Bedrohung, Zurique, 1969). E o Professor de Harvard George Wald, ganhador do Prêmio Nobel, no seu famoso
discurso no M.I.T., em 4 de março de 1969, corretamente sublinhou que tal tipo de professores compreende “as
razões do desconforto (dos seus alunos) melhor do que eles próprios” e, ainda mais, que estes professores
“compartilham esse sentimento”, op. Cit.
V
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A atual politização das Universidades, corretamente deplorada, é atribuída em geral aos estudantes
rebeldes, acusados de atacar as Universidades por constituírem elas o elo mais fraco na corrente do poder
estabelecido. É verdade que as Universidades não poderão sobreviver se o distanciamento intelectual e a busca
desinteressada da verdade chegarem ao fim; e, o que é pior, é pouco provável que a sociedade civilizada de
qualquer tipo seja capaz de sobreviver ao desaparecimento destas curiosas instituições cuja principal função
política e social repousa precisamente em sua imparcialidade e independência das pressões sociais e do poder
político. O poder e a verdade, ambos perfeitamente legítimos em seu próprio direito, são fenômenos
essencialmente distintos, e a sua busca resulta em modos de vida essencialmente diferentes.
Zbigniew Brzezinski, em América na Idade Tecnotrônica (Encounter, janeiro, 1968), nota esse perigo,
porém está ou resignado ou, pelo menos, não se deixa inutilmente alarmar pelo prospecto. Acredita ele que a
tecnotrônica é a precursora de uma nova “supercultura” sob a orientação dos novos intelectuais orientados para
a organização e voltados para o pragmatismo (Ver especialmente a recente análise crítica de Noam Chomsky,
Objectivite and Liberal Scholarship in op. cit.). Bem, é muito mais provável que essa nova geração de intelectuais,
conhecidos anteriormente como tecnocratas, introduzirá uma era de tirania e total esterilidade.
Seja como for, a questão é que a politização das Universidades pelo movimento estudantil foi precedida
pela politização das Universidades por parte dos poderes estabelecidos. Os fatos são por demais conhecidos e
não necessitam ser enfatizados, mas é bom ter em mente que não se trata aqui simplesmente de uma questão
para a pesquisa militar. Henry Steele Commanger denunciou recentemente “a Universidade como Agência de
Empregos” (The New Republic, 24 de fevereiro de 1968). De fato, “não se pode de maneira alguma alegar que a
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Dow Chemical Company, os Fuzileiros Navais ou a CIA sejam estabelecimentos educativos”, ou instituições cujo
objetivo é a busca da verdade. E o Prefeito John Lindsay levantou a questão relativa ao direito da Universidade
de se considerar “uma instituição especial, divorciada das aspirações mundanas enquanto entrega-se às
especulações imobiliárias e ajuda a planejar e avaliar projetos para os militares no Vietnam” (New York Times
“The Week in Review”, 4 de maio, de 1969). Pretender que a Universidade seja o “cérebro da sociedade” ou da
estrutura de poder é um absurdo perigoso e arrogante, quando pouco, porque a sociedade não é um
“organismo”, ainda mais um organismo sem cérebro.
A fim de evitar mal-entendidos, concordo plenamente com Stephen Spender que seria loucura destruírem
os estudantes as Universidades (embora sejam eles capazes de fazê-lo, uma vez que têm números e, portanto
poder real, ao seu lado), uma vez que os campus constituem não apenas a sua base real, mas também a sua
única base. “Sem a Universidade, não existiriam estudantes” (p.22). Mas as Universidades continuarão sendo
uma base para os estudantes apenas enquanto proporcionarem elas o único refúgio na sociedade onde o poder
não detém a última palavra – não obstante todas as perversões e hipocrisias em contrário. Na situação atual, há
um perigo de que ou os estudantes ou, como no caso de Berkeley, os poderes existentes, passem a golpear às
cegas; se tal coisa acontecer, os jovens rebeldes terão simplesmente acrescentado mais um ponto ao que se
chamou muito acertadamente “o molde do desastre”. (Professor Richard A. Falk, de Princeton.)
