todas as investidas dos “peludos”. A virgem de quinze anos Maria da Rosa virou
chefe militar, enquanto o “menino deus” Joaquim, de onze, era tido como porta-
voz de José Maria – que, por meio de mensagens enviadas do além,
“comandava” o exército de cinco mil sertanejos.
Os rebeldes chegaram a dominar 25 mil km
2
, vencendo sete expedições
militares enviadas contra eles. Em setembro de 1914, o general Setembrino de
Carvalho chegou a Curitiba com ordens do ministro da Guerra para sufocar a
rebelião. Com sete mil homens bem-armados (80% do exército
brasileiro de
então) e os primeiros aviões usados para fins militares na história do Brasil,
Carvalho atacou os “fanáticos” implacavelmente, matando homens, mulheres e
crianças. Ainda assim, a “guerra santa” perdurou até janeiro de 1916. Em cinco
anos de luta, nove mil casas haviam sido queimadas e o espantoso número de
vinte mil pessoas tinham sido mortas.
D
Capítulo
25
A I GUERRA E OS ANOS 20
epois de adiar a decisão
por quase dois anos, o Brasil, enfim, resolveu
entrar na I Guerra Mundial em 26 de outubro de 1917 – três anos após o
início e um ano antes do fim do conflito. No mesmo dia em que o
presidente Venceslau Brás assinou o Decreto-Lei nº 3.361, Lenin era eleito
presidente dos soviéticos, 48 horas após a vitória da Revolução Russa. O decreto
de Brás reconhecia e proclamava “o estado de guerra iniciado pelo império
alemão contra o Brasil”.
O país só decidiu entrar na guerra – tão tardiamente quanto os Estados
Unidos, que o tinham feito em fevereiro de 1917 – depois de três
navios
mercantes brasileiros terem sido afundados pelos alemães. O primeiro foi o
Paraná, torpedeado no canal da Mancha, em 3 de abril de 1917. Oito dias
depois, o Brasil rompia relações diplomáticas com a Alemanha. O segundo foi o
Tijuca, afundado na costa da França, em 22 de maio. Dois dias mais tarde, o
Brasil abria mão de sua neutralidade e confiscava todos os navios mercantes
alemães ainda ancorados nos portos do país. No dia 25
de outubro, o
Macau foi
posto a pique em águas espanholas.
Quando afundaram o
Tijuca, no mês de maio, o ministro do Exterior, Lauro
Müller, descendente de alemães e tido como germanófilo, demitiu-se do cargo.
Com ele fora do governo, Venceslau Brás sentiu-se à vontade para se reunir no
Catete com o ex-presidente Rodrigues Alves, Rui Barbosa e o novo ministro do
Exterior, Nilo Peçanha, e declarar guerra formalmente à Alemanha.
Ainda assim, o país relutou em enviar reforços para os aliados.
A justificativa
do ministro da Guerra, José Caetano de Faria, era a de que o Exército brasileiro
contava com poucos efetivos e que eles eram necessários para assegurar “nossa
própria integridade contra os alemães e germanófilos que temos no Sul”. No fim
de 1917, porém, cedendo às pressões internacionais, o Brasil enviou uma divisão
naval, uma missão médica e um contingente de aviadores para a Europa. Sua