Plaisir d’ trouver un exposé tres cIair et tres fidele de ma pensée.
III
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N
OTA
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Trata-se realmente de um grupo misturado. Os estudantes radicais misturam-se facilmente aos drop-
outs, hippies, viciados em drogas, e psicopatas. A situação complica-se ainda mais com a insensibilidade dos
poderes estabelecidos para com as distinções sempre sutis entre crime e irregularidade, distinções estas de
grande importância. Os sit-ins e as ocupações de prédios não são o mesmo que o incêndio proposital ou a
revolta armada, e a diferença não é apenas de grau. (Contrariamente à opinião de um membro da Board of
Trustees de Harvard, a ocupação de uma Universidade pelos estudantes não é a mesma coisa que a invasão de
uma filial do First National City Bank por uma multidão de populares, pela simples razão de que os estudantes
estão invadindo uma propriedade cujo uso, certamente, está sujeito a regulamentos, mas à qual pertencem e
que lhes pertence tanto quanto à congregação ou à administração). Ainda mais alarmante é a inclinação por
parte da congregação e da administração em tratar os viciados em drogas e os elementos que cometeram crimes
(no City College em Nova Iorque e na Universidade de Cornell) com muito mais tolerância do que os autênticos
rebeldes.
Helmut Scheisky, cientista social alemão, descreveu ainda em 1961 (em Der Mensch in der
Wissenschaftlichen Zivilisation, Kõln und Opladen, 1961) a possibilidade de um “niilismo metafísico” que
significaria a negação radical espiritual e social “de todo o processo da reprodução técnico-científico do ser
humano”, isto é, o não dito ao “mundo em ascensão da civilização científica”. Chamar essa atitude de niilista
pressupõe uma aceitação do mundo moderno como o único mundo possível. O desafio dos jovens rebeldes diz
respeito precisamente a esse ponto. Há de fato bastante sentido em virar as mesas e afirmar, como fizeram
Sheldon Wolin e John Schaar na op. cit.: “O grande perigo no momento presente é que os membros do
Establishment e as pessoas respeitáveis... parecem preparados para apoiar a recusa mais profundamente niilista
possível, que é a recusa do futuro através da recusa de seus próprios filhos, os condutores do futuro”.
Escreve Mathan Glazer, em um artigo, “O Poder Estudantil em Berkeley”, no número especial de The
Public Interest, The Universities, outono de 1968: “Os estudantes radicais... lembram-me mais os destruidores de
máquinas “Luddite” do que os sindicalistas socialistas que conquistaram a cidadania e o poder para os
trabalhadores”, concluindo ele que Zbigniew Brzezinski (em artigo sobre a Universidade de Columbia in The New
Republic de 1° de junho de 1968) estivesse talvez certo de seu diagnóstico: “Muito freqüentemente as revoluções
são os últimos espasmos do passado, e portanto não se tratam de revoluções mas de contra-revoluções,
realmente, agindo em nome das revoluções”. Não será essa tendência em favor de caminhar em frente a
qualquer preço bastante estranha em dois autores que são geralmente considerados conservadores? E não será
ainda mais estranho que Glazer se mantenha inconsciente das diferenças decisivas entre a fabricação de
maquinaria na Inglaterra do início do século XIX e os instrumentos desenvolvidos em meados do século XX que
revelaram-se altamente destrutivos mesmo quando mais pareciam trazer benefícios – a descoberta da energia
nuclear, da automação,da medicina cujos poderes de cura acabaram por produzir a superpopulação, que com
toda a certeza levará, por sua vez, à fome coletiva, poluição do ar, etc.?
58
IV
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NOTA
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Procurar precedentes e analogias onde estes não existam, evitar relatar ou refletir o que está sendo dito e
o que está sendo feito em termos dos próprios eventos, sob o pretexto de que devemos aprender as lições do
passado, particularmente da época compreendida entre as duas guerras mundiais, tornou-se uma característica
da maioria dos debates atuais. Inteiramente livre dessa forma de escapismo é o esplêndido e sábio relatório de
Stephen Spender sobre o movimento estudantil, acima citado. É ele um dos poucos de sua geração inteiramente
atentos para o presente e conservando, ao mesmo tempo, as memórias de sua própria infância de maneira a
estar consciente das diferenças no que diz respeito às inclinações, estilo, idéias e ações. (“Os estudantes de hoje
são inteiramente diferentes daqueles de Oxford e Cambridge, Harvard, Princeton ou Heidelberg há quarenta
anos atrás”, p. 165). Mas a sua atitude é compartilhada por todos aqueles, não importa em que geração, que se
preocupam verdadeiramente com o futuro do homem, e do mundo, ao contrário daqueles que jogam com ele.
(Wolin e Schaar, op. cit., falam de um “renascimento de um sentido de destino compartilhado”, como uma
ponte.entre as gerações, de “nossos temores comuns de que as armas científicas destruam toda a vida, de que a
tecnologia irá desfigurar os homens que vivem nas cidades, da mesma maneira como já corrompeu a terra e
obscureceu o céu;” que o “progresso” na indústria destruirá a possibilidade de trabalho interessante; e que as
“comunicações” apagarão os últimos resquícios das várias culturas que são a herança de todas as sociedades
exceto aquelas mais ignorantes.) Pareceria natural se tal coisa se passasse com mais freqüência com os
estudantes das ciências como a biologia e a física, do que com os estudiosos das ciências sociais, embora os
estudantes das primeiras demoraram-se muito mais a rebelar-se do que os seus colegas estudantes das
humanidades. Assim, o famoso biólogo suíço Adolf Portmann, vê o vácuo entre as gerações como algo que pouca
relação tem com um conflito entre os jovens e os mais velhos; coincide ele com o advento da ciência nuclear; “a
situação mundial que resultou disso é completamente nova ... (e) não pode ser comparada sequer à mais
poderosa das revoluções do passado”. (Em um panfleto intitulado Manipulation des Menschenals Shicksal und
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