Figura 13: Modelo de universo construído por Rob (6 anos):
J: Japão; L: Lua; B: Brasil; S: Sol; Estrelas.
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Rob escolheu duas esferas ocas de isopor para representar o Brasil e o
Japão, uma esfera grande para representar o Sol, uma lua falcada para a Lua e
duas estrelas da forma tradicional, com pontas. Posicionou o Brasil um pouco
mais alto que o Japão, a Lua entre os dois, o Sol mais próximo do Brasil e as
duas estrelas tocando a superfície superior de cada uma das “Terras-países”,
como elas estivessem no céu “calota” de cada uma delas. Exceto pela posição
das duas estrelinhas, que ficam sobre as duas Terras, não é possível perceber
nenhuma estruturação em camadas neste modelo. Contudo ele é
extremamente coerente com o que Rob imagina: segundo contou durante a
entrevista, acredita que todos os astros, e mesmo as nuvens, saem e entram no
céu de cada uma das Terras no seu devido tempo: o Sol quando é para fazer
dia, a Lua e as estrelas a noite, as nuvens quando é para chover etc., num
universo com fortes traços animistas e que segue uma causalidade moral
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.
Como sabe que, quando no Brasil é dia, no Japão é noite, e vice-versa, Rob
imagina que a Lua, o Sol e as estrelas ficam constantemente viajando pelo
espaço entre as “Terras-países” para entrar no céu de cada uma no seu devido
tempo. Por isso representou a Lua entre as duas Terras-países e o Sol próximo
do Brasil.
Das quatro categorias de modelos aqui apresentadas, a última, como já
dissemos, nos parece extremamente particular e idiossincrática. Já as três
primeiras nos parecem gerais e, o que é mais interessante, parecem
representar uma seqüência lógica bem evidente. Esta seqüência vai desde um
extremo onde predomina a visão realista ingênua de que o universo estende-se
da Terra para cima
−
que meramente reproduz a visão realista ingênua que
temos do universo quando o contemplamos de nossa posição natural, do chão,
e vemos o céu sobre nossas cabeças
−
até uma visão mais conceitual, que
considera a Terra como um planeta entre outros que orbitam o Sol, no espaço,
rodeado de astros por todos os lados, embora ainda segundo uma concepção
de um universo predominantemente plano.
Como estágio intermediário temos a concepção em que o universo é
imaginado “em camadas”, parcialmente conceitual, com algumas categorias de
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Como é descrito por PIAGET (1926).
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astros no espaço circundando a Terra (sobretudo os planetas), aos quais ela já
se nivela, e parcialmente realista, com astros (principalmente as estrelas, e
também a Lua e o Sol) permanecendo sobre a Terra, no céu.
Com efeito, na tabela 3, a seguir, onde apresentamos a classificação de
das crianças e adolescentes de nossa amostra de acordo com as categorias de
modelos de universo que inferimos, é possível perceber que o primeiro modelo
é mais freqüente entre as crianças mais jovens, o terceiro entre pré-
adolescentes e adolescentes e, a segunda categoria, mais numerosa, parece
situar-se numa faixa intermediária, começando a ser apresentada a partir dos 7-
8 anos, estendendo-se até a adolescência.
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