INTRODUÇÃO
A identificação de um povo se dá especificamente por sua linguagem e sua alimentação. O ato de se alimentar perpassa as atividades biológicas
e nutricionais, envolvendo manifestações, representações, tradições, históricas e técnicas, caracterizando a formação da coletividade (Beluzzo, 2004). Montanari afirma que como a língua falada, o sistema alimentar contém e transporta a cultura de quem o pratica pois guarda as tradições e identidades de um grupo, sendo veículo de auto representação (1).
Historicamente o comércio informal é o principal disseminador da cultura popular e incentivador da interação entre os membros da cidade e da comercialização de comida nas ruas (Leal et al, 2014). No Brasil o comércio informal é uma das práticas mais antigas que representa diretamente o ingresso econômico de famílias de baixa renda na economia do país, tendo como principal produto de comercialização a comida (Santos, 2015). A venda informal de alimentos, ou Comida de Rua, é definida por um conjunto de alimentos e bebidas que são produzidos ou comercializados por ambulantes em locais de acesso ao público (Pertile, 2013)
Em Salvador, especificamente, a venda informal de alimentos se iniciou pelas ganhadeiras - mulheres negras, solteiras e libertas - que comercializavam iguarias africanas. Esta atividade foi se estendendo para os alimentos de outras culturas como forma de renda para os demais imigrantes (Santos, 2012). Criando uma relação direta com a população, considerando-se uma forma de manifestação e representatividade cultural, exprimindo aspectos humanos, sociais e econômicos que ocupavam a cidade e o cotidiano da população (Graham, 2013).
Segundo Marcelo e Brígida “A comida de rua soteropolitana está nas esquinas, calçadas, praças e largos. Povoa a memória, estabelece encontros, resiste aos esforços de ordem, controle e padronização que se apresentam sobre a cidade. Ela está nos carrinhos, tabuleiros, bicicletas, bancas e cestos. Em pontos fixos dos bairros onde pode ser encontrada cotidianamente, ou com vendedores ambulantes que tangenciam o caminho dos passantes. Tem comida de rua pra qualquer hora do dia. (...) A diversidade é enorme. As delícias são muitas. Um universo inteiro a ser experimentado (2).
Por sua vez, a comida de rua de Salvador, possui expressões culturais desde a forma de preparo à origem de seus nomes que traz palavras em tupi-guarani, ioruba, árabe, latim, e outros, que junto ao português refletem a mescla de cultura que é a cidade. Comumente preparada de forma artesanal e em pequena escala as guloseimas ressaltam a valorização cultural que povoa a memória dos moradores da cidade (PORO, 2014).
Poucas são as literaturas que abordam sobre a comida de rua na cidade de Salvador em seu contexto contemporâneo. Visando contextualizar sobre a alimentação urbana, este trabalho tem como objetivo discutir as significações, memórias e identidades da comida de rua através do seu consumo e comércio.