EXPOSIÇÃO
BIBLIOTECA MUNICIPAL
PENAMACOR
2008
A
IN
VISIBILIDADE
DA
MULHER
NA HISTÓRIA
DA ARTE
A mulher imaginada,
imaginária, ou mero
fantasma...”
1- Duby
reuniões de artistas e eruditos pro-
movidas geralmente por mulheres
cultas, em posição económica e
social que lhes permitia alguma liberdade de acção
e movimentos, num mundo dominado por homens,
que lhes restringiam o acesso à educação, sobretudo
no domínio científico, e ainda as excluíam da Escola de
Belas Artes e as proibiam de desenhar modelos nus.
O rompimento da malha enleante de preceitos e pre-
conceitos que manteve a mulher mais ou menos à
margem da produção artística, consequentemente si-
lenciosa e ausente na História da Arte, não se dá num
momento e num tempo particulares. Tão pouco se tra-
As Musas
(Museu do Louvre, Paris)
Baixo-relevo de um sarcófago romano com a representação das nove Musas. Da esquerda para a
direita; Calíope representa a poesia épica: segura na mão um rolo; Talia, a comédia: apoiada num
pedum, contempla uma grande máscara cómica que segura na mão esquerda; Terpsícore, a poesia
ligeira e a dança:; Euterpe, musa da flauta dupla; Polímia (em falta na imagem), a pantomima; Clio, a
história; Erato, a lírica coral: segura uma grande cítara; Urânia, a astronomia; por último, Melpómene,
representa a tragédia.
ta de um fenómeno transversal às sociedades e às ci-
vilizações: a mudança de mentalidade não se processa
ao ritmo das transformações políticas e tecnológicas. E
nem sequer, em boa verdade, se pode falar em ausên-
cia, porque mulheres artistas sempre as houve. O que
elas não tiveram, em todo o tempo, foi campo propício
para desenvolver livremente o seu talento.Excepto as
que por condição de nascimento ou de temperamento
puderam ou ousaram dar curso ao génio criativo.
A presença da mulher na história da arte – encarada
esta no estrito campo das artes ditas plásticas ou, no
sentido mais geral, incluindo a música, a dança, o tea-
tro etc. - , enquanto estudo de obras, linguagens, cor-
rentes, estilos e compilação de nomes, acompanha, de
certo modo, o lento e difícil processo de emancipação
da mulher ao longo de milénios.
A pouco menos que invisibilidade da mulher artista
desde a antiguidade até próximo dos nossos dias con-
trasta com a superabundância de imagens e discursos
de/e sobre mulheres, que são representadas, descritas
ou narradas, muito antes de terem elas a palavra
1
. Pin-
tores, escultores e poetas não se cansam de as tomar
como modelos, e legiões de filósofos, teólogos, juris-
tas, médicos, moralistas, pedagogos... dizem incansa-
velmente o que são as mulheres e, sobretudo, o que
devem fazer. A lenta marcha das ideias leva ainda o
revolucionário e radical Rousseau, já em pleno século
XVIII (por mais irónico que isso hoje nos possa pare-
cer), a enumerar as obrigações da mulher: agradar aos
homens, ser-lhes útil, fazer-se amar e honrar por eles,
criá-los quando jovens, cuidar deles quando adultos,
aconselhá-los, consolá-los..., conquanto declare com
arrojo que “o homem nasce livre; porém, em todos os
lados está acorrentado”, e escreva sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens.
Apesar de tudo, é no século XVIII que por toda a Europa
ocorre a proliferação dos Salões alternativos à corte,
“
02
03
A Mulher
Símbolo
“As deusas povoam
o Olimpo das
cidades sem cidadãs;
a Virgem reina nos
altares onde oficiam
os padres; Mariana
encarna a República
Francesa, assunto de
homens...”
A Liberdade guiando o Povo
Psique (Alma) e Eros
(Deus do amor)
A ascenção de Psique
(William Bouguereau)
A Grécia nas ruínas
de Missolonghi
A Virgem no trono
Ceres
Deusa
Romana
da
Fecundidade
Ártemis
Deusa da caça
e da serena luz
Deméter
Deusa grega
da fecundidade
A Lei
A Justiça
A Primavera
(pormenor)
Virgem Maria
A República
04
05
A Mulher Artista
Não há registos de quem foram os artistas da era
pré-histórica, mas estudos de muitos etnógrafos e
antropólogos indicam que as mulheres eram frequen-
temente os artesãos nas culturas neolíticas, criando a
sua cerâmica, têxteis, cestaria e jóias.
