RESISTÊNCIA E RACIONALIZAÇÃO
PARTE DOIS
Resistência é medo. Mas a Resistência é astuta demais para mostrar-se
desta forma sem disfarces. Por quê? Porque se a Resistência
nos deixa ver
claramente que nosso próprio medo está nos impedindo de realizar nosso
trabalho, podemos nos sentir envergonhados. E a vergonha pode nos levar a
agir diante do medo.
A Resistência não quer que façamos isso. Assim,
ela apresenta a
Racionalização. Racionalização é, para a Resistência, aquele assessor que
cuida da boa imagem do chefe. É a maneira usada pela Resistência para
esconder o porrete da coerção às suas costas. Ao invés de nos mostrar nosso
medo (que pode nos envergonhar e nos impelir a realizar nossa obra), a
Resistência nos apresenta uma série de justificativas plausíveis,
racionais,
para não fazermos nosso trabalho.
O que é particularmente insidioso a respeito das racionalizações que a
Resistência nos apresenta é que muitas delas são verdadeiras. São legítimas.
Nossa mulher pode realmente estar no oitavo mês de gravidez;
pode estar
realmente precisando de nossa presença em casa. Nosso departamento pode
realmente estar implantando uma reforma que consumirá
horas de nosso
tempo. De fato, pode fazer sentido adiar o término de nossa dissertação, ao
menos até o bebê nascer. O que a Resistência omite, é claro, é que tudo isso
não significa nada. Tolstoy tinha treze filhos e escreveu
Guerra e paz. Lance
Armstrong teve câncer e já venceu o Tour de France quatro vazes.