3. Como desenvolver uma formulação cognitivo-
comportamental?
O processo de coleta de dados a respeito de uma
pessoa inicia-se normalmente com uma série de
entrevistas posteriormente complementadas com
instrumentos padronizados de avaliação e medida,
relacionados mais adiante neste artigo.
Na formulação de casos infantis o terapeuta usa
como referencial o mesmo modelo dos adultos,
embora haja diferenças importantes na condução das
entrevistas, como entrevistar necessariamente adultos
significativos, e na escolha das técnicas diagnósticas,
como o uso de material lúdico. Detalhes podem ser
encontrados em bibliografia específica sobre
formulação de casos infantis (ver Rangé & Silvares,
2001; Reinecke, Dattilio & Freeman, 1999).
Segundo Wolpe e Turkat (1985), Beck (1997) e
Freeman (1998), o terapeuta deve procurar formas de,
durante as entrevistas iniciais, poder ir identificando
ou, pelo menos, levantando hipóteses sobre quais são
os problemas atuais, como se desenvolveram e como
são mantidos; que pensamentos e crenças
disfuncionais estão associados a estas situações e
quais são as reações emocionais, fisiológicas e
comportamentais relacionadas ao pensamento; que
experiências passadas contribuem para seu problema
atual; que regras ou suposições podem estar
subjacentes ao pensamento; que estratégias –
cognitivas, afetivas e comportamentais – têm sido
utilizadas para lidar com as crenças disfuncionais; e
que eventos estressores contribuíram para o
surgimento do problema ou inibiram o funcionamento
das estratégias adaptativas.
Beck (1997) sugere ainda uma forma resumida de
formulação, um diagrama de conceituação cognitiva,
onde o terapeuta pode organizar estas questões de
forma a reunir dados sobre as situações-problema
típicas vivenciadas pelo cliente, seus pensamentos
automáticos, emoções e comportamentos, além de
estratégias comportamentais, crenças intermédiárias,
crenças centrais e dados relevantes da infância que,
juntos, integram uma espécie de “mapa cognitivo da
psicopatologia do cliente”. Este diagrama é muito útil
na prática clínica por ser de fácil compreensão, não só
para o terapeuta como também para o cliente, além de
poder ser utilizado como instrumento didático para o
cliente entender melhor o modelo cognitivo e a
compreensão de suas dificuldades sob este ponto de
vista.
A partir dos registros de pensamentos automáticos
trazidos pelo cliente, discute-se a relação dos mesmos
com crenças de nível mais profundo, através de
perguntas sobre seus significados. Todos os dados
levantados durante as entrevistas serão aqui inter-
relacionados. Encontram-se no diagrama a seguir as
perguntas básicas que o terapeuta faz a si mesmo para
preenchê-lo.
Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo-comportamental
Interação em Psicologia, jan./jun. 2002, (6)1, p. 37-43
4
Diagrama de Conceituação Cognitiva
(Beck, 1997)
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