Discentes:____________________________________________________________________
Turma:_______________
1) Até a extinção do tráfico negreiro, o número de escravos existentes em todo o país correspondia a cerca
de 33% da população. No Rio de Janeiro, entretanto, os cativos representavam de 40 a 50% do total de
habitantes. O historiador Luiz Felipe de Alencastro escreve sobre essa situação:
Considerando que a população do município praticamente dobrou nos anos 1821-1849, a corte agregava
nessa última data, em números absolutos, a maior concentração urbana de escravos existentes no mundo
desde o final do Império Romano: 110 mil escravos para 266 mil habitantes. No entanto, ao contrário do que
sucedia na Antiguidade, o escravismo moderno, e particularmente o brasileiro, baseava-se na pilhagem de
indivíduos de uma só região [...]. Em outras palavras, no moderno escravismo do continente americano a
oposição senhor/escravo desdobra-se numa tensão racial que impregna toda a sociedade. Tamanho volume
de escravos dá à corte as características de uma cidade [...] meio africana. Entranhado no Estado
centralizado, difundido em todo o território, na corte e nas províncias mais prósperas como nas mais remotas,
o escravismo brasileiro ameaçava a estabilidade da monarquia e fazia o país perigar. E a elite imperial sabia
disso: [...] o Brasil será
— até 1850 — o único país independente a praticar o tráfico negreiro, assimilado à
pirataria e proibido pelos tratados internacionais e pelas próprias leis nacionais.
(ALENCASTRO, Luiz Felipe de.
Vida privada e ordem privada no império. In: NOVAIS, Fernando A. (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia
das Letras, 1997. v. 2. p. 24-25, 28-29)
a) Como Alencastro caracteriza o escravismo brasileiro, em comparação com o escravismo antigo (grego,
romano etc.)?
b) Por que, para o autor, o escravismo brasileiro “ameaçava a estabilidade da monarquia e fazia o país
perigar”?
2) Segundo o historiador Boris Fausto, Luiz Gama (1830-
1882) “tem uma biografia de novela”.
Seu pai era um fidalgo de família portuguesa e sua mãe era Luíza Mahin, ex-escrava que teria participado
da Sabinada e da Revolta dos Malês. Quando tinha 10 anos, Gama foi vendido ilegalmente como escravo
por seu pai. Foi apenas aos 18 anos que ele conquistou sua liberdade. Em 1850, Gama tentou cursar Direito
na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, onde era hostilizado por alunos e
professores. Mesmo sem diploma, ele atuou como jornalista e defendeu a causa da abolição na Justiça,
ajudando a libertar mais de 500 pessoas escravizadas. Luiz Gama morreu em 1882, alguns anos antes da
abolição. Conta-se que cerca de 3 mil pessoas participaram de seu enterro em São Paulo. Na época, o
escritor Raul Pompeia, amigo de Gama, redigiu um artigo intitulado “Última página da vida de um grande
homem”. Leia, a seguir, um trecho desse artigo.
[...] não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de
gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede
esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor
[...] E Luiz Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando
as mais angélicas ações [...]. E Luiz Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava,
sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia iluminando à custa da própria vida as
trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sombra de lucro [...] E, por esta filosofia,
empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bem [...]. Pobre, muito pobre, deixava para os outros
tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado [...].
*Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) homenageou Luiz Gama, concedendo-lhe o registro profissional honorário de
advogado
a) De acordo com o artigo de Raul Pompeia, como Luiz Gama atuava em relação aos escravos?
b) Escreva
um texto, com a sua opinião, dizendo por que a Ordem dos Advogados
do Brasil demorou tanto
tempo para conceder registro profissional a Luiz Gama.
Professor: Letícia Brandão (História)
Atividade Avaliativa História
Valor: 15
pontos