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que devia. Ao morrer, em outubro de 1889, perdera seu império industrial. Mas não devia nada a ninguém.
O imperador e o barão jamais tiveram uma discussão pública, mas, embora
fossem vizinhos, sua incompatibilidade de gênios era notória. Mauá cometia o
supremo pecado de ser devotado ao lucro – e isso o arqueólogo diletante, o
aprendiz de linguística e filólogo, astrônomo amador, botânico
de fim de semana
e antropólogo iniciante D. Pedro II não podia tolerar. O desprezo pelas ideias e
pelas propostas de Mauá – e o torpedeamento contínuo de seus projetos feito
pelos políticos fiéis ao imperador – se configura como um dos mais lamentáveis
episódios da história econômica do Brasil.
De acordo com seu melhor biógrafo, o pesquisador Jorge Caldeira, autor do
bestseller Mauá, empresário do Império, o barão controlava seu vasto império
industrial e econômico sozinho. Não procurava ajuda
nem mesmo para manter a
ampla correspondência diária, embora – ou talvez por isso mesmo – soubesse
que “de seu punho podiam nascer leis no Uruguai, movimentos de tropas na
Argentina, um novo ministro no Brasil, uma
grande tacada na Bolsa de
Londres”.
De sua escrivaninha, Mauá comandava um império “consultando apenas as
próprias ideias”. Não parecia razoável, mas era assim que ele achava que
funcionava. E por mais de vinte anos de fato funcionou.
O IMPÉRIO DAS LETRAS
explosão cultural do Segundo Reinado foi feita à imagem e semelhança de
seu mecenas. Tranquilizado pela bonança política
resultante da
“conciliação” (como se chamou o esquema de alternância no poder firmado
entre liberais e conservadores) e entusiasmado com a pujança econômica trazida
pelo café, D. Pedro II decidiu investir em cultura. Por florescer à sombra do
imperador, porém, tal movimento cultural se engajou no projeto de
“redescoberta”
da
nação
idealizado
pelo
próprio
monarca.
Uma
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