
, p.
47
).
A indústria intensiva de eletricidade foi desenvolvida na Suécia sob con-
dições de mercado definidas pela hidroenergia, com grandes custos de inves-
timento e baixo custo marginal. A energia nuclear, também, parecia fornecer
baixos custos marginais, apesar dos altos investimentos. Para clientes industriais,
tal tecnologia pode oferecer baixo custo se, e apenas se, existir supercapacidade.
Uma vez construídas as usinas, a eletricidade será produzida e vendida a preços
tão baixos quanto os custos marginais de curto prazo.
Previu-se também que as usinas de energia nuclear se tornariam mais ba-
ratas se fossem construídas mais usinas. Em particular, se uma série de reatores
idênticos fosse construída, esperava-se que os custos se apresentassem suficien-
temente baixos para tornar competitivas economicamente as usinas de energia
nuclear. A fim de construir uma série de reatores, era necessária a percepção de
grande demanda energética futura.
Quando questionados pelas companhias energéticas, os clientes industriais
tinham interesse em fornecer estimativas exageradas da demanda energética fu-
tura, para criar supercapacidade de fornecimento e obter baixos preços de eletri-
cidade. As companhias energéticas, por sua vez, tomaram essas estimativas como
indicativas de apoio aos seus objetivos de uma grande série de reatores nucleares.
Por volta de
1970
, foram feitas projeções que se revelaram muito distantes do
futuro real. Em
1972
, o
CDI
, um organismo de coordenação das projeções para a
indústria produtora de energia, projetou a necessidade de
24
reatores até
1990
.
Outro fator que incentivou a indústria de eletricidade a fornecer alta esti-
mativa de demanda futura de energia foi a oposição dos ambientalistas à energia
nuclear desde o início da década de
1970
. O movimento antinuclear favorecia
energia eólica, energia solar e biomassa. Energia eólica e biomassa eram econo-
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micamente adequadas. Mas, se a demanda de eletricidade projetada fosse su-
ficientemente alta, a indústria nuclear poderia reclamar que apenas a energia
nuclear poderia satisfazer a demanda.
Fortes atores favoráveis aos cenários de alta necessidade de energia elétrica
montaram a cena para o debate. Em
1974
, uma comissão nacional sobre projeções
de energia (
SOU
,
1974
, p.
64
), baseada pesadamente nas informações fornecidas
pelas indústrias produtoras e consumidoras de eletricidade, anteciparam um consu-
mo de eletricidade de
350 TW
h por volta do ano
2000
. Na realidade, apesar do au-
mento de energia nuclear disponível, o uso real revelou-se menor que
145 TW
h.
O superinvestimento em reatores nucleares que se seguiu pode ser compreen-
dido nesse contexto de respostas individuais racionais dado às condições e aos inte-
resses econômicos. A indústria intensiva de eletricidade ofereceu números muito al-
tos para as necessidades futuras. Os administradores das companhias de energia não
analisaram criticamente tais números porque as projeções resultantes se ajustavam
muito bem aos seus objetivos políticos: as projeções justificavam a idéia de construir
um grande número de reatores para abaixar os custos de investimento, e o rápido
crescimento da demanda mostrou que a energia renovável não era suficiente.
Mesmo antes da construção dos últimos reatores suecos após o referendo
em
1980
, já estava claro para muitas pessoas que a demanda não criaria preços
para a eletricidade que pagariam o custo total de produção dos reatores planejados
(Kågeson,
1980
; Millqvist et al.,
1979
).
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