Texto complementar
A mãe de todas as guerras
[...] Em termos técnicos, as armas de cerco aproveitavam os princípios de funcionamento de duas armas muito antigas, mas também muito eficientes: o arco e a funda, espécie de corda para atirar pedras. Em diferentes momentos históricos, foi o aprimoramento e a junção das duas invenções que permitiu o surgimento da artilharia. [...] Com significado em grego indicando algo como "jogar contra", a catapulta foi uma das poucas armas da Antiguidade com local e data de nascimento registrados: a cidade-Estado grega de Siracusa, na ilha da Sicília (atual Itália), por volta de 399 a.C. Mas há um mistério. O artesão que bolou a catapulta permanece desconhecido. Uma das explicações é que, provavelmente, o engenheiro que concebeu a peça era um escravo. E escravos não podiam levar a fama. [...]
Do sucesso veio a multiplicação do espanto. Em sua obra Moralia, o filósofo grego Plutarco descreve o terror do rei espartano Arquidamos III (360 a.C.-338 a.C.) quando viu a catapulta demonstrada pela primeira vez. "Ó, Héracles! A bravura em batalha foi destruída!", teria dito o rei, referindo-se ao fato de que uma arma daquelas poderia acabar com o mais valoroso dos guerreiros, sem que ele tivesse chance de fazer nada. Não era pouca coisa o momento histórico que Arquidamos presenciava: pela primeira vez, o homem podia usar algo que ia muito além da própria força física para guerrear. Quem vencia a guerra, a partir de então, era a máquina, não mais o homem.
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[...] O passo definitivo para transformar o uso das catapultas em uma ciência foi o desenvolvimento da balística - a arte por meio da qual os artilheiros conseguiam, graças a cálculos matemáticos, direcionar com razoável precisão os projéteis que saíam de suas máquinas. [...]
A evolução das armas de fogo aposentou as catapultas. Isso não impediu sua última glória. Durante a 1 a Guerra Mundial (1914-1918), em meio à batalha de trincheiras, os homens que arriscavam suas vidas atirando granadas rumo às posições inimigas reinventaram a roda. Utilizando molas e madeira, construíram pequenas catapultas, capazes de lançar as granadas sem que fosse preciso se expor ao fogo inimigo. Uma demonstração de que a simplicidade e eficiência das armas de cerco ainda podiam causar o que sempre causaram: terror nos inimigos.
ONÇA, Fabiano. A mãe de todas as guerras. Superinteressante, São Paulo, n. 245, nov. 2007. Disponível em: http://super.abril.com.br/superarquivo/2007/conteudo_545665.shtml. Acesso em: 26 abr. 2016.
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