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AS REPRESENTAÇÕES DO MODELO DAS CLASSES SECUNDÁRIAS
EXPERIMENTAIS NA IMPRENSA PAULISTA (1956-1963)
Sara Lara de Araujo Cavenaghi
1
, Norberto Dallabrida
2
, Tânia Regina da Rocha Unglaub
3
1
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Pedagogia FAED/UDESC – bolsista PIBIC/CNPq
2
Orientador, Departamento de Ciências Humanas - FAED/UDESC– norbertodallabrida@hotmail.com
3
Orientadora, Departamento de Pedagogia a Distância - CEAD/UDESC-
taniaunglaub@gmail.com
Palavras-chave: Classes experimentais. Ensino secundário. Educação.
A presente comunicação cientifica apresenta resultados de uma pesquisa historiográfica
em andamento que estuda a implantação das Classes Secundárias Experimentais nas escolas
públicas do estado de São Paulo. O estudo busca compreender as manifestações da imprensa a
respeito das referidas Classes Secundárias em matérias publicadas em jornais com circulação nos
âmbitos nacional e regional, tendo como recorte temporal o período de 1956–1963. Considera-se
que esta análise pode lançar luz na atual discussão e tentativas de se implantar um modelo de
ensino médio inovador voltado para a formação dos jovens pela experiência e para a cidadania.
O trabalho foi dividido em três etapas. Na primeira, buscou tecer e compreender a
contextualização histórica do ensino secundário brasileiro. Também foram apresentadas
características do modelo pedagógico das Classes Nouvelles, da École de Sèvres, da França. Esse
modelo foi apropriado e transformado na experiência pioneira no Brasil das Classes Secundárias
Experimentais, pelo professor Luis Contier e, posteriormente, regulamentado pelo Ministério da
Educação. Na segunda etapa, foi trabalhada a análise do corpus documental fundamentada no
conceito de representação proposto por Roger Chartier (CHARTIER, 1988). O autor explicita
como se dão os processos de percepção do mundo e de seus diferentes fenômenos sociais,
considerando que ocorrem na forma de “esquemas intelectuais” organizados por classificações,
divisões e delimitações individuais ou coletivas e que influenciam diretamente o modo como se
interpreta a realidade, buscando “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma
determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler" (Chartier, 1990).
O método descritivo balizou os procedimentos metodológicos de coleta de informações e
análise. A partir de seis categorias pré-estabelecidas, foram analisadas doze matérias dos jornais
de circulação nacional Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, publicadas no período de
1956-1963. Esses periódicos fazem parte do acervo do Centro de Memória da Educação da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – USP. A análise busca verificar como a
imprensa paulista representou as CSE à população à época.Considerando que as matérias foram
publicadas nos dois jornais de maior abrangência regional e nacional e, apesar de ser apenas um
recorte temporal, observa-se que houve intenso interesse daqueles veículos de comunicação em
divulgar o novo modelo.
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Para políticos e intelectuais da época, a reconstrução nacional no regime democrático, só
poderia acontecer através pela educação. Principalmente, uma educação pública de qualidade
para atender ao grande número de analfabetos, evitar o alto índice de evasão escolar e,
principalmente, formar cidadãos capazes de cooperar com a nova ordem social.
Entretanto, no desenvolvimento da pesquisa, apresentou-se um paradoxo que possibilitou
as seguintes inquietações e reflexões: Se a maioria das matérias refletem franca reprovação ao
modelo tradicional de ensino e a maioria delas se posicionaram favoráveis ao modelo CSE,
porque as Classes Secundárias Experimentais não vingaram? Se o Ministério da Educação,
Governo Estadual e a Secretaria de Educação, aprovaram e regulamentaram as CSE, porque não
houve a continuidade do modelo?
Ao comparar a realidade das CSE apresentadas nas matérias com o atual contexto da
educação brasileira, pode-se considerar que há algumas repetições dos acontecimentos. Essas
reincidências tornam-se mais claras, se fizermos um paralelo com a edição da Lei 13.415, de
16/02/2017, na qual o governo federal pretende implantar sensíveis alterações na educação, com
destaque para o ensino médio, estabelecendo parâmetros muito similares às CSE. Também é
possível observar certa recorrência em relação aos mesmos entraves enfrentados na implantação
das CSE: estruturas física, financeira e pedagógica das escolas não adaptadas e/ou preparadas
para as mudanças; professores com pouco ou nenhum treinamento específico; falta de critérios e
verbas específicas para tal. Resta a expectativa de que ao contrário do ocorrido com as CSE, a
tentativa atual tenha sucesso e permaneça por tempo suficiente para trazer os resultados tão
esperados há mais de cinquenta anos.
Referências:
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1990
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Trad. Maria Manuela
Galhardo. Lisboa: Difusão Editorial, 1988. 244 p.