FER: Aí tem, igual a essa daqui. [Referindo-se àquela em que ele havia
dito que havia água e terra.]
E: Igual a essa aqui?
Fer faz que sim com a cabeça, mas logo em seguida muda de idéia:
FER: Não, não! [Fer se dá conta que a outra calota deveria ir por cima da
anterior. Levanta-a como quem vai encobrir a debaixo]. Porque essa daqui ó…
[passa a mão no interior da cavidade da nova calota] vai existir o céu, aqui…
Interessante notar que Fer generaliza este modelo, da Terra oca, para
todos os demais planetas que ele representa. Quando, por exemplo, na quarta
etapa da entrevista, a entrevistadora pede a ele que faça a viagem do planeta
que tem anéis (que ele acha que é Marte) para o planeta “mais perto do Sol”
(que ele não lembra o nome) com o foguetinho de brinquedo, Fer diz que ele
“entra dentro” do planeta:
FER: Tô nesse daqui, né? [Coloca o foguete sobre o hemisfério superior
do planeta com anéis e o move na direção do planeta “mais perto do Sol”. Ao
chegar no destino toca com a ponta do foguete num ponto da calota superior do
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planeta “mais perto do Sol” e diz:] Aí ele entra aqui dentro. [Faz gestos com as
mãos de quem está querendo abrir as calotas do planeta, para entrar lá dentro.]
E: Tem alguma coisa lá? [A entrevistadora percebe que ele está
querendo abrir o planeta e o ajuda a fazer isso. Assim que ela abre, Fer joga o
foguetinho dentro da calota de baixo e diz:]
FER: Aí entrei…
E: E na parte de cima o que que tem?
FER: É o céu!…
E: É o céu? Hum…, legal…
FER: E tudo aqui fora é o espaço [Fer faz um gesto largo de quem se
refere ao espaço em volta do planeta e entre os planetas todos que ele montou]
Uma variante interessante desta concepção é apresentada por Rob (6
anos), que utiliza uma noção de Terra oca, não para a Terra inteira, mas para
cada país!… Começa aplicando-a para o Brasil, depois o Japão e, a seguir,
para outras nações (Itália e França), como se cada país fosse uma “Terra”
diferente, independente, cada uma delas com as características de uma Terra
oca, conforme acima descrevemos: uma Terra que tem a forma esférica mas na
qual as pessoas não vivem na superfície, mas no interior, que se divide em
duas calotas, na superior ficando o céu e, na inferior, a terra e os oceanos.
Denominamos assim, a esta concepção de Rob, como sendo a de uma “Terra-
país” oca. Rob demonstra utilizar esta concepção em várias passagens de sua
entrevista:
Quando, na terceira etapa, lhe é pedido que escolha, dentre os objetos
de isopor da estante, o que ele acha mais parecido com a Terra, Rob parece
não entender e pergunta:
ROB: Como assim com a Terra? Ou com… um estado, é assim: Brasil?
E: Não, é Terra.
ROB: Terra, terra, dentro do Brasil?
E: Não sei, quero a Terra, o que você acha mais parecido assim, com a
forma…
Após demorar bastante tempo olhando os objetos da estante, Rob
apanha uma bola com um anel plano de papel em volta (usada para representar
Saturno) e diz:
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