3. Espaço continente: segundo esta concepção, que parece ser a mais
generalizada, o espaço é o meio onde ficam, ou que contém, todos os astros,
inclusive a Terra. Essa concepção parece corresponder aproximadamente à
noção da Física Clássica, de que vivemos num espaço tridimensional, absoluto,
homogêneo e isotrópico, no qual estão situados todos os corpos, inclusive os
astros, embora, entre as crianças, evidentemente, ela seja muito mais uma
noção intuída do que racionalizada. Fer (9 anos) é um bom exemplo:
Ele escolheu a Lua como destino para sua primeira “viagem” e vai fazê-la
com o foguetinho, partindo da Terra até chegar à Lua. Logo após ele ter
“decolado” da Terra a entrevistadora pergunta:
E: E entre a Lua e a Terra, que que tem?
FER: Entre a Lua e a Terra? Tem o espaço, o espaço que fica a Lua.
E: E a Terra onde fica?
FER: No espaço.
E: Também?
FER: No espaço.
E: As duas ficam no espaço?
FER: [Faz que sim com a cabeça.]
Mais adiante, após “viajar” do “planeta do anéis” ao “mais próximo do Sol”
(Fer não lembra o nome dos planetas), e falar sobre como ele imagina o planeta
a que chegou, espontaneamente diz: “e tudo aqui fora é o espaço…”, indicando
através de um gesto amplo que se refere ao espaço em volta do planeta e entre
os astros todos com que ele compôs o seu universo. Aqui, em verdade,
percebe-se um matiz interessante da concepção: o espaço é de fato o meio
onde estão inseridos os astros, mas é concebido, sobretudo, como sendo o que
fica nas “brechas”, no vazio entre os astros, ou melhor, como o próprio vazio
que fica entre os astros. Quando o foguete “entra” em um planeta (na
concepção de planeta oco de Fer, é isso que acontece), ele deixa o espaço e
vai para o planeta.
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