Beatles, Sexo, Drogas, Ciência e Rock ’n’ Roll
Marcelo Sampaio de Alencar
Instituto de Estudos Avançados em Comunicações (Iecom)
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
Resumo
O artigo apresenta uma leitura das canções dos Beatles sob um novo ângulo, enfatizando a co-
notação sexual que os compositores insinuaram nas letras e também as ligações insuspeitas entre a
criptografia, a matemática, a biologia e alguns conceitos e ideias de integrantes do famoso conjunto
musical.
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Paul McCartney em Recife
O show de Paul McCartney, em Recife, foi um dos melhores espetáculos já apresentados na cidade, em
todos os tempos, com um desempenho impecável de sua banda e uma sequência incrível de fogos de
artifício.
Paul é, dos quatro, aquele que mais representa os Beatles, e realizou uma apresentação realmente
memorável em todos os sentidos, inclusive na comunicação com o imenso público que compareceu ao
Estádio do Santa Cruz. Ele se comunicou a maior parte do tempo em português, usando um teleponto, e
manteve uma empatia perfeita com os espectadores.
Comenta-se que Paul falou mais português com o público que Chico Buarque, que se apresentava no
Teatro Guararapes, na mesma hora. Uma crítica bem-humorada à lendária timidez do maior compositor
vivo do País. Ficou claro, entretanto, que as músicas dos Beatles ainda fazem muito sucesso, inclusive
com os adolescentes.
A música e a dança são duas das mais antigas formas de comunicação, e acompanham os seres
humanos desde sempre. Praticadas até por animais, elas são universais e perpassam etnias, povos e até
espécies. A música, como a dança, é uma forma usual de atrair um parceiro para o sexo, que é a maneira
padrão de se comunicar o ácido desoxiribonucleico (DNA) entre seres vivos, mas não a única.
Não é de estranhar que várias canções do Beatles tenham conotação sexual, mesmo que implícita.
Sexo, drogas e Rock ’n’ Roll sempre foram associados ao cenário musical. Porém, poucos notaram, na
época, as iscas sexuais que os Beatles inseriram em suas canções (1).
O principal motivo é que, no passado, havia uma preocupação maior da imprensa e dos críticos
com as referências às drogas, que poderiam estar presentes, por exemplo, em "Lucy in the Sky with
Diamonds", composta por John Lennon e Paul McCartney (2).
A primeira estrofe parecia remeter ao mundo psicodélico do ácido lisérgico (LSD), muito cultuado
pelos hippies na década de 1960.
"Picture yourself in a boat on a river, with tangerine trees and marmalade skies. Somebody calls you,
you answer quite slowly, a girl with kaleidoscope eyes."
Cuja tradução livre é:
"Imagine-se em um barco, em um rio, com árvores de tangerina e céus de marmelada. Alguém lhe
chama, você responde bem devagar, uma garota com olhos de caleidoscópio."
Porém, ao contrário da associação fácil às drogas, considerando que as iniciais das palavras formam
a sigla LSD, a canção nasceu em uma tarde de 1967, quando o filho de John, Julian, voltou do jardim
da infância Heath House com um desenho colorido de sua colega, Lucy O’Donnell, de quatro anos. Ao
explicar ao pai de que se tratava, disse que era "Lucy no céu com diamantes"(3)
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Figura 1: Os Beatles em 1964.
A descrição impressionou John e levou à composição da canção, uma das faixas do disco "Sgt.
Pepper’s Lonely Hearts Club Band". Apesar da experiência com alucinógenos pela qual os Beatles
passaram, alegadamente introduzidos por Bob Dylan, a música traduz mais o interesse pelo surrealismo,
pelos jogos com palavras e pela obra de Lewis Carroll, o autor de "Alice no País das Maravilhas"e "Alice
Através do Espelho"(4).
John afirmava que as imagens de alucinações na canção foram inspiradas no capítulo "Lã e água"de
"Alice Através do Espelho", no qual Alice é levada pela correnteza do rio em um barco a remo conduzido
pela Rainha.