A consciência fonológica e sua
relação com o processo de com-
preensão do Sistema de Escrita
Alfabética e de sua consolidação
Tanto para o processo de apropriação do
SEA como para a consolidação do conheci-
mento das correspondências som-grafia,
o desenvolvimento de habilidades de
reflexão fonológica (consciência fonológi-
ca) é importante. O que é, então, consci-
ência fonológica? A consciência fonológica
consiste na capacidade de refletir cons-
cientemente sobre as unidades sonoras
das palavras e de manipulá-las de modo
intencional (GOMBERT, 1990; FREITAS,
2004; MORAIS, 2006).
Essa capacidade não é constituída por
uma única habilidade, que a criança
teria ou não, mas por um conjunto de
habilidades distintas, que se desenvol-
veriam em momentos diferentes (GOU-
GH; LARSON; YOPP, 1995). Dentre as
diversas capacidades de reflexão fonoló-
gica, destacamos, por exemplo, a iden-
tificação e a produção de rimas ou de
aliterações; a contagem de sílabas orais
de palavras; a segmentação de palavras
unidade 03
10
em sílabas; e a comparação de palavras
quanto ao número de sílabas.
Tal como observaram Freitas (2004) e
Morais (2006), trata-se, portanto, de
habilidades distintas (como identificar,
produzir, contar, segmentar, adicio-
nar, subtrair), com diferentes níveis de
complexidade, e que envolvem, também,
distintas unidades linguísticas (como
sílabas, fonemas e unidades maiores que
um fonema, mas menores que uma síla-
ba). É preciso esclarecer, portanto, que
“consciência fonológica” não é sinônimo
de “consciência fonêmica” ou de “método
fônico”, uma vez que o que consideramos
como “consciência fonológica” é mais
abrangente que a consciência fonêmica,
envolvendo não apenas a capacidade
de analisar e manipular fonemas, mas
também, e sobretudo, unidades sonoras
como sílabas e rimas.
Como as distintas habilidades de reflexão
fonológica não se desenvolvem simulta-
neamente, consideramos que a consci-
ência fonêmica é mais uma consequência
que um requisito para a apropriação do
SEA. Por outro lado, a consciência de
unidades silábicas ou de rimas envolve
habilidades menos complexas que as
fonêmicas e, portanto, se desenvolvem
mais cedo que essas últimas (FREITAS,
2004; MORAIS, 2006).
Apesar das evidências atualmente dispo-
níveis de que a capacidade de segmentar
palavras em fonemas, pronunciando-os
um a um em voz alta, não é condição neces-
sária ou requisito para a aprendizagem
da leitura e da escrita (MORAIS, 2004;
2006), os defensores dos métodos fônicos
acreditam na necessidade de que os apren-
dizes desenvolvam aquela habilidade, que
é extremamente abstrata mesmo para
quem já está alfabetizado.
Para compreender que a escrita representa
(nota) os segmentos sonoros das palavras
e não os significados a elas relacionados, o
O
método fônico
é um método
tradicional de alfabetização
que toma como ponto de partida
o fonema, que, combinado a
outros fonemas, por meio de um
processo de síntese, constitui
sílabas e palavras.
unidade 03
11
desenvolvimento de habilidades de refle-
xão fonológica é essencial. Em outras pala-
vras, para ingressar no que Ferreiro (1995)
denominou de “período de fonetização da
escrita”, que se inicia no nível silábico e
culmina no alfabético, a criança precisará,
necessariamente, desenvolver capacida-
des de reflexão fonológica, estabelecendo
relações entre a escrita e a pauta sonora,
por meio, por exemplo, da segmentação de
palavras orais em sílabas e da comparação
de palavras quanto ao tamanho e às suas
semelhanças sonoras.
Consideramos, todavia, assim como Mo-
rais (2006; 2012), que o desenvolvimento
da consciência fonológica constitui con-
dição necessária, mas não suficiente para
a apropriação do SEA. Para compreender
o funcionamento da escrita alfabética, é
necessário não apenas analisar as “par-
tes sonoras” que constituem as palavras,
mas também desenvolver uma série de
operações lógicas como a relação entre
a totalidade e as partes constitutivas e a
correspondência termo a termo (FERREI-
RO, 1990).
Mesmo para os alunos que já compreen-
deram que a escrita registra os segmentos
sonoros das palavras, as habilidades de
reflexão fonológica são importantes, pois
podem colaborar para a sistematização
das diferentes relações som-grafia de
nossa língua, por meio, por exemplo, da
comparação de palavras quanto às suas
semelhanças sonoras e gráficas em relação
ao fonema/grafema inicial. Ao praticar a
substituição de letras em palavras para
composição de outras palavras e ao pro-
duzir palavras com o mesmo fonema ou a
mesma letra inicial, por exemplo, a criança
amplia a reflexão sobre as relações entre
partes orais e partes escritas das palavras.
Compartilhe com seus amigos: |