Uma identidade epistemológica bipartite
É difícil definir a concepção de história que comanda o Study. Por ser uma obra construída ao longo de duas décadas, em
meio à crise europeia gerada pelas guerras mundiais, dos primeiros volumes publicados em 1933 aos últimos, de 1961,
percebe-se uma oscilação entre uma identidade nomológica e empirista e outra, teológica e moralista.
Muito embora ao final do século XIX seja perceptível na historiografia inglesa uma aproximação com o pensamento
alemão, especialmente com as obras de Bradley, a maior influência está associada às filosofias de Hume, Spencer e Stuart
Mill. Assim, se por um lado temos a figura de Thomas Carlyle, por exemplo, que propunha uma “mistura peculiar entre o
histórico e o literário, o biográfico e o heroico, o figural e o literal, o histórico e o mítico” para o estudo do passado
[578]
, por
outro, Thomas Buckle apresenta uma concepção de história muito influenciada por Stuart Mill, que entendia o trabalho do
historiador como voltado para a “descoberta, por investigação indutiva, de uniformidades causais a determinar a vida e a
evolução sociais”
[579]
. Nesse período de profissionalização do ofício de historiador, também na Inglaterra, as revistas
especializadas demonstravam tendências semelhantes. A mais prestigiosa revista de filosofia da Inglaterra, a Mind Review,
criada em 1876, tinha sua identidade fortemente associada ao empirismo, muito embora apresente um curto período de deriva
idealista, a partir do final do século XIX. No campo historiográfico, a English Historical Review, que se tornou o principal
centro de debate historiográfico do final do século XIX e início do XX, apresentava artigos fortemente associados à história
política nacional e ao culto documental
[580]
.
Nos primeiros volumes do Study a influência do empirismo se manifesta na ênfase factual e descritiva dos acontecimentos
históricos considerados por Toynbee como a “essência” de uma cultura. Toynbee descreve seu método como construído pela
reunião de “fios (para) depois formar nossa linha”
[581]
. Além disso, seu método propõe “ordenar os fatos concretos
importantes da história”
[582]
. Essa ênfase, entretanto, é abandonada com a evolução da obra. Como lembrou Kosminsky, “o
elemento religioso, teológico, adquire maior peso à medida que a sua enorme obra se aproxima do fim e que se desenvolvem
as experiências religiosas pessoais do autor”
[583]
.
Compartilhe com seus amigos: |