A extrapolação para o trabalho artístico e competên-
cias do Paleolítico segue o mesmo entendimento nas
culturas conhecidas e estudadas através da arqueolo-
da pré-História
à Idade Média
gia. Existem pinturas de cavernas com impressões de
mãos de mulheres e crianças, assim como de homens.
De entre as primeiras menções a artistas individuais
na Europa, Plínio o Antigo alude a algumas mulheres
pintoras na Grécia, entre as quais Aristarete, Eirene e
Calypso, enquanto na Roma do século I a.C., Iaia de
Cisicus (“Marcia”), filha do filósofo Marco Terêncio Var-
rão, ganhava notoriedade e dinheiro como pintora. Mas
já muito antes, por volta de 600 a.C., Safo se afirmara
e fizera admirar como poetisa, ao ponto de Estrabão,
historiador, geógrafo e fisósofo grego (63 ou 64 a.C. - a
24 d.C.), escrever que “Safo era maravilhosa, pois em
todos os tempos que temos conhecimento não sei de
outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que
de leve, em matéria de talento poético”.
Na idade média as mulheres artistas são geralmente
ricas aristocratas alfabetizadas e freiras que alimentam
uma produção de trabalhos artísticos associados aos
bordados, aos têxteis e ao desenho e pinturas de ilu-
minuras. Ende (Espanha), Guda e Clariçia (Alemanha)
são nomes de conhecidas freiras que exerceram a arte
de iluminar manuscritos nos scriptoria dos conventos;
mas a mais representativa das mulheres intelectuais
e artistas desta época é sem dúvida
Hildegard von
Bingen
, que, para além das muitas descrições visioná-
rias, foi autora de várias obras musicais.
Antigas referências de Homero,
Cícero e Virgílio mencionam o
papel proeminente das mulheres
nos têxteis, poesia, música e outra
actividades culturais, sem contudo
individualizar.
Pintura Mural - Çatal Huyuk - Turquia
Hildegard von Bingen
Codex 001
Pintura Mural – Çatal Huyuk – Turquia
Filhas de Akhenaton – Egipto
Hildegard von Bingen
Codex 001
06
07
É o caso de
Caterina van Hemessen
(1528 - 1587),
pintora flamenga que teve como patrono Maria de
Áustria, regente dos Países Baixos, e a quem geral-
mente se atribui a distinção de ter criado o primeiro
auto-retrato de um artista, de qualquer sexo, senta-
do ao cavalete. Ocasionalmente são membros da no-
breza, como a iltaliana
Sofonisba Anguissola
(1531 -
A Mulher Artista
do Renascimento
aos nosso dias
Num contexto de grande
adversidade, algumas mulheres
conseguiram desenvolver
actividade artística como
profissionais a partir de meados do
século XVI. Normalmente são filhas
de pintores bem sucedidos.
1625) considerada a primeira artista do Renascimento
a adquirir fama internacional. Admirada por Miguel
Ângelo e, mais tarde, Anthony van Dyck, foi pintora
oficial da corte de Filipe II de Espanha, posto que viria
a ser ocupado por Velásquez , no reinado de Filipe IV.
Pela mesma época, em Itália,
Lavínia Fontana
(1522
- 1614) fazia carreira a pintar retratos da alta socie-
dade bolonhesa. Filha do pintor mais proeminente
da Escola de Bolonha, Prospero Fontana, Lavinia viria
a fazer sucesso em Roma, para onde se mudou em
1603, a convite do Papa Clemente VIII. A sua obra é a
maior de uma mulher artista antes de 1700. O Papa
PauloV posou para ela.
