3
.
Estado da questão
O contributo mais significativo para o estudo formal e construtivo das
Capelas Imperfeitas, até ao momento, encontra-se na dissertação de
doutoramento de Ralf Gottschlich relativa ao Mosteiro da Batalha, apresenta-
da em 2000 à Universidade Técnica de Dresden e publicada, com alguns
complementos importantes, em 2012
4
. Aí se descreve a fortuna crítica do
edifício quanto à data do projecto e ao início da construção (definitivamente,
a partir de 1437), analisa-se e discute-se a sequência construtiva do mesmo,
incluindo o átrio de ligação à igreja, com base na análise detalhada da
arquitectura.
Lembrando que foi Walter Crum Watson quem primeiramente defendeu,
em 1908, dever a ligação à igreja vir a fazer-se através da demolição das
absides das colaterais adjacentes à capela-mor, Gottschlich defende com
vários argumentos que o átrio correspondente estava projectado desde iní-
cio, a saber: a ligação sem emendas das paredes norte e sul às capelas
radiantes, as bases e feixes dos pilares e as bases das edículas (fig. 1). Acres-
centa que a ligação através das capelas colaterais podia ser reforçada por
portais idênticos ao que, na igreja, dá acesso à Capela do Fundador e que
certamente terá sido um portal deste tipo que existiu no lugar daquele que
depois Mates Fernandes construiu. Simultaneamente demonstra, pela mu-
dança de feixes de pilar contínuos para feixes entrelaçados – a menor altura
nos muros norte e sul do que na fachada do grande portal –, que este terá
sido concluído no âmbito do primeiro projecto, a atribuir a Huguet pela
modinatura dos elementos arquitectónicos. Relativamente às edículas dos
muros norte e sul, acrescenta que “os capitéis e as arquivoltas são, ao invés,
3
Privilegiaremos aqui as obras anteriores a D. João III, uma vez que destas nos ocupámos já no
artigo referido na nota anterior, p. 307-312. Quanto à época manuelina, daremos a dianteira a assun-
tos relacionados com a construção mais do que com a iconografia.
4
Ralf Gottschlich, Das Kloster Santa Maria da Vitória in Batalha und seine Stellung in der iberischen
Sakralarchitektur des Mittelalters, Hildesheim/Zurique/Nova Iorque, Olms Verlag, 2012, p. 243-285.
Esta obra foi já objecto de duas recensões críticas em Portugal, respectivamente por Virgolino Jorge,
na revista Medievalista Online, n.º 15 (Janeiro-Junho 2014), e por Peter Kurmann, na revista Lusitania
Sacra, 2ª série, t. XXIX, (Janeiro-Junho 2014), p. 258-263.
303
Cadernos de Estudos Leirienses – 5 *
Setembro 2015
elementos da segunda fase”
5
(isto é, de Mateus Fernandes). No que se refere
ao conjunto das capelas radiantes, considera que, na época de Huguet e do
seu seguidor Martim Vasques, o edifício estaria acabado provavelmente ape-
nas até à altura das estruturas em forma de cunha que medeiam entre as
mesmas e que esta fase de construção teria durado cerca de dois anos. Pos-
tula, por fim, que a abóbada do octógono deveria arrancar pouco acima dos
arcos das capelas radiantes e assemelhar-se a sistemas de cobertura como
o da sala do capítulo.
No que diz respeito ao impacto da vontade régia na prossecução e no
ritmo da construção, bem como às mudanças que a programação arqui-
tectónica das Capelas Imperfeitas sofreu, o estudo de Gottschlich enferma do
conhecimento deficiente da documentação escrita, chegando a apoiar-se no
Compartilhe com seus amigos: |