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Ano 2 – Nº 5 – Março/Abril de 2013
Apadrinhamento em A.A. (I)
A Sétima Tradição e Propriedades
“Parece-me que, através de Bill e do
Dr. Bob, Deus disse para todos nós:
’Há muitas tarefas em muitos campos e
escolho meus trabalhadores de acordo
com seus talentos’.”
Anne O’C, da Austrália, na VI Reunião
Mundial de Serviço – Junho de 1980 –
Nova Iorque = EUA.
Por possuir uma característica totalmente
diferente das demais instituições, Alcoólicos
Anônimos procura simplificar ao máximo a
admissão de um novo membro, colocando
apenas um requisito para o recém-chegado:
“... o desejo de parar de beber.”
Entretanto, a proposta de A.A. é mui-
to mais ampla do que o fato de não beber.
Depois que o novo membro descobre que é
possível passar as primeiras vinte e quatro ho-
ras sem beber, o desfile das histórias dos mais
antigos faz descortinar-lhe a possibilidade de
recuperação de todos os valores perdidos du-
rante o alcoolismo ativo. O companheiro no-
vato visualiza a chance de reaver a confiança
da família, do empregador, da sociedade,
enfim, da sua reintegração à sociedade, com
tudo que lhe é de direito.
Mas os primeiros passos nessa nova es-
trada requerem orientação. E essa orientação
virá de várias formas, por meio dos depoi-
mentos e das histórias narradas pelos mem-
bros já integrados ao movimento.
Embora haja uma preocupação de cada
membro em orientar, convém que seja in-
formado ao recém-chegado que ele deverá
observar, entre todos, aquele membro com
quem ele mais se identifique, ou que ele su-
ponha que haja mais afinidade, para, com
segurança, falar das suas angústias, discutir
as suas necessidades, os seus problemas e
dirimir as suas dúvidas.
Em A.A., a essa pessoa – homem ou mu-
lher – é dado o nome de padrinho/madrinha.
Geralmente uma pessoa com sobriedade
razoavelmente consistente. O padrinho/ma-
drinha orienta o recém-chegado, passando-
lhe a sua experiência de vida durante os seus
primeiros dias e de como está atingindo pa-
tamares mais satisfatórios no amplo universo
da recuperação.
Cada membro de A.A. é um padrinho em
potencial de um novo membro e deveria re-
conhecer claramente as obrigações e deveres
de uma tal responsabilidade. A aceitação da
oportunidade de levar o plano de A.A. para
aquele que sofre no alcoolismo compreende
responsabilidades muito reais e criticamente
importantes. Cada membro, ao praticar o
apadrinhamento de um alcoólico, deve lem-
brar que está oferecendo o que é, frequente-
mente, a última chance de reabilitação, de
sanidade, ou mesmo, de vida.
Nenhum membro é suficientemente sábio
para desenvolver um programa de apadri-
nhamento que possa ser aplicado, com su-
cesso, a todos os casos. Somente o fato de
não beber não credencia a quem quer que
seja a orientar o novato sobre o que é Alcoó-
licos Anônimos e como o indivíduo deverá se
comportar na busca de uma vida melhor. A
recuperação integral requer mudanças de ati-
tude, de comportamento e de ações que pos-
sam permitir que o indivíduo se transforme.
Ao longo da caminhada em A.A., seja por
meio da leitura das nossas publicações, seja
pela participação em todos os níveis dos Três
Legados, ou ainda pela observância e avalia-
ção dos fatos ocorridos, cada um descobre
a sua vocação e a própria maneira de ten-
tar canalizar sobriedade àqueles que a estão
buscando.
Se um membro, já integrado, se lembrar
das suas dúvidas, dos seus medos, da sua
insegurança quando da chegada em A.A.,
certamente irá se preocupar em facilitar o ca-
minho daquela, quase sempre, frágil e caren-
te criatura que hoje tenta mudar a sua vida.
Descobrirá que um bom padrinho deverá se
preparar para ser um bom orientador.
Ao realizarmos pesquisa, para escrever
sobre o tema proposto, encontramos no BOB
(Boletim publicado pela JUNAAB) número 45,
de novembro de 1987, o editorial com o tema:
“A 7ª Tradição ou Pintando o 7”. Diz o texto:
“
A auto-suficiência de que fala nossa 7ª
Tradição não pode se interpretada ao gosto de
cada um. Ser auto-suficiente, na linguagem de
A.A., quer dizer só uma coisa: auto-sustentar-se.
E não adianta tentar driblar este significado com
jogos de palavras ou manipulação de conceitos.
Alguns grupos, por exemplo, alegam que
ter prédio próprio é ser “auto-suficiente”. Mas
se esquecem que, para tê-lo, precisam antes
ganhar um terreno, ou seja: receber doação de
fora. Outros procuram racionalizar, dizendo que
a sede própria é necessária porque a locação de
uma sala fica pela hora da morte. Mas como é
que um grupo que não tem dinheiro nem para
pagar um aluguel poderá arranjar por si próprio
recursos para construir? Além do mais, os gru-
pos de A.A. não devem ter personalidade jurídi-
ca e, por conseguinte, não podem estar habilita-
dos para registrar a propriedade. E, colocando a
questão sem perfumarias, receber dinheiro para
compra de imóvel, receber material para cons-
truir ou receber imóvel ou terreno para doação
é tudo a mesma coisa. Infelizmente, já existem
alguns casos, e é incrível como o mau exemplo
se alastra rapidamente.”
Não acreditamos que o mau exemplo tenha
se alastrado, muito pelo contrário, temos visto
de1987 para cá surgirem muitos Grupos autos-
suficientes, dando a cada um de nós, os irres-
ponsáveis de ontem, a oportunidade de sermos
responsáveis hoje pela irmandade que tem nos
salvo as vidas. Mas, se não alastrou, em alguns
casos se perpetuou. Com tristeza e preocupação
verificamos que bons membros da Irmandade,
bem intencionados, acabam violando princípios
tão valiosos para a sobrevivência de A.A. Acre-
ditamos que ninguém que conheça os princípios
da Irmandade, que lhe salvou, queira de sã
consciência desrespeitá-los.
Portanto, se seu grupo está em situação de
não conformidade com os princípios estabe-
lecidos pelas Tradições, entre em contato co-
nosco. Juntos, procuraremos o caminho para
garantir a Unidade da Irmandade. Todos nós
remamos no mesmo barco, na mesma direção,
e o que precisamos é acertar nossas remadas.
Nunca saberemos o que vem após as curvas
dos rios e, assim pensando, é de extrema sen-
satez que preservemos a Unidade de Alcoólicos
Anônimos, unificando as remadas na mesma
direção.