Artemisia Gentileschi
(1593
- 1653) é geralmente considerado o primeiro grande
nome da pintura no feminino. Seguindo a regra, é filha
de um pintor, Orazio Gentileschi, talentoso represen-
tante do Caravaggismo. Um escândalo marcou a sua
vida. Violada aos 17 anos por um amigo e colaborador
de seu pai, Artemisia intentou um processo contra o
agressor e conseguiu a sua condenação, embora este
nunca viesse a cumprir a pena. Mas a sua luta e de-
terminação fizeram dela uma referência no seio dos
movimentos feministas do século XX.
Lavinia Fontana
Minerva
Caterina Van
Hemessen
Auto-retrato
ao cavalete
Lavinia Fontana
Auto-retrato
Artemisia Gentileschi
Susanna e os Velhos
Artemisia Gentileschi
Judith
Artemisia Gentileschi
Auto-retrato
Artemisia Gentileschi
Judith
Sofonisba Anguissola
Isabel de Valois
Sofonisba Anguissola
Auto-retrato
Sofonisba Anguissola
O Jogo de Xadrez
Sofonisba Anguissola
Bernardino Campi pintando
Sofonisba
08
09
à História da Arte e também à História da Ciência. Mais
uma vez o ambiente familiar terá sido determinante
para o rumo que tomou a vida quer de Maria, quer do
seu irmão Matthäus Merian Jr., também pintor, ambos
filhos de Matthäus Merian o Velho, gravador e impres-
sor nascido em Basileia, Suíça. Órfã de pai aos 4 anos,
foi encorajada desde cedo a desenhar e a pintar pelo
padrasto, o pintor Jacob Marrel. A sua vida pessoal e
o seu trabalho foram indissociáveis do seu interesse
pela disciplina científica aplicada à arte. Investigou e
desenhou insectos e plantas. Após o regresso do Suri-
name, onde se dedicou ao estudo da fauna e flora lo-
cais, publicou colecções de gravuras e um livro sobre
as metamorfoses dos insectos do Suriname.
Na Holanda,
Clara Peeters
(1594 - 1657) introduz o
tipo de pintura “Breakfast Piece”, que consistia em na-
turezas mortas sobre uma mesa de refeições, como o
pão, queijo, copos com vinho ou cerveja etc. Foi uma
pintora muito precoce, pois aos 14 anos assina e data
uma pintura, que hoje se conserva em colecção parti-
cular, e outra em 1611, existente no Museu do Prado,
portanto quando teria 17 anos. Também na Holanda,
Judith Leyster
(1609 - 1660), filha de um fabricante
de panos de Haarlem, ganha nome como pintora de
cenas domésticas e familiares de grande expressivida-
de, que patenteiam alegria e bem-estar. Foi uma das
duas únicas mulheres que integraram a Guild of St.
Luke de Haarlem, associação que visava defender os
artistas da cidade. Ainda na Holanda,
Rachel Ruysch
(1664 - 1750), filha de um professor de anatomia e
botânica, distingue-se por incluir na sua pintura no-
vos elementos realistas, tanto da flora quanto da fauna
holandesas. Por sua vez, na Alemanha,
Maria Sibylla
Merian
(1647 - 1717), deu um importante contributo
Judith Leyster
Rapaz tocando flauta
Clara Peeters
Vanitas
Clara Peeters
“Still-Life”
Judith Leyster
Serenata
Judith Leyster
Auto-retrato
Rachel Ruysch
Bouquet de Flores e Plumas
Rachel Ruysch
Flores
Judith Leyster
Happy Couple
Maria Sibylla Merian
Metamorphose de uma Borboleta
Maria Sibylla Merian
Insectos do Surinam
Maria Sibylla Merian
10
11
Elisabeth-Louise Vigée Lebrun
(1775 - 1842), pinto-
ra da corte de Maria Antonieta – chegou a retratá-la
mais de 20 vezes – pintou a aristocracia daquela época;
Rosalba Carriera
(1675 - 1757) foi uma pintora rococo
veneziana. Na sua juventude especializou-se em re-
tratos miniaturas e mais tarde veio a adoptar o pastel
no seu trabalho de pintora retratista, onde alcançou
notorieadade;
Maria Verelst
(1680 - 1744) Nasceu em
Viena, mas aos três anos vai para Londres onde se tor-
No século XVIII assiste-se à passagem do Barroco ao Rococo
e ao Neocássico. O labor artístico das mulheres acompanha o
gosto e a tendência de uma época marcada pelo requinte e bem
viver das classes abastadas, onde os artistas, letrados e filósofos
marcam presença nos Salões de conceituadas damas, elas
próprias brilhantes representantes da intelectualidade da época,
como foram Madame de La Fayette e Madame de Stäel.