VI
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Escreve Fred M. Hechinger, em um artigo, “Campus Crisis”, in New York Times, “The Week in Review” (4
de maio de 1969): “Uma vez que as reivindicações dos estudantes negros em especial justificam-se em geral em
sua substância... a reação é comumente de solidariedade”. Parece uma característica dessas questões o fato de
que o “Manifesto às Igrejas Cristãs Brancas e às Sinagogas judias dos Estados Unidos e todas as outras
Instituições Racistas”, ainda que lido em público e amplamente distribuído, por isso certamente “notícia
adequada à publicação”, permaneceu não publicado até que o New York Review of Books (10 de julho de 1969)
publicou-o sem a Introdução, O seu conteúdo é, na verdade, pura fantasia semi-analfabeta, e provavelmente
não deveria ser levada a sério. Porém trata-se de algo mais do que uma brincadeira, e não é segredo algum que a
comunidade negra permite-se hoje em dia tais fantasias. Compreende-se, portanto, que as autoridades estejam
temerosas. O que não se pode compreender e nem desculpar é a sua falta de imaginação. Não será óbvio que
Forman e seus seguidores, se não encontrarem qualquer oposição na comunidade em geral, e se receberem até
mesmo algum dinheiro que os possa apaziguar, serão forçados a executar um programa no qual nem eles
próprios talvez jamais tenham acreditado?
VII
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NOTA
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Em carta ao New York Times (datada de 9 de abril, de 1969), Lynd menciona apenas “ações destrutivas
não-violentas” tais como greves e sit-ins, ignorando para os seus objetivos as tumultuadas manifestações
violentas das classes trabalhadoras na década de vinte, e levanta a questão indagando por que estas táticas
“aceitas durante uma geração nas relações entre patrões e empregados (...) são rejeitadas quando praticadas em
um campus? (...) quando um líder sindicalista é despedido de uma fábrica, os seus companheiros deixam o
trabalho até que a sua reivindicação seja objeto de acordo”. Parece que Lynd aceitou uma imagem universitária,
infelizmente não pouco freqüente entre os membros do conselho diretor e entre administradores, segundo a qual
a Universidade pertence ao conselho diretor, que contrata a administração para dirigir a sua propriedade, e que
por sua vez contrata a congregação como empregados para servirem aos seus fregueses, os estudantes. Não
existe realidade que corresponda a esta “imagem”. Pois por mais agudos que sejam os conflitos no mundo
acadêmico, não envolvem eles problemas de interesses antagônicos e de lutas de classes.
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VIII
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O líder negro Bayard Rustin, já disse tudo aquilo que tinha de ser dito acerca do assunto: As autoridades
universitárias deveriam “deixar de capitular face às reivindicações estúpidas dos estudantes negros”; está errado
que um grupo, por causa de seu “complexo de culpa e masoquismo permita que outro segmento da sociedade
pegue em armas em nome da justiça”; os estudantes negros estariam “sofrendo do choque da integração” e
procurando “um caminho fácil que lhes solucionasse os problemas”; o que os estudantes negros necessitam é de
um “treinamento corretivo” de maneira que “pudessem fazer cálculos matemáticos e escrever uma sentença sem
erros”, ao invés dos “cursos de ‘soul’”. (Citado do Daily News, 28 de abril, de 1969). Que reflexão sobre a
situação moral e intelectual da sociedade, a de que seria necessária muita coragem para se falar com bom senso
sobre estes assuntos! Ainda mais atemorizante é o prospecto extremamente provável de que, em cinco ou dez
anos, essa “educação” em Swahili (um tipo de não-idioma do século XIX falado pelas caravanas árabes de
escravos e marfim, uma mistura híbrida de um dialeto Banto com um imenso vocabulário emprestado pelo
Árabe; ver a Enciclopédia Britânica, 1961), a literatura africana, e outras matérias não-existentes serão
interpretadas como uma outra armadilha imaginada pelo homem branco a fim de evitar que os negros adquiram
uma boa educação.
