Catarina Fernandes Barreira, “O Mosteiro de Santa Maria da Vitória e a vocação moralizante das
de Nova de Lisboa, 2014, p. 185-210.
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Desta forma, Catarina Barreira propõe que o projecto e a abertura dos
caboucos sejam datados de meados de 1437, tendo em conta o documento
desse ano que refere a aquisição de terreno para a construção do edifício. O
octógono seria ocupado pelo casal régio – D. Duarte e sua mulher -, ao passo
que as sete capelas albergariam os respectivos sete filhos, ficando excluído
o primogénito, futuro D. Afonso V. Em 1438, “uma pequena parte das pare-
des já estaria levantada”, tendo o octógono sido “erigido no prolongamento
do eixo longitudinal da igreja, o que nos leva a crer que estaria previsto, des-
de a aquisição do dito chão fronteiro à capela-mor da igreja, a sua ligação à
cabeceira da mesma”
10
.
À morte de Huguet e durante a regência de D. Pedro, a obra terá prosse-
guido sem interrupções sob a direcção de Martim Vasques, até ao próprio
falecimento deste, dez anos mais tarde, a que se segue o conflito de
Alfarrobeira, com consequências na mobilização e ulterior penalização de
vários efectivos do estaleiro, não certamente sem consequências de impasse.
Entre Agosto de 1449 e 1451, D. Afonso V visita o Mosteiro da Batalha por
várias vezes e concede cartas de perdão a diversos oficiais das suas obras,
cabendo a direcção das mesmas a Fernão de Évora, desde a morte de seu
tio Martim Vasques. Durante a direcção deste mestre, que termina em 1477,
ter-se-iam levantado as paredes até à altura das abóbadas das capelas radi-
antes, permanecendo por construir a abóbada do átrio e a ligação à igreja. No
seu testamento, o rei refere-se ao panteão como lugar definitivo de sepultura
e ao capítulo como lugar provisório. Conforme tinham já admitido outros auto-
res, o reinado de D. João II não terá conhecido obra de pedraria, o que se
viria a reflectir num primeiro grande impasse na edificação do panteão. Aliás,
desde 1477 até 1490, o estaleiro foi conduzido por mestres vidreiros, período
em que terá sido dada prioridade à produção e colocação de vitrais nos edifí-
cios já maioritariamente concluídos.
Catarina Barreira faz ainda notar que à subida ao trono de D. Manuel, em
1495, corresponde, na documentação e até 1499, um incremento considerável
da obra com a confirmação dos privilégios dos respectivos oficiais. A autora
nega uma cronologia anterior àquela data para a capela cujas chaves de abó-
bada exibem a heráldica de D. João II e sua mulher, argumentando com o de-
sinteresse patente no testamento deste monarca em relação a um lugar especí-
fico de sepultura, bem como com o tempo que D. Manuel levou a efectivar a
10
Idem, p. 188.
As Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha
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trasladação dos seus restos mortais. É proposta, por fim, uma reprogramação
dos lugares de sepultura, passando a caber a D. Manuel o lugar central e sendo
D. Duarte deslocado para a capela diametralmente oposta ao portal, conforme
provam as suas armas nos fechos da abóbada correspondente.
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