aqueles que o combatiam, é ou puro teatro, a variante “revolucionária” da hipocrisia, ou dá testemunho do
idiotismo político dos “seguidores”. Só que há quarenta anos atrás era a política deliberadamente pró-Hitler de
Stalin, e não apenas algumas teorias estúpidas, que os fundamentavam. Na verdade, não há razão para
surpresa com o fato de que os estudantes alemães dedicam-se mais à teorização e menos à ação política para a
qual são menos bem-dotados, assim como para o julgamento crítico do que seus colegas de outros países
politicamente mais afortunados; nem de que “o isolamento de mentes inteligentes e vitais... na Alemanha”, é
político de seu próprio país, com exceção dos fenômenos de reação, é quase nenhum. Eu também concordaria
ainda recente, de maneira que os estudantes têm ressentimentos, não apenas por causa de sua violência, mas
por também despertarem lembranças (...) também eles têm aspecto de fantasmas que se levantam de sepulturas
apressadamente cobertas”. E, no entanto, quando tudo já foi dito e registrado,’ permanece o faiõ estranho e
nacionalistas ou imperialistas de outros países tem sido notoriamente extremista, tem-se dedicado seriamente
ao reconhecimento da Linha “Oder-Neisse”, a qual, afinal, é a questão crucial da política externa alemã e a
Daniel Bell é cuidadosamente esperançoso por estar consciente de que o trabalho científico e técnico
depende do “conhecimento teórico (que) é procurado, testado, e codificado de uma maneira desinteressada” (op.
cit). Talvez esse otimismo possa ser justificado enquanto os cientistas e tecnologistas permanecerem pouco
interessados no poder e voltados para o prestígio social, isto é, enquanto não tiverem poder e nem governarem.
O pessimismo de Noam Chomsky, “nem a história, nem a psicologia e nem a sociologia nos dão qualquer razão
particular para aguardarmos com esperança o domínio dos novos mandarins”, pode ser excessivo; não existem
ainda precedentes históricos, e os cientistas e intelectuais que, com tão deplorável regularidade, estiverem
sempre disponíveis para servir a qualquer governo que estivesse no poder, não são “meritocratas”, mas sim,
arrivistas. Mas Chomsky está inteiramente correto ao levantar a questão: “De forma
muito geral, que
fundamentos existem para se supor que aqueles cuja reivindicação do poder se baseia no conhecimento e na
técnica serão mais benignos no exercício do poder do que aqueles que o reivindicam com base em riquezas
materiais ou em sua origem aristocrática?” (op. cit, p. 27). E existem razões para que seja levantada a pergunta
complementar: que base existe para se supor que o ressentimento contra uma meritocracia, cujo domínio se
baseia exclusivamente em dons “naturais”, isto é, na capacidade intelectual, não será mais perigoso, ou mais
violento do que o ressentimento de grupos oprimidos anteriormente, que tinham pelo menos o consolo de que a
sua condição não fora causada por sua própria culpa? Não será plausível supor que esse ressentimento irá
abrigar todas as inclinações assassinas de um antagonismo racial, distinto de meros conflitos de classe, visto
que se relacionará também a dados naturais que não podem ser mudados, e daí a condição da qual alguém só
se libera através da exterminação daqueles que possuem um Q.I. mais alto? E já que o poder numérico daqueles
em desvantagem será esmagador e a mobilidade social quase que ausente, não será provável que o perigo de
demagogos, de líderes populares, será tão grande que a meritocracia seria forçada à tirania e ao despotismo?
XVII
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N
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Stewart Alsop, em um artigo de muita percepção, “‘The Wallace Man”, em Newsweek (21 de outubro de
1968) afirma: “Pode ser pouco liberal a atitude do homem de ‘Yallace ao recusar-se a enviar os seus filhos a
escolas piores em nome da integração, mas também não deixa de ser natural. E também não deixa de ser
natural que ele se inquiete com a preocupação de sua esposa, ou com o fato de estar perdendo a sua autoridade
em casa, que é afinal tudo o que possui! Cita ele também a declaração mais eficaz da demagogia de George
Wallace: “Há 535 membros no Congresso e muitos desses liberais também têm filhos. Sabe quantos deles
enviam seus filhos a escolas públicas em Washington? Seis”. Outro exemplo de fundamental importância de
uma política de integração mal concebida foi recentemente publicado por Neil Maxwell em The Wall Street
Journal (8 de agosto de 1968). O governo federal promove a integração das escolas no Sul através da contenção
de fundos em casos de desobediência flagrante. Em um caso destes, USS 200.000 de ajuda anual foram retidos.
“Do total, US$ 175.000 foram diretamente para escolas negras (...) Os brancos imediatamente aumentaram os
impostos para repor os outros US$25.000.” Em resumo, aquilo que presumivelmente irá ajudar à educação dos
negros exerce na verdade um “impacto esmagador” em seu sistema educacional e absolutamente nenhum
impacto nas escolas brancas.
XVIII
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No sombrio clima das discussões entre os estudantes ocidentais, estas questões quase nunca têm uma
chance de serem esclarecidas; na verdade, “esta comunidade, verbalmente tão radical, sempre procurou e
encontrou uma fuga”, nas palavras de Cünter Crasso É também verdade que este fato é de se notar, de modo
especial e irritante, nos estudantes alemães e em outros membros da Nova Esquerda. “Eles não sabem nada,
mas sabem de tudo”, conforme afirmou um jovem historiador em Praga, segundo Crasso Hans Magnus
Enzensberger é porta-voz da atitude geral alemã; os tchecos sofrem de “um horizonte extremamente limitado. A
sua substância política é escassa”. (Ver Cünter Crass, op. cit., pp. 138-142.) Em contraste com esta mistura de
estupidez e impertinência, a atmosfera entre os rebeldes do Leste é refrescante, embora seja de estremecer o
preço exorbitante pago por ela. Jan Kavan, líder estudantil tcheco, escreve: “Os meus amigos da Europa
Ocidental têm me dito que estamos apenas lutando por liberdades democrático-burguesas. Mas não consigo
distinguir entre liberdades capitalista,s e socialistas. O que reconheço são as liberdades humanas básicas”
(Ramparts, setembro, 1968). E seguro presumir que ele teria uma dificuldade semelhante com a distinção entre
“violência progressiva e repressiva”. Entretanto, seria errado concluir, como tão freqüentemente se faz, que o
povo nos países ocidentais não têm reclamações legítimas precisamente em questões de liberdade. Realmente, é
apenas natural “que a atitude dos tchecos para com os estudantes Ocidentais é até certo ponto colorida pela
inveja”. (Citado de um jornal estudantil por Spender, op. cit., p. 72) mas é também verdade que a eles faltam
certas experiências menos brutais e ainda assim, muito decisivas em matéria de frustração política.
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