supervisão em clínica-escola.
Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo-comportamental
Interação em Psicologia, jan./jun. 2002, (6)1, p. 37-43
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Identificação do Cliente
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História de Vida
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Lista de Problemas
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Fatores Precipitantes e Situações Ativadoras
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Crenças Centrais e Intermediárias
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Origem e Desenvolvimento das Crenças
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Medidas Padronizadas e Complementares
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Hipóteses Diagnósticas e de Trabalho
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Metas e Intervenções
A primeira etapa da formulação é a identificação
do cliente. Nome completo, idade, data de
nascimento, naturalidade, sexo, estado civil,
dependentes, grau de escolaridade, ocupação
profissional, religião, endereço e telefone são alguns
dos dados a serem dispostos nesta parte. Algumas
informações podem parecer irrelevantes num primeiro
momento, mas podem ser úteis no decorrer da terapia
ou mesmo no caso de outro profissional acompanhar o
cliente. Além destas, outras podem ser acrescentadas a
critério do profissional que estiver fazendo a avaliação.
Em seguida, o terapeuta buscará organizar, de
forma sucinta, uma história da vida do cliente. Como
foi seu desenvolvimento, quais as experiências
infantis mais relevantes, aspectos da juventude,
questões atuais, relacionamentos etc.
Durante a(s) entrevista(s) inicial(is) o terapeuta
visa identificar as questões e problemas trazidos pelo
cliente de modo a relaciona-los a situações em que
ocorrem, o que ele pensa, o que sente e o que faz a
respeito da situação-problema. Isso é feito para cada
uma das queixas do cliente, gerando uma lista de
problemas. Esta lista deve buscar ser o mais completa
possível, incluindo não somente problemas de ordem
psicológica como também problemas interpessoais,
psicossociais, trabalhistas, financeiros, jurídicos e
médicos, de um modo geral. É muito importante
ressaltar que o indivíduo que busca ajuda psicológica,
quanto mais integralmente puder ser compreendido,
mais benefício poderá obter para sua saúde e
qualidade de vida como um todo.
O quarto item da formulação é uma avaliação de
fatores precipitantes e situações ativadoras dos
problemas listados. Isto quer dizer que devem ser
identificados quais os estressores (positivos ou
negativos) que ativam as crenças – fatores
precipitantes – e que situações do dia-a-dia ativam o
comportamento, emoção ou pensamento disfuncional
– situações ativadoras. Freeman (1998) utiliza o termo
“incidente crítico” para denominar a situação ou
evento que o cliente ou outras pessoas significantes
para o mesmo considerem como indicativo dos
problemas apresentados. Por exemplo: uma mulher
apresenta como situação-pro-blema dificuldades em
lidar com o filho recém-nascido. Relata que, após o
nascimento do filho (fator precipitante), sente-se
angustiada e disfórica a cada vez que tem que
amamentar ou dar banho no bebê (situações
ativadoras/incidentes críticos).
A partir da lista de problemas, fatores precipitantes
e situações ativadoras, o terapeuta vai procurar inferir
que tipos de crenças intermediárias e centrais estão
embasando as interpretações e comportamentos
apresentados. Lembrando que as crenças centrais são
idéias mais rígidas e globais a respeito do self, dos
outros e do mundo e normalmente se repetem em
significado atribuído às situações-problema trazidas
pelo cliente. Por exemplo: “Sou incapaz.”; “Os outros
são muito críticos e exigentes.”; “O mundo é difícil.”
Já as crenças intermediárias são regras ou suposições
do tipo “Se…, então…” que ajudam o sujeito a lidar
com suas crenças centrais negativas. Exemplificando,
“Se eu me esforçar bastante, os outros não perceberão
que sou incapaz.” ou “Se eu falhar ou não me esforçar
o suficiente, todos saberão que sou incapaz.”
Identificadas as crenças, procura-se entender quais
as origens das mesmas e como elas se desenvolveram
ao longo do tempo. Nesta seção, o terapeuta descreve
brevemente alguns incidentes ou circunstâncias do
passado remoto do cliente que parecem ter sido
responsáveis pelo desenvolvimento das crenças
centrais disfuncionais. Especial ênfase neste aspecto
se deve ao fato de que as crenças centrais são
moldadas por experiências marcantes da infância,
particularmente experiências com os pais e pessoas
próximas
(Shinohara,
2000).
Comportamentos
modelados e fracasso na aprendizagem de habilidades
importantes também podem ser incluídos nesta seção.