na pintora no seio de uma família de artistas. Diz-se
que pelo facto de dominar varias línguas, não lhe foi
difícil conquistar uma clientela culta que se fez retratar;
Angelica Kauffman
(1741 - 1807), que nasceu na Suí-
ça, viria a viver em Londres, onde esteve entre os sig-
natários da petição ao rei para a criação da Academia
Real de Pintura e Escultura. Morreu e foi enterrada em
Roma sob a admiração de muitos amigos e artistas,
entre eles Canova.
Angelica Kauffmann
A Morte de Alcesti
Angelica Kauffmann
A Ninfa adormecida
Angelica Kauffmann
Miranda e Ferdinand
Elisabeth-Louise Vigée-Lebrun
Auto-retrato
Elisabeth-Louise Vigée-Lebrun
Carlos Alexandre de Calonne Lebrun
Elisabeth-Louise Vigée-Lebrun
Auto-retrato
Maria Verelst
Retrato de de uma Dama
Maria Verelst
Retrato de Senhora com Vestido Branco
Rosalba Carriera
Auto-retrato
Rosalba Carriera
Angelica Kauffmann
Venus convence Helena a seguir Páris
12
13
Foi o caso de
Rosa Bonheur
(1822 - 1899), artista fa-
mosa que não hesitou em trocar as roupas de mulher
pelas de homem para transpor obstáculos e ganhou
muito dinheiro com a sua pintura. Recebeu uma me-
dalha de ouro na exposição de 1848 e veio tornar-se
Oficial da Legião de Honra em 1894. Igual distinção
viria a ter
Louise Abbema
(1858 - 1927), pintora gra-
vadora e escultora que se tornou famosa aos 18 anos
pelo retrato que fez da actriz Sara Bernard.
Camille Claudel
(1864 -1943), escultora de grande
talento, foi musa inspiradora, modelo, confidente e
amante de Auguste Rodin, de quem, ferida por ra-
zões de ordem amorosa, se distancia, procurando, ao
mesmo tempo autonomizar a sua obra em relação ao
grande Mestre. Essa ruptura é contada pela famosa
obra A Idade Madura, que se encontra no Museu d’Or-
say.
Mary Cassat
(1845 - 1926), uma americana que
foi esposa de Degas, e
Berthe Morisot
(1841 - 1895),
discípula de Manet, são duas pintoras impressionistas
muito elogiadas e apreciadas que mereceriam outra
visibilidade na história da pintura daquele período.
Nos Estados Unidos,
Harriet Hosmer
(1830 - 1908)
foi provavelmente a mais conhecida e bem sucedida
mulher escultora do século XIX. Uma estátua da Rai-
nha Isabel de Espanha foi encomendada e financiada
por um grupo de mulheres activistas para a Exposi-
ção Mundial de Chicago de 1893;
Adelaide Johnson
(1859-1941) ficou conhecida como a “escultora do
Movimento das Mulheres”. Ela fez os bustos das su-
fragistas Susan B. Anthony, Lucretia Mott e Elizabeth
Cady Stanton, cujas cópias integram a escultura “Por-
trait Monument” existente no edifício do Capitólio, em
Washington, único monumento nacional dedicado ao
Movimento das Mulheres; Evelin
B. Longman
(1874
- 1954) tornou-se a primeira mulher escultora eleita
membro efectivo da Academia Nacional de Desenho,
enquanto
Beatrix Potter
(1866 - 1943) ganhou muito
dinheiro com as suas aguarelas de ilustração e o seu
trabalho, muito reconhecido, ainda hoje é publicado;
Harriet Powers
(1837 - 1910), uma escrava africana
e artista popular da Georgia, notabilizou-se pelas suas
colchas tradicionais com registos de lendas locais, his-
tórias bíblicas e acontecimentos astronómicos. O seu
trabalho está hoje em exposição no Museu Nacional
de História Americana, em Washington, e no Museu de
Belas Artes de Boston, Massachusetts.
