Uma experiência
No início de meu casamento com Adriana,
em maio de 1995, como não tínhamos filhos nós
resolvemos ter algum animal doméstico, e
decidimos que seria um cão e não um gato (isso
porque não confio em gatos), o que nos fez
acabar adquiririndo dois cães quase de uma só
vez. Eles eram totalmente diferentes em seus
estilos, tamanhos e formas. O primeiro a chegar a
nossa casa foi o Tyson, um poodle que
compramos por pura empolgação e encanto ao
visitar o canil e nos deparar com um lindo filhote
peludo e de cor caramelo. Tempos depois
ganhamos o Mike, um pastor belga, um animal
imponente, grande e negro, além do grande
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focinho molhado. Lembro-me como cuidávamos
deles. Dávamos o alimento, moradia, carinho e
banho. Mas o notável, eram as expectativas que
tínhamos em cada um deles.
O pequeno Tyson vivia solto dentro de casa
e dele não esperávamos mais do que seu
pequeno
rabo
operado
balançando
deficientemente
de
felicidade
quando
chegávamos, e logo que se aproximasse nos
debruçávamos para pegá-lo no colo, pois, tão
pequeno em sua forma e de pernas tão curtas
não poderia alcançar nossos braços nem mesmo
com seu maior salto. Mesmo que Tyson
conseguisse tal proeza, logo esperávamos para
pegá-lo no ar sem medo de sermos feridos, pois
seu tamanho somado ao peso e velocidade do
salto não nos ocasionaria um grande impacto.
Com o Mike as coisas não eram bem assim.
Sua forma e seu jeito nos impulsionava a tratá-lo
de forma diferente. Ele não ocupava o interior da
casa como o Tyson, mas o quintal. Solto também
não ficava, mas preso em uma corrente de aço
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confiável lá no canto da área de serviço onde
poucas vezes passávamos. À noite sempre o
soltávamos para que tivesse um pouco de
liberdade, exercitasse sua musculatura, e claro,
impusesse medo em alguém com intenções de
pular o muro. Assim como com o Tyson, nós
também brincávamos com ele, porém não com a
mesma
intensidade.
As
expectativas
na
brincadeira também eram totalmente diferentes
da de seu companheiro pequenino. Quando ele
vinha em nossa direção não tínhamos dúvida que
um salto seu poderia facilmente nos lançar ao
chão pelo grande impacto, e quem sabe,
sofrermos um arranhão ou até mesmo
experimentarmos alguns ossos quebrados.
Ao passar dos anos nos desfizemos dos
cães, mas além das brincadeiras e bons
momentos, guardo outra lembrança, a que o
grande Mike em seu tamanho e aparência temida
não nos deixou prejuízos físicos nem materiais, já
o pequeno Tyson enquanto esteve conosco
comeu os pés de todas as cadeiras da cozinha,
forro do sofá, e vários chinelos.
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Conto
essa
história
pessoal
para
exemplificar que assim como fui influenciado
pela forma e tamanho de cada cão, definindo
minha expectativa a respeito dos danos que
poderiam me causar, e moldando minhas ações
para com eles, assim podemos ser influenciados
pelas formas que os conflitos se apresentam.
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