IX
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O “Manifesto” de James Forman (adotado pela Conferência Nacional sobre o Desenvolvimento Econômico
Negro), que mencionei anteriormente e que ele apresentou às Igrejas e Sinagogas como “apenas um início das
reparações a nós devidas como povo explorado e aviltado, brutalizado, morto e perseguido,” parece ao leitor um
clássico exemplo desses sonhos vãos. Segundo ele, “de acordo com as leis da revolução são os mais oprimidos
que farão a revolução”, cujo objetivo final é que “assumamos a liderança, o controle total... dentro dos Estados
Unidos de tudo que existe. Foi-se a época em que éramos sempre os subalternos e o homem branco mantinha-
se no alto”. Para alcançar esta transformação, será necessário “empregar todos os meios necessários, inclusive
com o uso da força e do poder das armas para derrubar o colonizador”. E enquanto ele, em nome da
comunidade (a qual certamente, de maneira alguma o apóia), “declara a guerra”, recusa-se a “dividir o poder
com os brancos”, e exige que “os brancos deste país (...) aceitem de bom grado a liderança negra, “e conclama ao
mesmo tempo” todos os cristãos e judeus a praticarem a paciência, a tolerância, a compreensão e a não-
violência” – durante o período que ainda for necessário – “não importa se tal coisa vier a acontecer daqui a .mil
anos” – para alcançar o poder.
X
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Jürgen Habermas, um dos cientistas sociais mais profundos e inteligentes da Alemanha, é um bom
exemplo das dificuldades encontradas por estes marxistas ou ex-marxistas em tentar afastar-se de quaisquer
partes do trabalho do mestre. Em seu recente Technik und Wissenschaft als ‘Ideologie’ (Frankfurt, 1968),
menciona ele várias vezes que certas “categorias chave da teoria de Marx, isto é, a luta de classes e a ideologia,
não mais podem ser aplicadas sem restrições ou dificuldades (umstandlos)”. Uma comparação com o ensaio de
Andrei D. Sakharov citado acima mostra como é muito mais fácil para aqueles que encaram o “capitalismo” da
perspectiva das desastrosas experiências dos países do Leste europeu rejeitar teorias e “slogans” ultrapassados.
XI
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As sanções da lei que, no entanto não são as suas essências, são dirigidas contra aqueles cidadãos que,
sem recusar o apoio que oferecem, desejam ser exceções; o ladrão ainda espera que o governo proteja a sua
propriedade recentemente adquirida. Observe-se que nos sistemas jurídicos mais antigos não existiam sanções
(ver Jouvenel, op. cit., p. 276). O castigo de quem violava a lei era o banimento ou a proscrição; ao violar a lei,
coloca-se o criminoso fora da comunidade constituída por esta lei.
Passerin d’Entreves (op. cit., pp. 128ff), levando em conta “a complexidade da lei, mesmo da lei do
Estado”, salientou que “há realmente leis que são ‘diretivas’ ao invés de ‘imperativas’, que são’aceitas’ e não
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‘impostas’, e cujas “sanções” não insistem necessariamente no possível uso da força por parte de um “soberano”.
Tais leis, ele as comparou “às regras de um jogo, ou às do clube, ou da Igreja”. Eu as obedeço “porque para mim,
ao contrário de outros cidadãos, essas regras são ‘válidas’”.
No meu entender a comparação de Passerin d’Entrèves da lei com “as regras do jogo” pode ser levada
mais longe. O objetivo dessas regras não é que eu me submeta a elas voluntariamente ou reconheça a sua
validade teoricamente, mas que na prática eu não posso jogar o jogo a não ser que me conforme; minha razão
para aceitar é o meu desejo de jogar, e já que os homens só existem no plural, meu desejo de jogar é idêntico ao
meu desejo de viver. Todo homem nasce em uma comunidade que possui leis pré-existentes que ele “obedece”
em primeiro lugar porque não há outra maneira pela qual possa participar do grande jogo do mundo. Posso
desejar mudar as regras do jogo, a exemplo do revolucionário, ou fazer de mim mesmo uma exceção, a exemplo
do criminoso; mas negá-las por princípio significa não uma mera “desobediência”, mas uma recusa em entrar
para a comunidade humana. O dilema de sempre – ou a lei é válida de forma absoluta e, portanto necessita para
a sua legitimidade um legislador imortal e divino, ou a lei é simplesmente uma ordem sem apoio algum exceto o
monopólio pelo Estado da violência – é uma ilusão. Todas as leis são “diretivas” e não “imperativas”. Elas
regulam as relações humanas assim como as regras dirigem o jogo. E a garantia final de sua validade está
contida na velha máxima romana Pacta sunt servanda.