Mau grado a permanência de estatutos discriminatórios
e de todos os condicionalismos que se mantinham rela-
tivamente à participação na vida pública e intervenção
cívica das mulheres, do século XIX para cá o número de
artistas, o volume e a qualidade da produção não parou
de crescer, graças não só ao grande contributo dos Esta-
dos Unidos, mas também do Canadá, Inglaterra, Noruega, Suécia, Áustria, Alemanha
e, naturalmente, da França, que continuou a ter um papel importante no que respeita
ao estudo e difusão das artes e correntes artísticas, especialmente através da reali-
zação dos Salons, onde a participação de mulheres artistas nas exposições oficiais foi
crescendo exponencialmente, com algumas delas a serem reconhecidas e premiadas.
Rosa Bonheur
Cavalos
Harriet Powers (1901)
Harriet Powers
Colcha Bíblica
Mary Cassatt
Verão
Mary Cassatt
Auto-retrato
Mary Cassatt
Verão
Adelaide Johnson
Monumento às Sufragistas
Berthe Morisot
No Jardim
Berthe Morisot
Caçando Borboletas
Avelin B. Longman
Louise Abemma
Retrato de Sarah Berhnardt
Louise Abbema
Ao piano
Camille Claudel
Camille Claudel
A Valsa
14
15
refira-se
Mary E. Dignam
(Canadá, 1857 - 1938), que
foi Directora do Departamento de Arte da Universidade
MacMaster, fundadora da Associação das Mulheres Ar-
tistas do Canadá e da primeira Sociedade Internacional
das Mulheres Pintoras e Escultoras, e uma incansável
lutadora pela igualdade de oportunidades no mundo
da arte;
Helen Allingham
(Ingalaterra, 1848 - 1926), a
primeira mulher admitida à Real Sociedade de Pintores
a Aguarela;
Elizabeth (Thompson) Butler
(Inglaterra,
1848 - 1933), famosa pelas sua pinturas realistas de
temas militares, com as quais sempre se recusou a
glorificar a guerra, surpreendeu os críticos ao pintar
com tanta “força” temas considerados nada femininos;
Harriett Backer
(1845 - 1932), uma das maiores artis-
tas Norueguesas (juntamente com sua irmã, Agathe
Backer – pianista e compositora), foi conhecida pelas
suas pinturas de interiores. A escola de arte que ela es-
tabeleceu em 1889, a Pultostem, em Olso, tornar-se-ia
precursora da Academia Nacional de Arte;
Tina Blau
(Áustria, 1847 - 1916) foi co-fundadora da Escola de
Artes Vienense para Mulheres e Raparigas e é conside-
rada uma das mais importantes pintoras Austríacas da
segunda metade do século XIX;
Hermine von Preus-
chen
(Alemanha, 1854 - 1919) foi pintora, música e
poetisa. Viajou por muitos países europeus e asiáticos.
É mais conhecida pelas suas pinturas florais;
Louise de
Hem
(Bélgica, 1866 - 1922), obrigada a estudar em
Paris, na Academia Julian, por as mulheres não serem
admitidas nas academias de arte da Bélgica, tornou-se
uma bem sucedida pintora de retratos, “de género”
e “still-life”;
Olga Lagoda-Shishkin
(Rússia, 1850 -
1881), casada com o pintor Ivan Shishkin, foi uma das
primeiras pintoras profissionais na Rússia.
Algumas mulheres impuseram-se
no mundo da arte do século XX por
força do seu talento e, por vezes,
fortes personalidades e naturezas
transgressoras.
Graças à proximidade temporal,
conhecem-se as sua biografias em detalhe, facto que,
associado a percursos de vida mais ou menos atribula-
dos, despertou o interesse do cinema, como aconteceu
com
Frida Kahlo
(1907 - 1954), a artista mexicana
que, apesar de casada com Diego Rivera, com tudo
o que isso acarreta em termos de dificuldades para
a sua afirmação, consegue individualizar uma obra
de grande originalidade. Sobre a classificação do seu
trabalho como pertencendo ao surrealismo, atribuída
por André Breton, diria Frida: “Nunca pintei os meus
sonhos. Pintei a minha própria realidade.”
