parte do senso comum da população, ao menos no Brasil. A grande maioria das
pessoas desconhece por completo que planetas possam ser vistos a olho nu,
imaginando que só através do uso de aparelhos sofisticados (os telescópios) ou
de naves espaciais os cientistas conseguem observá-los e estudá-los. Muitos
adultos e crianças já viram e ouviram falar, por exemplo, da estrela d’alva,
porém pouquíssimos sabem que ela é o planeta Vênus. Todas as pessoas já
devem tê-lo visto, pois se destaca pelo brilho extraordinário, porém
simplesmente o confundem com uma estrela, como, aliás, o próprio nome
popular de estrela d’alva o indica. Com os demais planetas visíveis a olho nu
(Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno), acontece exatamente o mesmo
−
todos
são confundidos com estrelas.
Nas nossas entrevistas, obtínhamos dados sobre as representações de
planeta das crianças somente na quarta etapa da entrevista, durante a “viagem”
com o foguete de brinquedo, caso o(a) entrevistado(a) escolhesse algum deles
como destino de sua viagem. Neste ponto ocorreu a interessante estratificação
etária que acima mencionamos: todas as crianças abaixo de 8 anos não os
mencionaram, enquanto que todas acima desta idade o fizeram. Embora deva
ser ressalvado que nossa amostra era bastante pequena, julgamos que tal fato
tem como razão de fundo o que discutimos nos parágrafos anteriores: a
concepção de planeta é, desde o início, puramente conceitual.
Em reforço a essa interpretação há também o fato que já mencionamos
no item anterior: em contraste com o que geralmente ocorria com o Sol, a Lua e
as estrelas, que, quando achavam-se associados a uma visão realista ingênua,
eram preferencialmente afixados num nível superior ao da Terra e à cabeça das
crianças (no modelo tridimensional de universo por elas montado), os planetas
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geralmente ficavam situados aproximadamente no mesmo nível que a Terra e
na altura do rosto das crianças
−
indício de uma visão conceitual.
Os planetas mais lembrados foram Plutão, Saturno e Marte. Plutão
simplesmente por ser o mais distante de todos, Saturno por ser “o planeta dos
anéis” e Marte talvez pela sua grande popularidade, na ficção e na mídia. Todos
os conceberam como corpos esféricos, sendo Saturno o único com uma forma
um pouco diferente por possuir anéis. Alguns os imaginaram menores que a
Terra ou mesmo a Lua, mas a maioria simplesmente generaliza para os
planetas um modelo semelhante ao adotado para a Terra. Fer, por exemplo,
que possui a concepção de uma Terra oca, imagina que os demais planetas
também sejam ocos: a calota superior de cada um deles formaria o céu do
planeta e a inferior seria sólida, nela podendo aterrissar o foguete. Lau, por sua
vez, que apresenta o modelo da Terra esférica, imagina Vênus semelhante à
Terra, também esférico e do mesmo tamanho que ela, só mais quente.
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