XII
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Existe alguma controvérsia sobre a finalidade da visita de de Gaulle. O que os próprios eventos sugerem é
que o preço que ele teve que pagar pelo apoio do Exército foi à reabilitação pública de seus inimigos – anistia
para o General Salan, o retorno de Bidault, o retorno também do Coronel Lacheroy, chamado algumas vezes de
“torturador de Argélia”. Não se sabe muito sobre as negociações. Ficamos tentados a pensar que a recente
reabilitação de Pétain, glorificado novamente como “vitorioso de Verdun” e, de forma mais importante, a incrível
declaração de de Gaulle, obviamente mentirosa, imediatamente após o seu retorno, culpando o Partido
Comunista pelo que os franceses chamam agora de les événements, foram parte da barganha. Deus sabe que a
única censura que o governo poderia ter feito ao Partido Comunista e aos sindicatos é a de que a eles faltou
poder para evitar les etíénements.
XIII
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Seria interessante saber se, e a que ponto, o índice alarmante de crimes sem solução equipara-se, não
apenas ao aumento espetacular de crimes, mas também a um aumento da brutalidade policial. O livro
recentemente publicado Uniforrn Crime Report for the United States, de J. Edgar Hoover (Escritório Federal de
Investigações – “FBI” – Ministério da Justiça dos Estados Unidos, 1967), não fornece qualquer indicação sobre
como muitos crimes são realmente solucionados – em contraposição àqueles “solucionados pela prisão do
criminoso” – porém menciona no sumário que as soluções pela polícia de crimes sérios declinaram em 1967 em
8%. Apenas 21.7 (ou 21.9)% de todos os crimes são “solucionados por prisão”, e dentre estes apenas 75%
poderiam ser levados aos tribunais, onde apenas cerca de 60% dos indiciados foram considerados culpados.
Assim, as chances a favor do criminoso são tão altas que o constante aumento dos delitos parece natural. Sejam
quais forem as causas do espetacular declínio da eficiência da polícia, é evidente o declínio de seu poder, e com
ele aumenta a possibilidade de brutalidade no seu comportamento. Os estudantes e outros participantes de
demonstrações são presa fácil para a polícia que se acostumou a raramente aprisionar um criminoso.
Uma comparação da situação com a de outros países é difícil por causa dos diferentes métodos
empregados. Mesmo assim, parece que, embora o aumento de crimes não solucionados seja aparentemente um
problema bastante geral, não alcançou ele em nenhum outro lugar proporções tão alarmantes quanto na
América. Em Paris, por exemplo, a proporção de crimes solucionados declinou de 62% em 1967 para 56% em
1968, na Alemanha de 73,4% em 1954 para 52,2% e na Suécia apenas 41 % dos crimes foram resolvidos em
1967. (Ver “Deutsche Polizei”, in Der Spiegel em 7 de abril de 1967).
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XIV
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Mostra Solzhenitsyn em detalhes concretos como as tentativas para um desenvolvimento econômico
racional foram destruídas pelos métodos de Stalin, e espera-se que este livro possa apaziguar o mito segundo o
qual o terror e as imensas perdas em vidas humanas foram o preço que teve que ser pago pela rápida
industrialização do país. Houve rápido progresso após a morte de Stalin, e o que surpreende na Rússia hoje é
que o país está ainda atrasado em comparação não apenas ao Ocidente, mas também à maior parte dos países
satélites. Na Rússia não parece haver muitas ilusões a esse respeito, se é que já houve alguma. A geração mais
jovem, especialmente os veteranos da 2ª Grande Guerra, sabe muito bem que apenas um milagre salvou a
Rússia da derrota em 1941, e que este milagre foi o fato brutal de que o inimigo era ainda pior do que o
governante nacional. O que afetou a balança foi o fato de que o terror policial cedeu à pressão da emergência
nacional; o povo, sem controle, pôde reunir-se novamente e gerar poder suficiente para derrotar o invasor
estrangeiro. Ao retomarem dos campos de prisioneiros de guerra ou dos países ocupados, foram imediatamente
enviados, por longos anos, a campos de trabalhos forçados ou de concentração para que perdessem os seus
hábitos de liberdade. É precisamente essa geração, que experimentou a liberdade durante a guerra e o terror em
seguida, que desafia agora a tirania do atual regime.
XV
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Ninguém em sã consciência pode crer – como teorizaram recentemente certos grupos de estudantes
alemães – que apenas quando tenha o governo sido forçado a “praticar a violência abertamente” poderão os
rebeldes “lutar contra esta sociedade de m... (Scheissgesellschaft) com meios adequados e destruí-la” (Citado em
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