Tomando outros exemplos de mulheres
que um pouco por todo o Ocidente
abriram caminho no mundo das artes,
Harriet Backer
Harriet Backer
Cena interior
Frida Kahlo
2 fridas
Frida Kahlo
Auto-retrato
Elizabeth Butler
Remnants of an army
Elizabeth Butler
The Fefence of Rorke´s Drift
Tina Blau
Tina Blau
Abend in Volandam
Helen Allingham
Cottage roundhurst
16
17
Tal como Frida Kahlo,
Georgia O´keefe
(1887 - 1986)
“sofreu a concorrência” de seu marido, o fotógrafo
Alfred Stieglitz, que ultrapassou por mérito do seu re-
conhecido talento. Algumas das sua telas são de gran-
de sensibilidade e beleza. Georgia é considerada uma
das pintoras norte-americanas de maior sucesso do
século XX.
Tamara de Lempicka
(1889 - 1980), nome artístico
de Maria Gorska, nascida na Polónia, conheceu uma
ascensão rápida enquanto pintora modernista de van-
guarda da Arte Déco, onde realça um estilo único e
ousado. As sua obras retratam emoções e sentimen-
tos de forma crua e fria, extravagância e sensualida-
de, que por sua vez reflectem uma vida subversiva e
transgressora, vivida à margem da sociedade e das
regras habituais. Conquistou fama e fez fortuna.
Barbara Kruger
(1945 - ) é uma artista americana
contemporânea que combina a fotografia, o design, o
vídeo e o áudio nas suas obras, cuja aparente sim-
plicidade e mensagem directa induz uma resposta
imediata. Normalmente, o seu estilo parte de uma
folha de revista ou de um jornal ampliado a propor-
ções monumentais, com imagens em preto e branco,
sobre as quais se sobrepõem mensagens em letrei-
ros destacados. Em 2005 Kruger foi homenageada na
51ª Bienal de Veneza com o Leão de Ouro. Actual-
mente é professora da Universidade da Califórnia, em
Los Angeles.
Cabe aqui ainda uma referência a
Julia Margaret
Cameron
(1815 - 1879), pioneira da arte fotográfica
num tempo de grande polémica acerca da validade
artística da fotografia. Julia fotografava os seus amigos
famosos que a visitavam (apenas por satisfação, pois
não tinha problemas financeiros), no intuito de “re-
produzir a grandeza interior do homem e aos mesmo
tempo mostrar os seus traços físicos”.
Barbara Kruger
Barbara Kruger
Exposição na galeria Mary Boone
Julia Margeret Cameron
Summer Days
Julia Margaret Cameron
I wait
Julia Margaret Cameron
Crianças
Tamara Lempicka
Green Dress
Georgia O’keefe
Tamara Lempicka
Dormeuse
18
19
Em Portugal,
Josefa de Óbidos
(1630 - 1684), é a pri-
meira grande referência feminina da história da pintu-
ra portuguesa. Foi especialista em naturezas mortas.
As influências exercidas pelo barroco tornaram-na uma
artista com interesses diversificados, tendo-se dedica-
do, além da pintura, à estampa, à gravura, à modela-
gem do barro, ao desenho de figurinos, de tecidos, de
A Mulher Artista
em
Portugal
acessórios vários e a arranjos florais. Aos 19 anos de
idade, fez a gravura da edição dos Estatutos de Coim-
bra. Em seguida trabalhou como pintora para diversos
conventos e igrejas. Como retratista da família real
portuguesa, destacam-se os seus retratos da rainha D.
Maria Francisca Isabel de Sabóia, esposa de D. Pedro
II, e de sua filha, a princesa D. Isabel, que foi noiva
de Vítor Amadeu, duque de Sabóia, a quem esse
retrato foi enviado. A reputação que granjeou era
de tal ordem que muitos dos que iam a banhos às
Caldas da Rainha se desviavam de seu caminho,
para irem a Óbidos, onde vivia, cumprimentá-la.
