cima e p/baixo em relação à linha do Equador.” (Mar), assumindo assim a
existência de uma vertical absoluta, em relação à qual o equador fica na horizontal
e separa o que está “em cima” do que está “embaixo”.
Outra evidência fortíssima de que, para várias professoras, a orientação
norte-sul define uma direção vertical privilegiada será examinada no item que
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Equívoco semelhante já observamos no caso dos planisférios, que parecem inspirar a crença de
que a Terra é exageradamente achatada nos pólos.
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discute as concepções sobre o eixo da Terra, e outras mais ainda serão
encontradas e apontadas no decorrer desta nossa exposição acerca das
concepções das professoras.
A noção de que os pólos acham-se alinhados na vertical parece-nos, assim,
estreitamente relacionada à idéia da existência de uma vertical absoluta, servindo
a primeira de fundamento à segunda: como vimos anteriormente, a vertical
absoluta, na concepção de várias professoras, é sempre paralela à direção do eixo
que passa pelo centro dos pólos, ou, de maneira equivalente, é sempre
perpendicular ao plano do equador (veja, p. exemplo, os desenhos mostrados à
fig. 28). Porque essa preferência em orientar essa vertical justamente na
perpendicular ao equador? Porque não orientá-la, por exemplo, paralelamente ao
equador, ou na direção da vertical da cidade em que vivem, imaginando S. Paulo
na “parte de cima”, “no topo” da Terra?…
Parece-nos que a explicação é óbvia: porque não é assim que a Terra
aparece invariavelmente representada nos livros e na mídia, mas sim com o pólo
norte no topo, o pólo sul embaixo e o equador na horizontal.
O outro fundamento, mais primitivo, da noção de vertical absoluta seria a
crença realista ingênua de que todas as coisas caem na mesma direção.
Parece-nos, portanto, que a noção da vertical absoluta, orientada sempre
perpendicularmente ao equador, é resultante da articulação desses dois
pressupostos: o primeiro de origem cultural: a padronização com que a Terra é
representada, sempre com o norte em cima e o sul embaixo; o segundo de origem
natural: a nossa própria percepção imediata do comportamento dos objetos à
nossa volta.
Outra característica dos pólos, na concepção de algumas professoras, que
é digna de nota, é a de que eles ficariam “distantes”, ou “afastados” do Sol
(enquanto que o equador ficaria próximo). Por esse motivo, como acaba
concluindo explicitamente uma das professoras, eles seriam regiões onde haveria
menor incidência de luz e calor (sendo, portanto, regiões frias). Este tipo de
concepção foi expresso por três professoras no item que perguntava se havia
alguma relação entre o eixo de rotação, os pólos e o equador da Terra, ao qual
elas responderam como no exemplo a seguir:
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“A relação que existe é quanto à intensidade do calor e conseqüentemente
da claridade da luz do Sol que incide sobre a Terra. A linha do Equador é a parte
em que fica mais exposta (perto do Sol) ao Sol, ao passo que os pólos (pela forma
arredondada da Terra) ficam mais distantes a incidência da luz e do calor.” (Mar)
Resumindo os resultados anteriormente apresentados, diríamos que as
concepções iniciais das professoras de nossa amostra sobre os pólos apresentam
as seguintes características:
- os pólos são concebidos como regiões extensas e não como pontos, por
onde passa o eixo de rotação;
- são imaginados como sendo regiões achatadas e frias, que constituiriam
os extremos norte e sul da Terra;
- são regiões frias por ficarem mais distantes do Sol que o equador,
recebendo assim pouca luz e calor;
- o pólo norte é sempre representado no topo da figura e o sul embaixo,
sendo isso considerado não uma mera convenção, mas uma realidade
inquestionável, absoluta, que serve de base à concepção da existência de uma
vertical também absoluta.
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