já existisse nessa esfera superior, antes de Beethoven sentar-se e tocá-la.
O truque é o seguinte: a obra existia apenas em potencial— sem corpo,
por assim dizer. Ainda não era música. Não podia ser tocada. Não podia ser
ouvida.
Era preciso alguém. Era preciso um ser corpóreo,
um ser humano, um
artista (ou mais precisamente um
gênio, no sentido latino de "espírito
inspirador") para dar vida à obra neste plano material. Assim, a Musa
sussurrou no ouvido de Beethoven. Talvez ela tenha cantarolado alguns
trechos em milhões de outros ouvidos. Porém, ninguém mais a ouviu.
Somente Beethoven.
Ele a compôs. Fez da Quinta Sinfonia uma "criação do tempo", pela qual
a "eternidade" podia "apaixonar-se".
Assim,
a eternidade, quer seja concebida como Deus, consciência pura,
inteligência infinita, espírito onisciente, ou, se preferirmos,
como seres,
deuses, espíritos, avatares — quando "ela" ou "eles", de algum modo, ouvem
os sons da música terrena, alegram-se.
O Em outras palavras, Blake concorda com os gregos. Os deuses existem.
Eles realmente penetram em nossa esfera terrena.
O que nos leva de volta à Musa. A Musa, lembre-se, é filha de Zeus, Pai
de todos os Deuses, e da Memória, ou Mnemosine. É um pedigree muito
impressionante. Eu aceito essas credenciais.
Acredito plenamente em Xenofonte; antes
de sentar-me para trabalhar,
tiro um minuto para prestar homenagem a essa Força oculta que pode me
ajudar ou destruir.