Maria Helena Vieira da Silva
(1908 -1992) é,
a par com Paula Rego, um nome maior na arte
portuguesa do século XX. Aos 5 anos faz dese-
nhos, aos 13 pinta a óleo. Em 1928 muda-se para
Paris porque, segundo ela própria, ”já não podia
progredir em Lisboa, a pintura que aí fazia não a
satisfazia, não sabia o que fazer, nem como fa-
zer”. Aí, contacta com os seus contemporâneos
Picasso, Duchamp, Braque. Está atenta aos novos
movimentos, mas não se insere em nenhum. São
formas de prisão que não aceita. Quer que os
seus quadros transmitam tudo o que a faz admi-
rar: espaços, ritmos, os movimentos das coisas.
Após a Guerra, Jeanne Bucher organiza em Nova York
a sua primeira exposição individual. Outras se suce-
dem em Londres, Nova York, Basileia, Lille, Genebra,
enquanto vai recebendo prémios e vendendo as suas
obras. É reconhecida internacionalmente. Na década
de 60 o Estado francês atribui-lhe o grau de Cavaleiro
da Ordem das Artes e das Letras e o grau de Comen-
dador, numa altura em que Vieira da Silva se dedica
não já apenas à pintura, mas também à tapeçaria e ao
vitral. Com o fim do regime fascista, em 25 de Abril de
74, a artista não fica indiferente aos acontecimentos
que ocorrem no país onde nasceu e faz dois cartazes
sobre a revolução,que a Função Gulbenkian se encar-
regará de editar. O trabalho da pintora é cada vez mais
reconhecido e passa a naturalmente a ser uma refe-
rência nas publicações de arte internacional. Em 1991
o Estado francês atribui-lhe o grau de Oficial da Legião
de Honra. No ano seguinte morre em Paris.
Paula Rego
(Lisboa, 1935 - ) é presentemente a pinto-
ra portuguesa de maior projecção internacional. Apesar
de reconhecida em Portugal desde os anos 60, só em
1981 concretizou a sua primeira exposição individual
em Londres.Em 1990 foi o primeiro artista associado
da National Gallery, “em coincidência com a adopção
de uma nova linguagem figurativa, em que está pre-
sente um explícito sentido narrativo, empenhado no
comentário crítico sobre a vida e o mundo”.
A artista é representada pela Galeria Marlborough. O
seu quadro “The Lesson” atingiu recentemente o valor
de 596.881 euros em Londres, num leilão da Christie’s.
Josefa de Óbidos
Paula Rego
Vieira da Silva
20
21
Por uma questão de organização e método, não se
abordam aqui os nomes de muitas artistas no universo
da arte moderna e contemporânea portuguesa, algu-
mas já reconhecidas internacionalmente, cometendo-
se, talvez, grande injustiça. De igual modo ficam por
nomear as inúmeras mulheres que, por tudo o mundo,
que o forte impulso da
produção artística no feminino
é um bom sintoma da luta
emancipadora das mulheres
e da aproximação à igualdade
de direitos e oportunidades
entre os sexos.
O Universo Artístico
se distinguiram em ramos artísticos tão diversos como
a literatura, a música, o teatro, o cinema. Cada um des-
tes items daria, por certo, um bom tema para outras
tantas exposições. Temos ainda a consciência de que a
arte não se confina ao mundo ocidental, embora seja
uma evidência que é aqui que as mulheres procuram
primeiramente evidenciar os seus dotes criativos e
individualizarem-se através das diferentes formas da
expressão artística. Ficamos, no entanto, com esta cer-
teza consoladora:
Pesquisa e organização: Joaquim Nabais
Design: Vítor Gil
Produção: Câmara Municipal de Penamacor
Fontes e Bibliografia:
Duby – A História da Mulher
Neide Jallageas – (In)Visibilidade da
Mulher na História da Arte - Ensaio
Wikipedia – A Enciclopédia livre online
Madame de Stäel
Virginia Woolf
Sappho
Jane Austen
Sarah Bernhardt
Ingrid
Bergman
Marlene
Dietrich
Florbela Espanca
Carmen Miranda
Maria Callas
Camargo
FICHA TÉCNICA
22
23
Cena doméstica na Roma antiga
Compartilhe com seus amigos: |