FRENTE
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Editora Bernoulli
MÓDULO
HISTÓRIA
REVOLUÇÃO OU
INDEPENDÊNCIA?
O processo de ruptura das Treze Colônias com a metrópole
inglesa foi o primeiro a ocorrer na América e representou um
dos primeiros sinais de abalo do poderio europeu durante o
chamado Antigo Regime.
A Independência, também denominada por muitos de
Revolução Americana, é um episódio controverso para os
historiadores. Alguns deles alegam que a ruptura com a
Inglaterra representou a formação de uma “nova ordem”,
o que a caracterizaria como uma Revolução. Essa tese pode ser
reforçada pelo fato de os colonos possuírem práticas políticas
próprias, como a atuação de conselhos representativos
das comunidades, o que garantia uma maior participação
dos indivíduos nas decisões políticas. Como consequência
disso, instaurou-se o desejo de consagrar a “liberdade” e
de consolidar o direito de participar das decisões públicas,
de ser admitido no mundo político, o
que foi importante para
o processo de Independência. Aceitando-se esses aspectos,
é possível caracterizar a ação dos colonos como revolucionária.
De acordo com o pensador francês Alexis de Tocqueville, que
visitou os Estados Unidos nas primeiras décadas do século XIX
e escreveu a clássica obra
A democracia na América:
Ali a sociedade age sozinha e sobre ela própria.
Não existe poder, a não ser no seio dela; quase nem
mesmo se encontram pessoas que ousem conceber e,
sobretudo, exprimir a idéia de ir procurá-la noutra parte.
O povo participa da composição das leis, pela escolha dos
legisladores, da sua aplicação pela eleição dos agentes do
Poder Executivo; pode-se dizer que
ele mesmo governa,
tão frágil e restrita é a parte deixada à administração,
tanto se ressente esta da sua origem popular e obedece
ao poder de que emana. O povo reina sobre o mundo
político americano como Deus sobre o universo. É ele a
causa e o fi m de todas as coisas; tudo sai do seu seio,
e tudo se absorve nele.
TOCQUEVILLE, Alexis de.
A democracia na América. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1987.
Por outro lado, existem historiadores que apontam as
limitações desse movimento. Uma delas seria o fato de não
existir, ainda naquele período, uma unidade entre os americanos.
Por isso, a Independência não teria sido motivada pelo
sentimento nacionalista em relação aos Estados Unidos, que
de fato nem existia, mas sim por uma repulsão aos ingleses.
Por ter sido encabeçado por uma elite colonial que se sentia
prejudicada em seus interesses econômicos,
o movimento
não previa a adoção imediata do sufrágio universal, além
de defender a manutenção da escravidão. No século XX,
a segregação racial ainda presente levou o ativista negro
Martin Luther King a proferir seu célebre discurso “Eu tenho
um sonho”, em que afi rmava:
De certo modo, viemos à capital de nossa nação para
descontar um cheque. Quando os arquitetos de nossa
república escreveram as palavras magnífi cas da Constituição
e da Declaração de Independência, eles estavam assinando
uma nota promissória de que todo americano se tornaria
herdeiro. Essa nota era a promessa de que todos os
homens, sim, negros assim como brancos, teriam
garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à
busca da felicidade. É óbvio hoje que a América não pagou
essa nota promissória no que concerne aos seus cidadãos
de cor. Em vez de honrar essa obrigação sagrada, a América
deu ao povo negro um cheque sem fundos; um cheque
que foi devolvido com a anotação: “fundos insufi cientes”.
Nós nos recusamos a acreditar que há fundos insufi cientes
na grande caixa forte de oportunidades desta nação.
E assim viemos
para descontar esse cheque, um cheque
que vai nos assegurar as riquezas da liberdade e a
segurança da justiça.
Martin Luther King
Apesar das diferenças, ambas as interpretações são
pertinentes e acreditamos que o seu conhecimento facilite
a análise do processo que culminou na autonomia das
Treze Colônias.
ANTECEDENTES
A colonização inglesa na América do Norte, em especial
nas colônias do norte, não se caracterizou por um
planejamento sistemático. Isso porque a situação
interna
conflituosa pela qual passava a Inglaterra entre os
séculos XV e XVII, marcada pelo fi m da Guerra dos Cem
Anos, pela Guerra das duas Rosas, pela Reforma Anglicana
e pela Revolução Inglesa, impedia a atuação efetiva da
metrópole na América. Somadas a isso, as características
de algumas colônias fi zeram com que sofressem pouca
interferência da metrópole, levando a um distanciamento
desta. Foi comum, nesse caso, a prática do
self-government,
ou seja, o autogoverno pelos colonos da América.
Revolução Americana
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A
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Coleção Estudo
Não
se deve concluir, no entanto, que a Coroa britânica
abandonou seus territórios coloniais. Várias foram as
legislações que buscavam aumentar o seu controle sobre
a região, tanto que a sua intensificação no século XVIII
foi um dos principais fatores que levaram ao processo de
Independência das Treze Colônias.
RAZÕES PARA A
INDEPENDÊNCIA
Vários conflitos ocorridos entre os países europeus durante
a Idade Moderna geraram repercussões nas Américas.
Em muitos casos, as batalhas estavam vinculadas aos
domínios coloniais no continente americano e contaram com
a participação das colônias. No entanto, ao final de cada um
desses conflitos, os tratados estabelecidos entre as potências
da Europa nem sempre refletiam o interesse dos colonos.
Muitas das conquistas territoriais
promovidas pelos colonos
eram desfeitas por tratados firmados entre os europeus.
A
Guerra dos Sete Anos (1756-1763), por exemplo,
foi um conflito entre a Grã-Bretanha e a França pelo controle
comercial e marítimo de colônias localizadas nas Índias
Orientais e na América do Norte. A luta no continente
americano foi denominada Guerra Franco-Indígena e dela