N
muito mais do que pagara até então. Ainda assim, o primeiroamigo continuou voando em seu jatinho, o
Morcego Negro, vendo e ouvindo óperas num circuito interno de TV.
O IMPEACHMENT
E OS CARAS-PINTADAS
o dia seguinte à posse, em 15 de março de 1990, o governo Collor
apoderou-se de praticamente todo o dinheiro que estava depositado nos
bancos e em instituições financeiras do país. O pretexto para tal espoliação foi
um novo plano de combate à inflação – batizado de “Plano Collor” –
responsável pelo maior choque da história econômica do Brasil. Idealizado pela
equipe da ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, o plano acabou com o
cruzado, que
voltou a se chamar cruzeiro, e, por meio de um “pacote” com 17
medidas provisórias, bloqueou por 18 meses todo o dinheiro existente nas
contas-correntes e na poupança dos brasileiros – com exceção de Cr$ 50 mil
(equivalentes a US$ 50), que podiam ser sacados de imediato. Foi uma das mais
brutais intervenções nos direitos civis dos brasileiros, algo tão radical quanto as
atitudes arbitrárias tomadas pelos militares.
Embora o dinheiro de fato tenha sido devolvido após 18 meses, bastante
desvalorizado, apesar da correção monetária e de juros anuais de 6% (ao
contrário do que ocorrera com os “empréstimos compulsórios” tomados durante
o Plano Cruzado do governo Sarney, que
foram pura e simplesmente
surrupiados), tudo o que se passou nos meses seguintes do governo Collor
permite supor que o objetivo primordial do plano estava ligado, mais que a um
projeto de “saneamento” das finanças da nação, à fome de dinheiro que
caracterizou o governo Collor. Embora a mão leve e onipresente de PC Farias
não estivesse diretamente por trás do plano, o fato é que, além das acusações de
que a ministra Zélia avisara determinadas empresas da iminência do confisco,
ela e o próprio presidente Collor dispunham de pouco
dinheiro em caixa naquele
dia da expropriação.
Mais tarde, denúncias feitas por Pedro Collor, irmão do presidente,
permitiriam à imprensa e a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
desvendar, ao menos em parte, o gigantesco esquema de propinas e desvio de
verbas comandado por PC de dentro ou das proximidades do Palácio do
Planalto. O escândalo PC iria obscurecer, em todos os sentidos, qualquer outro
acontecimento do governo Collor.
De todo modo, nos dois anos e dois meses em
F
que governou antes do início do processo que desembocaria no
impeachment,
Collor fez um governo marcado pela falsa polêmica, por declarações de mau
gosto, pelo neoliberalismo de fachada, por suas “proezas” atléticas e seu ar de
Indiana Jones, suas gravatas Hermes, canetas Montblanc e o esnobismo
nouveau
riche. Era a República das Alagoas no poder. Ela chegara lá nos braços do povo.
De lá sairia pelo braço do povo.
O INÍCIO
DO FIM
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