4. Céu “casca esférica”: nesta concepção o céu constituiria uma casca
esférica, com uma certa espessura, que envolveria completamente a Terra,
também esférica, acima de sua superfície, os astros se situariam além deste
céu, que confunde-se com a atmosfera da Terra. Nad (8 anos) e Lau (10 anos)
apresentaram esta concepção, indicando com a mão e com auxílio de algodão,
representando nuvens, que o céu seria uma camada que envolveria toda a
Terra.
5. Céu “espaço”: concepção na qual o céu se confunde com a própria
noção de espaço, que envolveria completamente a Terra e todos os demais
astros, onde todos eles estariam situados. Fla (11 anos) é um exemplo: após ter
indicado que ao lado de sua Terra esférica de isopor haveria céu, a
entrevistadora lhe pergunta se só haveria céu em volta da Terra ou também no
espaço entre os planetas. Fla responde que “tem céu em todos os lugares”,
fazendo um gesto largo, indicando todo o espaço em que ele montou o seu
modelo de universo.
Podemos perceber que as três primeiras noções de céu acham-se ainda
associadas a um ponto de vista topocêntrico e impregnadas pela tendência
realista de absolutização da direção vertical, enquanto as duas últimas já são
mais conceituais, descentradas, envolvem uma visão de como seria o céu visto
do espaço exterior, com a própria Terra sendo vista de fora, e não mais
implicam na existência de uma vertical absoluta.
É interessante observar que a evolução da concepção de céu, esboçada
na seqüência anterior, especialmente das três primeiras para as duas últimas,
que vai de um céu plano ou calota a um céu esférico, é, evidentemente,
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solidária da evolução da própria concepção de Terra e do chão onde vivemos: o
céu acompanha, como uma cobertura, como o reverso, a forma do chão. Por
exemplo: as crianças que imaginam o céu como uma calota também devem
imaginar o chão “habitado” não a volta toda, mas só sobre o interior do
hemisfério inferior, no caso do modelo da Terra oca, ou só sobre o topo da
Terra, no caso do modelo da Terra esférica.
Observamos também que, independentemente do modelo acerca da
forma e localização do céu, anteriormente apresentados, duas características
(realistas) que lhe são sempre atribuídas são: a sua cor, que sempre seria azul,
e a de que ele é o local onde aparecem o Sol, a Lua e as estrelas, mas não os
planetas. Como já discutimos anteriormente, os planetas geralmente são
associados apenas ao espaço, não ao céu, pois a respeito deles (e do espaço)
não temos concepções realistas ingênuas, apenas representações conceituais.
Algumas crianças (p. ex., Fer e Mare) generalizam a idéia que têm do céu
da Terra, de um céu localizado apenas sobre ou em volta de nosso planeta (céu
plano, calota ou casca esférica), para outros planetas. Nestes casos a
concepção de céu destes outros planetas é semelhante à que elas tem do céu
da Terra, porém a cor pode mudar.
Outra associação freqüente que percebemos é entre céu e atmosfera:
ambos seriam camadas que encobririam a Terra, sendo, por isso, associados
ou, simplesmente, considerados indistintos
19
.
Terminamos a descrição dos modelos de céu que inferimos a partir de
nossas entrevistas pela apresentação da noção de um “céu-espaço”, segundo a
qual a idéia de céu se confunde inteiramente com a de espaço, no qual
estariam imersos todo os astros. Porém esta não é a regra. De fato, a maioria
19
Como diz Piaget, para as crianças pequenas “a Astronomia não se distingue em nada da
meteorologia” PIAGET (1926, p.230).
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das crianças (as que apresentam a concepção de um céu localizado, sobre ou
em torno da Terra), parecem fazer uma distinção nítida entre céu e espaço,
marcada pela distinção de origem destes dois conceitos que frisamos no início
deste item: realista ingênua/sensorial, no caso do céu, conceitual/cultural no do
espaço. O céu ficaria localizado na, sobre ou em volta da Terra (dependendo do
modelo de céu), e é onde aparecem as nuvens, o Sol,a Lua e as estrelas; já o
espaço seria um outro lugar, abstrato, distante, para onde vão os foguetes e
astronautas e onde ficam os planetas.
Embora nossas entrevistas não incluíssem questões explícitas sobre o
espaço, ao longo das mesmas, sobretudo durante a etapa da “viagem”,
surgiram depoimentos espontâneos das crianças a respeito de como o
imaginavam, com base nos quais pudemos inferir três tipos de concepções:
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