Construindo um sentido de América Latina na formação em Geografia: uma proposta metodológica
13. Reflexiones para una Educación Geográfica en una Latinoamérica cambiante y diversa
Ponencia
Brandão, Paulo Roberto Baqueiro1
Resumo
Com vistas à formação crítica e reflexiva dos futuros profissionais de Geografia da UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia, Brasil) sobre a formação territorial una e múltipla da América Latina, foi implantado o componente curricular “Geografia da América Latina” como disciplina para os cursos de graduação. Estando à frente da tarefa de lecionar a dita disciplina, este autor formulou um plano de ensino que busca conciliar o rigoroso estudo geográfico – empregando textos de referência (BAGU, 1949; BOLÍVAR, 2018; BOMFIM, 2008; KRENAK, 2020; MARIÁTEGUI, 2010; MARTÍ, 2011; RIBEIRO, 1975) – a uma ilustração lúdica – mas não menos sistemática – da formação territorial latinoamericana por meio da exibição e análise de produções cinematográficas a partir da perspectiva metodológica da Geografia Histórica, implicando na utilização de uma periodização.
Essa dita periodização considera a formação territorial do subcontinente desde o período pré-colombiano até a atualidade. Assim, ao promover um diálogo entre Ciência Geográfica e Artes para a geração de conhecimentos sobre a América Latina, no plano de ensino da disciplina em exame, a periodização empregada toma como base aquela proposta por Eduardo Galeano (1996, 1997, 1998) na trilogia “Memória do Fogo”. Portanto, a compreensão da Geografia Histórica subcontinental se faz pela utilização de uma versão adaptada da periodização proposta pelo escritor uruguaio e sua reconstituição se dá pelo exame de filmes atinentes a cada um dos períodos.
Destarte, o objetivo desta comunicação é dar ciência e debater o escopo metodológico desenvolvido para ser aplicado no plano de curso dessa disciplina denominada “Geografia da América Latina”, além de analisar as possibilidades de uso do cinema como recurso para o estudo da geografia latinoamericana na longa duração.
Atualmente, investigadores e professores de Geografia utilizam fontes de pesquisa e recursos didáticos que fogem daqueles considerados tradicionais. Ganha força, por exemplo, o uso científico e didático de filmes e obras literárias que, de alguma maneira, expressam certo conteúdo geográfico em seus roteiros e narrativas. O desenvolvimento dessa proposta metodológica se deu a partir da análise de dois aspectos: a constituição de uma periodização que permitisse uma análise espacial da América Latina na longa duração e a escolha das obras fílmicas empregadas na empreitada.
Na trilogia “Memória do Fogo”, Galeano evocou uma memória da América Latina por meio de um amplo mosaico de histórias que abarcam distintas espacialidades e temporalidades. Para tanto, o autor reinterpreta fragmentos extraídos de uma base rigorosa de fontes documentais e bibliográficas. Os três volumes formam uma periodização cujos períodos foram assim definidos: “Os nascimentos”, que abarca uma temporalidade anterior à chegada dos europeus na América até 1700, “As caras e as máscaras”, entre 1701 e 1900, e “O século do vento”, que abrange o século XX. Há que se considerar, porém, que a constituição dos períodos não contempla o século atual, exigindo a formulação de um quarto, correspondente aos três últimos decênios.
O período denominado “Os nascimentos”, correspondente ao primeiro volume da trilogia, é atemporal no seu início, pois trata dos mitos fundadores de algumas das diversas sociedades indígenas, e tem o seu encerramento em 1700, ano da morte do Rei Carlos II de Espanha, a quem se atribui a condição de último monarca da dinastia responsável pela conquista da América. Nesse interstício, o debate proposto é dedicado à compreensão dos seguintes temas: (a) Das geografias de Abya Yala à colonização europeia e (b) As lógicas territoriais da conquista e colonização europeia.
O período seguinte, “As caras e as máscaras”, tem início com o findar do anterior, seguindo, conforme delineado por Galeano, até 1900. Porém, vale acentuar uma adaptação: na proposta da disciplina, o dito período tem seu término em 1898, ano da Guerra Hispano-Americana, evento que demarca o fim do poder colonial europeu na América Latina, inaugurando a fase imperialista estadunidense. A análise desse período destina-se à compreensão desses temas: (a) Geopolítica colonial e fronteiras latinoamericanas; (b) As independências e a fragmentação territorial; e (c) O desenvolvimento desigual das nações latinoamericanas.
O século do vento é o terceiro período – o último, segundo a trilogia – e transcorre ao longo do século XX. A sua exploração se dá a partir da abordagem dos seguintes temas: (a) A geopolítica do imperialismo na América Latina; (b) A alienação do território no século XX; (c) Urbanização e metropolização latinoamericanas.
Aos períodos assinalados coube acrescentar um último (não previsto na trilogia de Galeano), mas denominado como “Adendo ao século XXI”, correspondendo à atual centúria, cujo tema abordado é (a) As dinâmicas territoriais América Latina na contemporaneidade.
Uma vez definida a periodização e temas correlatos, o passo seguinte correspondeu à escolha dos filmes, partindo de três premissas: (a) a produção deve permitir o exame de temas de cunho geográfico; (b) o enredo deve transcorrer em um dos períodos aventados; e (c) a produção deve ser uma síntese de um fenômeno ou processo cuja ocorrência tenha rebatimentos em toda a América Latina, permitindo um exame contextualizado da obra.
A disciplina aqui abordada tem o mérito de envolver os seus participantes em um exame crítico e reflexivo que os permite compreender a formação do(s) território(s) latinoamericano(s) como condição e produto de processos sociais historicamente determinados, além de promover uma ampliação do olhar quanto à importância de linguagens artísticas como recursos para a compreensão da natureza unitária e diversa que a América Latina contém.
Palavras-chaves: América Latina, Formação em Geografia, Educação Geográfica, Cinema.
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