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Eduardo Devés-Valdés
Os ecossistemas intelectuais africanos foram muito fecundos, em especial
recentemente, na produção de escolas de pensamento. Estas foram relativa-
mente pouco estudadas e, em diversas ocasiões, se fez referência ao pensamen-
to africano com baixos níveis de idoneidade profissional, incapacitando essas
pessoas (e as que as lêem) de captar o sentido das escolas aludidas. Pretendeu-
se com este esquema, como conseqüência, fazer um esforço nomeando diversas
escolas para mostrar a fecundidade, distinguir dentro de algumas a existência
de subtendências, como no pan-africanismo, por exemplo, e se procurou car-
tografar alguns subespaços, como o filosófico, o politológico e o teológico, para
mostrar ali a proliferação. Por outro lado, considerar a existência de tais e quais
tendências ou mostrar a eidodiversidade do pensamento sul-saariano deveria
contribuir não apenas para conhecê-lo, mas também para potencializá-lo.
Se me permite usar e abusar (?) da linguagem, creio que as coisas podem
também ser formuladas deste modo: se se assume a tarefa intelectual, em umas
das suas facetas, como um trabalho engenhoso, o conhecimento da eidodiver-
sidade e da geneidética de tais escolas é básico para operar com elas. Um traba-
lho da engenharia geneidética que se proponha explicitamente operar a partir
das espécies eidéticas para cruzá-las, melhorá-las, reproduzi-las, intervi-las etc.
etc., então, é necessário um conhecimento exaustivo das espécies, de suas com-
posições e de suas inter-relações com os meios ambientes intelectuais.
Este esquema não pretende realizar tal desígnio, mas sim apenas insinuá-lo
e insinuá-lo principalmente orientando-se para aqueles que trabalham nisso vi-
sando combinar raízes sul-saarianas com as de outras regiões periféricas.
4. Outro ponto imprescindível a ser considerado se refere à maneira especí-
fica pela qual se julgou a disjuntiva periférica na região.
Seguramente, julgou-se, ao longo do tempo e ao largo de diversos âmbi-
tos, de modos relativamente diferentes, ainda que eu acredite existir um cará-
ter global diferenciador digno de ser mencionado. A disjuntiva se coloca niti-
damente desde o começo do período estudado, mas não se apresenta da mesma
forma que em outras regiões periféricas, especialmente durante o século XX.
No século XIX, ao contrário, aparece mais convencionalmente.
Em geral, a intelectualidade africana se dedicou mais a afirmar o “ser-nós-
mesmos”, opondo-se a um discurso do “ser-como-o-centro”, que aconteceu pou-
co na própria África e que, porém, foi proposto para a África a partir de fora.
Diferentemente de outras regiões periféricas, em que ambas as posições fo-
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