Por exemplo, um cliente que foi criado por um pai
exigente e crítico e por uma mãe passiva e submissa
pode achar difícil expressar suas próprias opiniões, já
que não possuiu um modelo apropriado de
assertividade enquanto crescia (Tompkins, 1997).
Para complementar as informações obtidas na
entrevista, os terapeutas cognitivo-comportamentais
costumam utilizar uma série de instrumentos de
registro, avaliação e medida padronizados que
auxiliam na compreensão do grau de dificuldade do
cliente em determinadas áreas e também servem para
monitorar o progresso do cliente ao longo do
tratamento. Dentre eles, o mais amplamente utilizado
na prática clínica, tanto como auxiliar diagnóstico
quanto como instrumento terapêutico e educativo, é o
Registro de Pensamentos ou de Auto-Monitoria
(Greenberger & Padesky, 1999). Através deste tipo de
registro é possível identificar quais as situações que
ativam no cliente determinadas emoções e
pensamentos disfuncionais e como reavaliá-los,
reestruturando-os em concepções mais adaptativas
para o cliente. Igualmente muito utilizados também
estão os inventários mais gerais de ansiedade e
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Interação em Psicologia, jan./jun. 2002, (6)1, p. 37-43
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depressão, com destaque para os Inventários Beck de
Depressão – BDI (Beck, Ward, Mendelson, Mock &
Erbaugh, 1961) e de Ansiedade – BAI (Beck & Steer,
1990), que são valiosos na conceitualização de vários
transtornos de humor e de ansiedade. Os instrumentos
citados acima são do tipo auto-relato, ou seja,
preenchidos pelo cliente. Para avaliação do terapeuta,
encontramos a Escala Hamilton para Avaliação de
Depressão – HRSD (Hamilton, 1960) e a Escala de
Ansiedade de Hamilton – HAS (Hamilton, 1959).
Como auxiliar no diagnóstico de transtornos mais
específicos, destacam-se os seguintes instrumentos:
Fear of Negative Evaluation – FNE (Watson &
Friend, 1969) para Ansiedade Generalizada e Fobia
Social; Inventário de Assertividade (Gambrill &
Richey, 1975) para avaliar Habilidades Sociais; Diário
de Pânico (Clark & Salkovisks, 1987, citados por
Botella & Ballester, 1995) para medir a freqüência,
intensidade, duração e sensações fisiológicas
presentes em um ataque de pânico; Escala Yale-
Brown para Transtorno Obsessivo-Compulsivo
– Y-BOCS (Goodman et cols, 1989) que identifica
os principais sintomas do cliente, sua duração,
interferência, resistência e controle percebido; Escala
de Intensidade de Sintomas de Transtorno de Estresse
Pós-Traumático – PTSD Symptom Scale (Foa,
Rothbaum, Riggs & Murdock, 1991); Escala de
Preocupação da Universidade da Pensilvânia (Meyer,
Miller, Metzger & Borkovec, 1990) para diferenciar
indivíduos que apresentam TAG de outros com
transtornos de ansiedade diversos. Estes são apenas
alguns dos instrumentos disponíveis ao terapeuta.
Embora existam muitos outros, estes foram citados
por serem amplamente utilizados na prática clínica
brasileira.
Completada a fase de descrição das características
gerais do funcionamento do indivíduo e tendo uma
compreensão ampla das dificuldades vivenciadas pelo
cliente, descrevem-se as hipóteses diagnósticas e de
trabalho, para então definir quais tipos de metas e
intervenções serão planejados para ajudá-lo na
resolução de seus problemas. A hipótese de trabalho é
o centro da formulação cognitivo-comportamental,
articulando os problemas que constam da lista, as
crenças centrais e condicionais, e os eventos
ativadores. É à hipótese de trabalho que a maioria dos
clínicos se refere quando pensam em uma formulação
de caso. Ela orienta intervenções e explica tanto o
progresso quanto os problemas da terapia. Esta
hipótese é mantida, alterada ou descartada,
dependendo dos resultados do tratamento. Se um
cliente não atinge um progresso satisfatório ou torna-
se relapso, a hipótese de trabalho é revisada e utilizada
na formulação de um novo plano de tratamento. A
natureza mutável deste processo – formulação,
tratamento baseado na formulação, monitoração dos
resultados e revisão da formulação baseada nos
resultados – é a marca da formulação de caso
cognitivo-comportamental, na qual o tratamento é
visto como um caso único de estudo empírico (Barlow
e cols., 1984 apud Tompkins, 1997).
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